O que fala o livro Vidas Secas?

Vidas secas é reconhecidamente o mais importante livro de Graciliano Ramos e um dos maiores clássicos da literatura nacional. Publicado pela primeira vez em 1938, o aclamado livro retrata a vida miserável de uma familia de retirantes em sua peregrinação pelo sertão nordestino.

Se tornando uma das obras-símbolo do modernismo literário brasileiro, Vidas secas é um retrato atual, emocionante e cruelmente verdadeiro sobre o Brasil. Graciliano Ramos nasceu em 1892, no interior de Alagoas, e cresceu na fazenda do pai antes de se mudar para a capital do estado e, posteriormente, para o Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar na imprensa.

Em 1937, foi preso sob vagas acusações de defender ideologias comunistas. Ao deixar a prisão, procurou trabalho como jornalista em um jornal do Rio de Janeiro. O editor então lhe permitiu publicar um texto curto, e Graciliano escreveu um conto chamado “Baleia”, sobre o sofrimento e a morte da cachorrinha de uma família de retirantes sertanejos.

O conto fez sucesso e o jornal encomendou outros no mesmo estilo. Graciliano produziu então um conto para cada membro da família: o pai, a mãe e os dois filhos. Nascia assim Vidas secas, narrado em terceira pessoa, com treze capítulos que, por não terem uma linearidade temporal, podem ser lidos fora de ordem, como contos.

Lançado originalmente em 1938, Vidas secas retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. O pai, Fabiano, caminha pela paisagem árida da caatinga do Nordeste brasileiro com a sua mulher, Sinha Vitória, e os dois filhos, que não têm nome, sendo chamados apenas de “filho mais velho” e “filho mais novo”.

São também acompanhados pela cachorrinha da família, Baleia, cujo nome é irônico, pois a falta de comida a fez muito magra. Vidas secas pertence à segunda fase modernista da literatura brasileira, conhecida como “regionalista” ou “romance de 30”. Denuncia fortemente as mazelas do povo brasileiro, principalmente a situação de miséria do sertão nordestino.

É o romance em que Graciliano alcança o máximo da expressão que vinha buscando em sua prosa: o que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro.

Porque Vidas Secas é importante?

Vidas Secas em Literatura Quando a narrativa começa, Fabiano e sua família, formada pela esposa Sinha Vitória, os filhos identificados apenas como Menino mais novo e Menino mais velho e a cachorrinha Baleia, caminham sob o escaldante sol do nordeste.

Encontram uma casa abandonada e ali se abrigam, na expectativa da passagem do período de seca. A chuva chega, e com ela aparece o patrão, dono da terra, expulsando Fabiano do lugar. Para continuar na terra, o matuto se oferece para trabalhar como vaqueiro. Recebe roupas, animais de criação e alguns produtos para iniciar o serviço, instalando-se em definitivo na fazenda.

Os produtos consumidos pela família eram oferecidos no armazém do patrão, mas a preços abusivos. Por isso, Fabiano resolve ir comprar algumas coisas na cidade mais próxima. Um militar, o Soldado Amarelo, o convida para jogar baralho. Os dois se dão mal no jogo e o policial desconta em Fabiano, prendendo-o.

Ao voltar para casa, encara o mau humor de Sinha Vitória, inconformada com sua atitude. A família conhece alguns momentos de alegria e de felicidade limitada. Isso se dá, por exemplo, quando o inverno chega trazendo a chuva. No entanto, a ameaça da cheia causa apreensão em Sinha Vitória. Também se dirigem à cidade para uma ocasião festiva, mas não se sentem à vontade ali.

A revolta que Fabiano sente no lugar se repete em outros momentos, mas ele sempre se vê diante da necessidade de conter sua fúria. Quando desconfia de erros no seu pagamento, por exemplo, reclama com o patrão em termos que provocam sua demissão. Arrepende-se das coisas ditas, pede desculpas e recupera sua colocação.

Em outro momento, reencontra o Soldado Amarelo, que se perdera no campo, e vê a oportunidade de vingar-se da prisão injusta. No entanto, acaba por reconhecer no policial uma autoridade que deve ser respeitada e mais uma vez contém sua revolta. As aves de arribação que cortam os céus em certa ocasião funcionam como prenúncios da seca, que está de volta.

A família se prepara para nova fuga. Fazem-no de madrugada, tanto para aproveitar a temperatura mais amena, quanto para escapar de uma eventual perseguição do patrão. Assim, terminam sua história exatamente como a haviam começado: fugindo da seca. Sobre o autor Graciliano Ramos é o principal ficcionista da literatura brasileira da década de 1930, que se caracterizou pela temática social, focalizando, entre outros, aspectos concernentes ao Nordeste brasileiro, como a seca, o coronelismo e a exploração.

  1. Essa tendência recebeu o nome de neorealismo nordestino.
  2. Ao mesmo tempo, os autores da época continuaram a proposta modernista de uma literatura de resgate da linguagem coloquial.
  3. Importância do livro O romance Vidas Secas, publicado em 1938, consegue a proeza de apresentar de maneira sintética uma visão da sociedade brasileira em seus níveis mais profundos.

Há a dimensão social da exploração e da opressão política. Há a dimensão psicológica da repressão, fazendo surgir indivíduos marcados pela introspecção. E há, por fim, a dimensão natural da seca, flagelo nordestino. Período A narrativa se relaciona a um período particularmente complicado da política brasileira e mundial.

  1. No Brasil, estava em vigor a ditadura Vargas, enquanto a Europa vivia as tensões que resultariam na eclosão da 2ª Guerra Mundial.
  2. O título do romance de Graciliano antecipa alguns de seus aspectos essenciais.
  3. De fato, “vidas” remete aos indivíduos cujas existências serão focalizadas na narrativa, “secas” tanto aponta para a condição natural quanto para a falta de perspectiva das personagens.

O narrador em 3ª pessoa explora o monólogo interior para expor ao leitor os pensamentos das personagens que, de outra forma, não se abrem para o mundo. Esse isolamento dos membros da família é reproduzido na própria estrutura do romance, que é dividido em capítulos relativamente independentes.

Alguns deles trazem em seus títulos os nomes das personagens, que são, então, apresentadas de forma mais aprofundada. Dessa forma, a narrativa apresenta os desejos mais íntimos de Fabiano e de sua família. O vaqueiro gostaria de ter mais desenvolvida a faculdade de expressão para se comunicar com os outros.

Sinha Vitória almeja uma cama de couro, símbolo de certa abastança e de fim da vida nômade. O Menino mais novo deseja ser igual ao pai, enquanto seu irmão se vê às voltas com os mistérios das palavras. Também a cachorra Baleia merece seu capítulo, aquele que narra sua morte, momento em que ela pensa em um mundo de comida abundante que acabasse com a carência da família.

Os capítulos independentes mostram ainda a dificuldade de comunicação das personagens, sobreviventes que pouco se abrem a expansões sentimentais. Para reproduzir na linguagem a mesma secura, o narrador utiliza poucos adjetivos. As festas e os períodos de chuva mantém a apreensão sofrida de todos, demonstrando que, se a seca é um problema, não é o único.

Essa circunstância sugere que Fabiano e sua família, mais do que oprimidos pelo meio ambiente, são colocados como vítimas de mecanismos sociais opressivos, representados pelo patrão e pelo Soldado Amarelo. Ao longo de toda a narrativa, Fabiano oscila entre a condição de homem e a de animal.

  • No final, quando mantém a capacidade de sonhar, imaginando uma vida melhor no futuro, parece demonstrar que o que há nele de humano supera a tendência à animalização que a opressão insiste em lhe impor.
  • Fabiano: nordestino retirante, é explorado pelo patrão e tenta sempre conter a raiva para não perder o emprego.

– Baleia: cachorra da família, é muito querida pelas crianças. Pensa como gente e sofre com as dificuldades da seca e da falta de comida. – Sinha Vitória: esposa de Fabiano, tenta evitar que o marido caia nas mentiras dos trapaceiros. É esperta e sabe fazer contas.

– Tomás da Bolandeira: amigo de Fabiano, aparece apenas em suas lembranças. – Patrão: dono da fazenda onde Fabiano se instala com sua família, é desonesto e explora os funcionários. – Soldado Amarelo: militar que convida Fabiano para jogar cartas e acaba prendendo o vaqueiro.

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Elias Costa sensacional, ajudará-me muito no vestibular Giovanni Nunes É um livro meio confuso, mas humanizar a baleia, fazendo que ela seja uma das personagens mais “inteligentes”, foi sim uma grande ideia. Ruim foi que o Fabiano era meio que bebum e perdia muito dinheiro em jogos. O final já era meio previsto, pois eles não se sentiam a vontade na cidade e sempre voltavam pro sertão, onde a seca dominava. O livro em geral é bom, apesar das partes confusas, é um bom livro para se fazer trabalhos escolares.

Elias Costa sensacional, ajudará-me muito no vestibular Giovanni Nunes É um livro meio confuso, mas humanizar a baleia, fazendo que ela seja uma das personagens mais “inteligentes”, foi sim uma grande ideia. Ruim foi que o Fabiano era meio que bebum e perdia muito dinheiro em jogos. O final já era meio previsto, pois eles não se sentiam a vontade na cidade e sempre voltavam pro sertão, onde a seca dominava. O livro em geral é bom, apesar das partes confusas, é um bom livro para se fazer trabalhos escolares.

: Vidas Secas em Literatura

O que Graciliano Ramos retrata em suas obras?

Resumo – Graciliano Ramos marcou a literatura brasileira com obras que retratam a vida do homem nordestino no sertão. O escritor fez parte da 2ª fase do modernismo, que teve o regionalismo como principal característica. Raquel de Queiroz, Jorge Amado e José Lins do Rego foram alguns autores que compartilham a fase com Ramos.

  1. Em importantes obras, como “Vidas Secas” e “São Bernardo”, é possível perceber o realismo utilizado pelo autor para descrever as dificuldades da vida no sertão.
  2. Por ter vivido grande parte da vida no interior de Alagoas, Graciliano conhecia de perto essa realidade.
  3. Pela ligação com o comunismo, Ramos foi preso durante a ditadura de Vargas.

O período na prisão foi retratado em “Memórias do Cárcere”, que traz um episódio importante da história: a entrega de Olga Benário aos alemães. O livro foi lançado sem o último capítulo, já que o autor morreu antes de terminar a obra.

O que a baleia representa em Vidas Secas?

Personagens Principais –

Fabiano: Vaqueiro bruto e trabalhador que comanda a retirada de sua família durante a época da seca. Tem dificuldades com pensamento lógico e de comunicação, o que faz com que ele tenha medo de que outras pessoas se aproveitem de sua ignorância. Sinhá Vitória: É uma mulher forte, esperta e guerreira, esposa de Fabiano. Não aceita a condição ruim em que eles vivem e sempre sonha com uma situação melhor, com coisas materiais que gostaria de ter. Menino mais velho: É o filho mais velho do casal, que tem muito interesse pelo significado das palavras e que tenta entender como o mundo funciona. Menino mais novo: É o filho mais novo do casal, que quer ser um vaqueiro como o pai. Baleia: É a cachorra da família, que é apresentada de forma mais humanizada do que os próprios humanos da história. Acaba morrendo no final da narrativa, sacrificada por Fabiano porque estava doente. É uma das personagens mais importantes de “Vidas Secas”. Papagaio: Viaja com a família, mas acaba sendo comido quando todos estavam passando fome. Soldado Amarelo: Prende Fabiano quando este arruma uma briga. É uma representação do poder militar. Dono da Fazenda: Representa o poder econômico. Ele se aproveita de Fabiano e de sua ignorância para lucrar em cima dele.

Exercício de fixação FUVEST Leia o trecho para responder ao teste. “Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo fosse realmente mudança. Retardara-se e repreendera os meninos, que se adiantavam, aconselhara-os a poupar forças.

  • A verdade é que não queria afastar-se da fazenda.
  • A viagem parecia-lhe sem jeito, nem acreditava nela.
  • Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se resolvera a partir quando estava definitivamente perdido.
  • Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos seco para enterrar-se.

Era o que Fabiano dizia, pensando em coisas alheias: o chiqueiro e o curral, que precisavam conserto, o cavalo de fábrica, bom companheiro, a égua alazã, as catingueiras, as panelas de losna, as pedras da cozinha, a cama de varas. E os pés dele esmoreciam, as alpercatas calavam-se na escuridão.

Seria necessário largar tudo? As alpercatas chiavam de novo no caminho coberto de seixos.” ( Vidas secas, Graciliano Ramos) Assinale a alternativa incorreta: A O trecho pode ser compreendido como suspensão temporária da dinâmica narrativa, apresentando uma cena “congelada”, que permite focalizar a dimensão psicológica da personagem.

B Pertencendo ao último capítulo da obra, o trecho faz referência tanto às conquistas recentes de Fabiano, quanto à desilusão do personagem ao perceber que todo seu esforço fora em vão. C A resistência de Fabiano em abandonar a fazenda deve-se à sua incapacidade de articular logicamente o pensamento e, portanto, de perceber a gradual mas inevitável chegada da seca.

  1. D A expressão “coisas alheias” reforça a crítica, presente em toda obra, à marginalização social por meio da exclusão econômica.
  2. E As referências a “enterro” e “cemitério” radicalizam a caracterização das “vidas secas” do sertão nordestino, uma vez que limitam as perspectivas do sertanejo pobre à luta contra a morte.

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Qual é o conflito de Vidas Secas?

História Plural e Cíclica – O título, por exemplo, reflete muito do que se passa durante a narrativa. O retrato de diferentes “vidas” (atente-se ao plural). Entramos, através do narrador onisciente e do uso do discurso indireto livre, na cabeça de cada uma das personagens principais.

Assim, ainda que pareçam estereotipadas, a narração constrói sua singularidade, individualidade. Quanto ao “secas” refere-se não apenas à situação climática, mas também pode ser relacionada com os elementos formais do texto, como a prosa enxuta, que raramente lança mão de adjetivos ou figuras de linguagem.

Essa crueza acaba até mesmo suprimindo os diálogos – artifício que se justifica pelo (não) repertório vocabular, verbal ou linguístico das personagens -, predominando assim as descrições. Visto que tratamos do clima, nos voltemos ao espaço – o sertão nordestino – que também se constituí enquanto personagem ao longo da narrativa.

  1. Pode-se dizer isso porque o espaço não apenas influencia, mas chega a determinar as ações das personagens durante toda história.
  2. A seca é o principal conflito de Vidas Secas,
  3. Como é mais perceptível no final do livro, apesar de ser uma característica presente ao longo de toda narrativa, há uma ciclicidade de acontecimentos.

Aquela não parece ser a primeira (tampouco a última) vez que aquela família vivencia a seca. Isso nos é sugerido, entre outros, pelo título do primeiro e do derradeiro capítulo. Respectivamente: “Mudança” e “Fuga”. Ambas etapas que se sucedem/antecedem.

Qual era o sonho do menino mais velho em Vidas Secas?

Diante de toda trajetória de sinhá Vitória, a vida dessa personagem dentro do romance Vidas Secas foi cercada de imaginações e sonhos, especialmente, pela cama de couro e tiras. Era através desse sonho que a personagem enxergava um futuro melhor para sua família.

Quais são as características dos personagens de Vidas Secas?

Resumo Vidas Secas: Personagens principais –

Baleia: cadela da família, tratada como gente, muito querida pelas crianças.Sinhá Vitória: mulher de Fabiano, sofrida, mãe de dois filhos, lutadora e inconformada com a miséria em que vivem, trabalha muito na vida.Fabiano: nordestino pobre, ignorante, que desesperadamente procura trabalho, bebe muito e perde dinheiro no jogo.Filhos: no livro eles ganham os nomes “Menino mais velho” e “Menino mais novo”. São crianças de família pobres sofridas e que não têm noção da própria miséria.Soldado Amarelo: quem prendeu Fabiano injustamente.Patrão: dono das terras, acabou contratando Fabiano para trabalhar em sua fazenda. Ele era desonesto e explorava o chefe da família.

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Quem era o personagem Fabiano Vidas Secas?

Personagens de Vidas Secas – Baleia – cadela da família, tratado como gente, muito querido pelas crianças. Sinhá Vitória – mulher de Fabiano, sofrida, mãe de 2 filhos, lutadora e inconformada com a miséria em que vivem, trabalha muito na vida. Possui nível intelectual um pouco superior ao do marido que a admira por isto.

Fabiano – o chefe da família, homem rude e quase incapaz de expressar seu pensamento com palavras; nordestino pobre, ignorante que desesperadamente procura trabalho, bebe muito e perde dinheiro no jogo. Filhos – crianças pobres sofridas e que não tem noção da própria miséria que vivem. O menino mais novo, quer realizar algo notável para ser igual ao pai e despertar a admiração do irmão e da Baleia, a cadela; O menino mais velho, sente curiosidade pela palavra “inferno” e procura se esclarecer com a mãe, já que o pai é incapaz.

Patrão – contratou Fabiano para trabalhar em sua fazenda, era desonesto e explorava os empregados. Tomás da Bolandeira – dono da fazenda, onde a família se abrigou durante uma tempestade, e homem poderoso da região que impõe sua vontade. Outros personagens: o soldado, seu Inácio (dono do bar).

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O que o autor Graciliano Ramos conseguiu mostrar com a obra Vidas Secas?

As personagens são tratadas de uma maneira desumana, ou seja, Graciliano quer mostrar a realidade do povo nordestino que vive na seca, onde são maltratados e que tentam sobreviver. Acredita-se que essa foi a forma que o autor encontrou de deixar nítido como os retirantes se sentem hostilizados na seca nordestina.

Por que Vidas Secas é considerado um romance?

“VIDAS SECAS”: UMA LEITURA CRÍTICA – Brasil Escola RESUMO Ler criticamente não envolve apenas reproduzir o que está posto, mas decodificar e interpretar a mensagem proposta. Essa leitura tem primordial importância na formação do indivíduo enquanto sujeito na construção do país, pois quanto mais consciente o povo faça sua história, tanto mais que o povo perceberá com lucidez as dificuldades que tem a enfrentar, no domínio econômico, social e cultural, no processo permanente de sua libertação.

  • Diante desse pressuposto, propomos nesta pesquisa, fazer uma leitura crítica da obra Vida Secas de Graciliano Ramos.
  • INTRODUÇÃO No presente trabalho, procura-se destrinchar o papel da leitura enquanto fomentadora da consciência crítica no intuito de tornar o indivíduo, um sujeito participativo com questionamentos e opiniões a respeito do seu contexto social.

Para a concretização desta leitura crítica escolhemos a obra célebre de Graciliano Ramos “Vidas Secas”, e esta nos forneceu elementos que estruturam o nosso pensar e conseqüentemente, o nosso escrever crítico.1. O ROMANCE Herdeiro direto da estrutura narrativa da epopéia clássica, o romance emerge – como o concebemos hoje – entre meados do século XVI e início do século XVII, especialmente na Espanha, expandindo-se em seguida pela Inglaterra, França e Alemanha.

Já no século XVIII, o romance havia se transformado na mais popular de todas as formas literárias. Em relação à epopéia, o romance traz importantes novidades: – A metrificação (verso) é abandonada e a prosa de tom relativamente coloquial torna-se uma característica da linguagem narrativa. – Por se estruturar a partir da dissolução da epopéia clássica e do declínio das novelas pastoris, galantes e de cavalaria da Idade Média, o romance emerge sem regras fixas ou modelos a serem obedecidos,

Por isso, por não ter um passado a guardar, ele se tornou a mais aberta de todas as formas literárias, – Os personagens centrais – os heróis – deixam de ser o aristocrata guerreiro ou o grande homem de aventuras e conquistas, com os seus rígidos códigos de honra e seus valores típicos da nobreza.

Ao contrário, o que temos agora são homens comuns, normalmente de origem burguesa ou plebéia, e que vivem dramas corriqueiros, Suas ações já não lhes proporcionam fama e poder, mas giram em torno de fatos relativamente insignificantes: complicações sentimentais, sociais e financeiras, comuns a maioria das pessoas.

Os romances representam – já no século XVIII e XIX, mas particularmente no século XX – um verdadeiro mergulho no cotidiano, como podemos constatar em Moll Flandres, de Defoe, em Germinal, de Zola, ou em Os ratos, de Dyonélio Machado. Nesta última obra, aliás, toda a trama é concentrada na questão do pagamento de uma conta de leite, que o protagonista precisa saldar em vinte e quatro horas.

Os personagens do romance já não são personalidades inteiriças e perfeitas. Agora a interioridade se dissocia da aventura e a alma fica fraturada entre os desejos íntimos e a realidade quase sempre hostil, Por viverem tal dualidade, os protagonistas apresentam uma complexidade maior. Portanto, a sondagem interior, mais tarde conhecida como análise psicológica, nasce como romance.

Os conflitos que embasam a epopéia clássica colocam em oposição apenas os personagens e a realidade exterior. No romance, ao inverso, ocorrem também dentro dos próprios protagonistas. É o chamado conflito interior, Isso não impede o choque dos indivíduos com o mundo, expressos, sobretudo na lua dos mesmos contra as normas e os preconceitos sociais.

Este último confronto torna-se clássico no romance: um indivíduo com valores autênticos tenta impô-los à realidade, Sede de amor, de justiça e de dignidade humana impele-o ao desejo de mudança de um mundo, geralmente insensível e injusto. No entanto, o resultado desse esforço é, no mais das vezes, o fracasso,

Desamparado, o personagem ou adere à ordem opressiva ou sucumbe à desilusão, à loucura e até à morte. Por isso, inúmeros romances se apresentam como um verdadeiro inventário de ilusões perdidas.

  • Contudo, em muitas obras do gênero, há um triunfo do herói comum, seja pela realização de seus afetos ou de seus ideais, seja pela satisfação de suas exigências de escalada social, às vezes alcançada graças à sua esperteza e à sua flexibilidade ética.
  • Estas diferenças entre a epopéia e seu mais ilustre descendente levaram o filósofo alemão Hegel, nos primórdios do século XIX, a cunhar a célebre afirmação: “O romance é a epopéia de um mundo sem deuses”, ou seja, o romance é a epopéia do cotidiano.
  • 2. Graciliano Ramos – Dados biográficos

Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrângulo, sertão de Alagoas, filho primogênito dos dezesseis que teriam seus pais, Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Viveu sua infância nas cidades de Viçosa, Palmeira dos Índios e Buíque, sob o regime das secas e das surras que lhe eram dadas por seu pai, o que o fez alimentar, desde cedo, a idéia de que todas as relações humanas são regidas pela violência.

Em 1894, a família muda-se para Buíque, onde o escritor tem contacto com as primeiras letras. Em 1904, retornam ao Estado de Alagoas, indo morar em Viçosa. Lá, Graciliano cria um jornalzinho dedicado às crianças, o “Dilúculo”. Posteriormente, redige o jornal “Echo Viçosense”, que tinha entre seus redatores seu mentor intelectual, Mário Venâncio.

Em 1905 vai para Maceió, onde freqüenta, por pouco tempo, o Colégio Quinze de Março, dirigido pelo professor Ângelo Marques Barbosa. Com o suicídio de Mário Venâncio, em fevereiro de 1906, o “Echo” deixa de circular. Graciliano publica na revista carioca “O Malho” sonetos sob o pseudônimo de Feliciano de Olivença.

Em 1909, passa a colaborar com o “Jornal de Alagoas”, de Maceió, publicando o soneto “Céptico” sob o pseudônimo de Almeida Cunha. Até 1913, nesse jornal, usa outros pseudônimos: S. de Almeida Cunha, Soares de Almeida Cunha e Lambda, este usado em trabalhos de prosa. Até 1915 colabora com “O Malho”, usando alguns dos pseudônimos citados e o de Soeiro Lobato.

Em 1920 sua esposa falece, deixando quatro filhos menores. Em março de 1936, acusado — sem que a acusação fosse formalizada — de ter conspirado no malsucedido levante comunista de novembro de 1935, é demitido, preso em Maceió e enviado a Recife, onde é embarcado com destino ao Rio de Janeiro no navio “Manaus”.

O país estava sob a ditadura de Vargas e do poderoso coronel Filinto Müller. No período em que esteve preso no Rio, até janeiro de 1937, passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, pela Colônia Correcional de Dois Rios, voltou à Casa de Detenção e, por fim, pela Sala da Capela de Correção.

Seu livro “Angústia” é lançado no mês de agosto daquele ano. Foi libertado e passou a trabalhar como copidesque em jornais do Rio de Janeiro, em 1937. Em 1943, falece sua mãe em Palmeira dos Índios. Em 1946, publica “Histórias incompletas”, que reúne os contos de “Dois dedos”, o conto inédito “Luciana”, três capítulos de “Vidas secas” e quatro capítulos de “Infância”.

Seus livros “Vidas secas” e “Memórias do cárcere” são adaptados para o cinema por Nelson Pereira dos Santos, em 1963 e 1983, respectivamente. O filme “Vidas secas” obtem os prêmios “Catholique International du Cinema” e “Ciudad de Valladolid” (Espanha). Leon Hirszman dirige “São Bernardo”, em 1980.2.1.

Características Literárias Graciliano Ramos, ao lado de José Lins do Rego, destaca-se no papel de romancista da segunda fase do Modernismo (1930 – 1945). Graciliano Ramos tornou sua obra mais uma vertente de nosso rico romance regionalista. Com estilo seco, conciso e sintético, o autor deixa de lado o sentimentalismo a favor de uma objetividade e clareza.

  • Seu estilo seco, frio, enxuto e impessoal, repleto de senso psicológico, aproxima-o de Machado de Assis, sendo considerado seu legítimo seguidor, sabendo exprimir a amarga realidade do homem nordestino com agudeza.
  • Assim como José Lins do Rego, Graciliano Ramos vai descrever os tipos e as paisagens do nordeste evocando os problemas que ali se encontram.

Seus melhores romances (São Bernardo, Angústia e Vidas Secas), mostram um perfil psicológico e sócio-político que nos indica uma versão crítica dos rumos que a sociedade moderna toma. A análise psicológica tomada pelo autor com relação aos seus personagens, parte do regional para o universal, confrontando o homem comum que vive com classes superiores e autoritárias.

O nordeste se torna o palco deste conflito, a preocupação com os problemas do povo brasileiro sempre foram traços marcantes de suas obras. Graciliano Ramos escreveu ainda um romance autobiográfico que contém elementos ficcionais, Memórias do Cárcere, onde há toda a violência que o autor passou enquanto esteve preso, denunciando o autoritarismo estabelecido pelo Estado Novo.

De maneira geral, seus romances caracterizam-se pelo inter-relacionamento entre as condições sociais e a psicologia das personagens; ao que se soma uma linguagem precisa, “enxuta” e despojada, de períodos curtos mas de grande força expressiva. Seu romance de estréia, Caetés (1933), gira em torno de um caso de adultério ocorrido numa pequena cidade do interior nordestino e não está à altura das obras subseqüentes.

  1. Trata-se de um romance admirável, não só pela caracterização da personagem, mas também pelo tratamento dado à problemática da coisificação dos indivíduos.
  2. Em Angústia conta a história de uma só personagem, que vive a remoer a sua angústia por ter cometido um crime passional.
  3. Entre suas obras autobiográficas, destaca-se Memórias do cárcere (1953), depoimento sobre as condições dramáticas de sua prisão durante o governo do ditador Getúlio Vargas.

2.2. Obras

  • Romances: Caetés (1933); São Bernardo (1938); Angústias (1936); Vidas Secas (1938).
  • Conto: Insônia (1947).
  • Memórias: Infância (1945); Memórias do Cárcere (1953); Viagem (1954); Linhas Tortas (1962); Viventes das Alagoas (1962).
  • Literatura Infantil: Histórias de Alexandre (1944); Dois dedos (1945); Histórias Incompletas (1946).
  • 3. “VIDAS SECAS”: UMA LEITURA CRÍTICA

3.1. A estrutura do romance Rubem Braga designou Vidas secas como um “romance desmontável”, pois os treze capítulos que o compõem podem ser lidos isoladamente, constituindo flagrantes mais ou menos fechados da existência sertaneja. Aliás, muitos destes capítulos foram escritos ” em retalho ” (GR), como se fossem contos, sendo que a obra nasceu a partir do episódio Baleia, conforme afirmativa do próprio autor: No começo de 1937 utilizei num conto a lembrança de um cachorro sacrificado.(.) Transformei meu avô no vaqueiro Fabiano; minha avó tomou a figura de sinhá Vitória; meus tios pequenos reduziram-se a dois meninos.

  1. Publicada a história, não comprei o jornal e fiquei dois dias em casa, esperando que meus amigos esquecessem Baleia.
  2. O conto me parecia infame – e surpreendeu-me falarem dele.(.) Habituei-me tanto a eles que resolvi aproveitá-los de novo.
  3. Escrevi Sinhá Vitória.
  4. Depois apareceu Cadeia.
  5. Aí me veio a idéia de juntar as cinco personagens numa novela miúda – um casal, duas crianças e uma cachorra, todos brutos,

A obra apresenta, pois, uma composição relativamente aberta e descontínua, dada a autonomia dos treze quadros. Excetuando-se Mudança e Fuga, respectivamente o primeiro e o último capítulo, os demais podem não exigem a necessidade de uma leitura linear.

  • Isso se deve, em parte, a ausência de seqüência temporal delimitada claramente entre os episódios ou de marcos cronológicos muito visíveis em todo o romance.
  • Sabemos apenas que os dias passam: ” Entrava dia e saía dia.
  • Que os anos transcorrem: “Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos.

” Quantos dias? Quantos anos? As respostas não permitem nem mesmo saber a idade de qualquer personagem ou a duração exata da narrativa. Como observamos, a montagem do relato é feita pela justaposição de capítulos. Inexiste, portanto, ao contrário do romance tradicional, uma evolução dramática, algo que possa crescer, episódio após episódio, criando uma evolução de caracteres e um clímax.

Assim, a estrutura de Vidas secas torna-se similar à incapacidade de Fabiano e os seus de traçarem o próprio destino. O encadeamento convencional de episódios (como em O continente e em O guarani, por exemplo) corresponde à ação do homem sobre o mundo. Já a família sertaneja de Vidas secas é apenas vítima e, por causa de sua impotência (inclusive mental), não consegue compreender a realidade como um todo, vendo-a de maneira fragmentada e desconexa.

Esta descontinuidade é levada por G.R. à própria forma de composição do romance. No entanto, apesar desta estrutura aparentemente descosida, destas cenas quase soltas que compõe a maioria dos capítulos, o leitor percebe que há unidade e grande coesão no romance.

  1. Elas são dadas pela recorrência de certos motivos que aparecem pratica-mente em todos os episódios da obra, cimentando-a estética e ideologicamente, como veremos adiante.
  2. Quarto e último romance de Graciliano Ramos, (os outros foram Caetés, São Bernardo e Angústia) Vidas secas é o único narrado em terceira pessoa,

Seria obviamente impossível dar voz a Fabiano e a opção pela terceira pessoa possibilitou também uma relativa adesão do narrador ao universo retratado. Ele procura ser tão “seco” e despojado quanto as vidas que registra. Para não “olhá-las” apenas de fora, impessoalmente, o autor vale-se de maneira contínua do discurso indireto livre, como neste exemplo: Havia muitas coisas.

  1. Ele não podia explicá-las, mas havia.
  2. Fossem perguntar a seu Tomás da bolandeira, que lia livros e sabia onde tinha as ventas.
  3. Seu Tomás da bolandeira contaria aquela história.
  4. Ele, Fabiano, um bruto, não contava nada,
  5. No dizer de um crítico, Graciliano Ramos procura, em Vidas secas, “condensar o máximo no mínimo.” O estilo é despojado, cortante, quase desagradável a ouvido, centrado em orações coordenadas, curtas e diretas.

Algumas palavras de cunho regional dificultam um pouco a leitura, mas a linguagem do narrador está alicerçada no padrão culto urbano da língua portuguesa, O crítico Otto Maria Carpeaux definiu com precisão este estilo: A maestria singular de Graciliano reside em seu estilo.

  • É muito meticuloso.
  • Quer eliminar tudo o que não é essencial: as descrições pitorescas, o lugar-comum das frases feitas, a eloqüência tendenciosa.
  • Seria capaz ainda de eliminar páginas inteiras, eliminar os seus romances inéditos, eliminar o próprio mundo para guardar apenas o que é essencial (1965, p.16).

Narrado em 3ª pessoa (ao contrário das obras anteriores de Graciliano Ramos), Vidas Secas pertence a um gênero intermediário entre romance e livro de contos. Nesta obra não é a personagem que ressalta nele, mas o narrador que se faz sentir pelo discurso indireto, construído em frases curtas, incisivas, enxutas, quase sempre em períodos simples.

A obra pertence a um gênero intermediário entre romance e livro de contos. Possui 13 capítulos até certo ponto autônomos, mas que se ligam pela repetição de alguns motivos e temas, como a paisagem árida, a zoomorfização e antropomorfização das criaturas, os pensamentos fragmentados das personagens e seu conseqüente problema de linguagem, seu Tomás da bolandeira, a cama de varas de sinhá Vitória etc.

O que une os episódios no livro é a utilização de vários motivos recorrentes (a paisagem árida, a zoomorfização e antropomorfização das criaturas, os pensamentos fragmentados das personagens e seu conseqüente problema de linguagem, seu Tomás da bolandeira, a cama de varas de sinhá Vitória etc.), que dada a sua redundância e a maneira como são distribuídos, chegam a constituir um verdadeiro substituto da ação e da trama do livro.

Também as personagens são focalizadas uma por vez, o que mostra o afastamento existente entre elas. Cada uma tem sua vida particular, acentuando-se a solidão em que vivem. Vidas Secas é, portanto, a dramática descrição de pessoas que não conseguem comunicar-se. Nem os opressores comunicam-se com os oprimidos, nem cada grupo comunica-se entre si.

A nota predominante do livro é o desencontro dos seres. Os diálogos são raros e as palavras ou frases que vêm diretamente da boca das personagens são apenas xingatórios, exclamações, ou mesmo grunhidos. A terra é seca, mas, sobretudo o homem é seco. Daí o título Vidas Secas.

  • O discurso do narrador é igualmente construído com frases curtas, incisivas, enxutas, quase sempre períodos simples.
  • Escritor extremamente contido, com o pavor da verbosidade, Graciliano prefere a eloqüência das situações fixadas à eloqüência puramente verbal.
  • O que há de libelo no livro se inclui na sua própria estrutura e não em discursos das personagens ou do autor.3.2.

Enredo Vidas Secas é um romance mais apreciado de Graciliano Ramos, e o mais bem realizado esteticamente, compondo o quadro de personagens. O romance praticamente não tem uma história a contar, mas um conjunto de situações confluentes, algo que se presta muito bem para a projeção animatográfica.

  • A história começa com a fuga de uma família nordestina fugindo da seca do sertão.
  • Fabiano, o pai da família, é um vaqueiro com dificuldade de se expressar.
  • Não tem aspirações nem esperanças de vida.
  • Sinhá Vitória é a mãe, é mais “madura” do que seu marido Fabiano, também não se conforma com sua situação miserável, e sonha com uma cama de ouro como a de Tomás de Bolandeira.
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Os dois filhos e a cadela Baleia acabam por concluir essa família. O menino mais novo sonha ser como o pai, já o mais velho desejava a presença de um amigo, conformando-se assim com a presença de sua cadela Baleia, a qual portava-se não como um animal, mas sim tratada com um ente e ajudava Fabiano e sua família a suportar as péssimas condições.

  • Depois de muito caminhar a família chega a uma fazenda abandonada, onde acabam ficando.
  • Após de um curto período de chuva o dono da fazenda retorna e contrata Fabiano como seu vaqueiro.
  • Fabiano vai a venda comprar mantimentos e lá se põem a beber.
  • Aparece um policial que Fabiano chama de Soldado Amarelo, que o convida para jogar baralho com os outros.

O jogo acontece e numa desavença com o Soldado Amarelo, Fabiano é preso maltratado e humilhado, aumentando assim sua insatisfação com o mundo e com sua própria condição de homem selvagem do campo. Fabiano é solto e continuando assim sua vida na fazenda.

Sinhá Vitória desconfia que o patrão de Fabiano estaria roubando nas contas do salário do marido. A família participa da festa de Natal da cidade onde se sentem humilhados por diversos “patrões” e “Soldados Amarelos”. Baleia fica doente e Fabiano a sacrifica. Não satisfeito e sentindo-se prejudicado com o patrão, Fabiano resolve conversar com seu patrão, este que ameaça despejar Fabiano da fazenda.

Fabiano tenta esquecer o assunto e acaba ficando muito indignado. Na voltada venda Fabiano encontra o Soldado Amarelo perdido no mato. Fabiano pensa em matar o Soldado Amarelo, porém sentindo-se fraco e impossibilitado, acaba ajudando o soldado a voltar para a cidade.

A seca atinge a fazenda e faz com que toda a família fuja novamente, só que desta vez, todos vão para o Sul, em busca da cidade grande, sem destino e sem esperança de vida.3.3. O narrador O narrador se manifesta em terceira pessoa e é onisciente, a descrição é tática e sensível. Podemos encontrar muitas vezes os discursos indiretos livres.

É o próprio narrador que revela o interior dos personagens através de monólogos interiores. O foco narrativo ganha destaque ao converter em palavras os anseios e pensamentos das personagens.”. Aí, a coleira diminuiu e Fabiano teve pena”. (Cap.01 – Mudança) 3.4.

Tempo O tempo de narrativa medeia duas secas. A primeira que traz a família para a fazenda e a segunda que a leva para o Sul. Mesmo possuindo algumas referências cronológicas na obra, o tempo é psicológico e circular.”. Sinhá Vitória é saudosista. Lembra-se de acontecimentos antigos, até ser despertada pelo grito da ave e ter a idéia de transformá-la em alimento”.(Cap.01 – Mudança) 3.5.

Os personagens O grau de semelhança na caracterização de Fabiano e de sua família é muito grande. A brutalidade da seca faz com que os personagens também se embruteçam, é ai que o autor os compara com animais. As personagens não falam, mas grunhem, rosnam, gesticulam e falam palavras soltas.

  • Cabe ao narrador interpretar e expor os seus desejos.
  • Personagem Protagonista FABIANO Nordestino pobre, ignorante que desesperadamente procura trabalho, bebe muito e perde dinheiro no jogo.
  • Fabiano é uma pessoa que fica dividida entre a revolta e a passividade, optando pela segunda atitude diante de sua impotência.

A impotência é reforçada por não saber usar a linguagem, que é o seu maior desejo. Toma como exemplo seu Tomás da bolandeira, tentando de alguma forma imitar-lhe o vocabulário. Por não saber se expressar, entra num processo de isolamento, aproximando-se dos animais, com os quais se identifica melhor.

  1. Antagonista
  2. SOLDADO AMARELO
  3. Corrupto, oportunista e medroso, o Soldado Amarelo é símbolo de repressão e do autoritarismo pelo qual é comandado (ditadura Vargas), porém não é forte sozinho; sem as ordens da ditadura, é fraco e acovarda-se diante de Fabiano.
  4. Personagens Secundários
  5. SINHÁ VITÓRIA

Mulher de Fabiano, sofrida, mãe de 2 filhos, lutadora e inconformada com a miséria em que vivem, trabalha muito na vida, é ela que percebe as trapaças do patrão e também o início da estiagem. Seu sonho de consumo é uma cama de couro igual à do seu Tomás da bolandeira.

  • O DONO DA FAZENDA
  • Contrata Fabiano para trabalhar em sua fazenda, desonesto, explorava seus empregados.
  • BALEIA
  • Cadela da família, tratado como gente, muito querido pelas crianças.

Ela é humanizada em vários momentos, tornando-se um membro da família, sempre se solidarizando com esta. Sua solidariedade é desinteressada, pois além de ser bastante enxotada, fica sempre com os ossos, contentando-se com o pouco. TOMÁS DE BOLANDEIRA Personagem que só aparece por meio de lembranças (pois já havia morrido), é tido como referência para Fabiano e sinhá Vitória.

Enquanto Fabiano admira sua linguagem, tentando imitá-la, sinhá Vitória deseja uma cama de couro igual à sua. Dessa forma, ele representa as aspirações de mudança do casal. O DONO DA FAZENDA, O FISCAL DA PREFEITURA E O SR. INÁCIO Os três personagens são representantes das instituições sociais que oprimem Fabiano.

Patrão: contratou Fabiano para trabalhar em sua fazenda, era desonesto, exigente, ladrão e explorava os empregados. O fiscal da prefeitura: intolerante e explorador. O Sr. Inácio: era o dono do bar.3.6. O ambiente O espaço é físico, refere-se ao sertão nordestino, descrito com precisão pelo autor.”.

na lagoa seca, torrada, coberta de caatingas e capões de mato”. (Cap.11 – O soldado Amarelo) 3.7. A animalização do humano A hostilidade da natureza e os vários níveis de opressão do sistema rural arcaico parecem eliminar do vaqueiro e de sua família vários traços de humanidade, impelindo principalmente Fabiano a desconfiar de sua própria condição.

Inúmeras vezes, no transcurso da narrativa, ele se contempla como um bicho: “Você é um bicho, Fabiano.” “Estava escondido no mato como tatu. Duro, lerdo como tatu.” Este processo de zoomorfização de alguma maneira é acentuado pela cachorra Baleia, já que esta se situa como protagonista pensante e com um nível de ex-pressão mental não inferior a da família sertaneja.

  1. Ou seja, vive-se em um universo tão primitivo, tão sem horizontes que os homens e os animais se igualam intelectualmente.
  2. Por seu turno, é verdade que Baleia se humaniza, sobremodo no capítulo que leva o seu nome e no qual ela acaba eliminada.
  3. Em toda a prosa áspera de G.R.
  4. É o único momento de alta poesia.

A tensão dialética entre a condição humana e a não-humana, que determina o significado do romance, é resolvida no último capítulo, quando todos os animais já morreram e a família segue em direção à cidade. Repare nas frases derradeiras da obra: E o sertão continuaria a mandar gente para lá.

O sertão manda-ria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, sinhá Vitória e os dois meninos, O termo “homem” certamente não designa gênero. Homens como sinhá Vitória? Homens como os dois meninos? Homem aqui tem outro sentido, o mesmo que Euclides da Cunha aplicou ao sertanejo. Representa força, capa-cidade de resistência, disposição voluntária para mudar a vida, vitória sobre as mais terríveis circunstâncias.

Fabiano e seus familiares são homens e não bichos.3.8 Análise Crítica Graciliano Ramos no chamado romance do Nordeste, além de mostrar e denunciar as mazelas sociais, deu um nível literário, artístico à obra. É um escritor com um estilo próprio, com uma linguagem trabalhada.

  1. Não é um romancista na plena acepção da palavra, mas um bom contista e utilizou materiais já elaborados e até mesmo publicados para criar seus romances.
  2. Vidas Secas é montado num processo artesanal, ordenado à maneira de mosaico, não é um romance propriamente dito e sim uma coletânea de contos.
  3. São 13 capítulos autônomos, que se ligam pela repetição de alguns motivos.

Vidas Secas é um romance de estética realista naturalista é a dramática descrição de pessoas que não conseguem comunicar-se, pois a terra é seca, mas o homem, também é seco: nem os opressores (patrão, soldado) e nem os oprimidos (família de Fabiano).

  1. Sabendo se que o mais importante não é a intriga, mas o fundo sociológico e psicológico.
  2. Graciliano Ramos procura estudar o comportamento duma família extremamente rude e primitiva num meio ecologicamente severo e seco.
  3. Estuda as formas de raciocínio e linguagem, de adaptação ou revolta em diversas temperaturas psicológicas: as reações nos períodos de seca e fome, bem como nos períodos de fartura do inverno, as formas de comportamento no campo e na cidade, etc.

O que interessa é o homem, o homem do sertão nordestino, o ser rude e quase primitivo pela hostilidade do meio físico e da injustiça humana. Graciliano Ramos conhecia a região e quis descrever o homem branco, rude e suas personagens são quase selvagens por isso o que elas pensam e falam merece ser anotadas.

  1. Vidas Secas não é apenas o romance da seca, mas principalmente o romance da condição humana jogada entre a vida e a morte.
  2. As personagens deslocam-se para lugares distantes daquele em que se situa o conflito.
  3. Os retirantes recusam o presente e vão atrás de um sonho: casa para se abrigarem e trabalho para ganharem o suficiente para não morrer de fome.

Por ser um romance realista regionalista as descrições deveriam ser mais desenvolvidas. Fala-se do verão, do inverno, das nuvens, do sol, de água ou dos mandacarus; as anotações “paisagísticas” são breves e explicativas, por que precisa destes elementos para estudar o comportamento psicológico do homem entregue a um meio ecologicamente tão duro “seco”.

  1. Vidas Secas: o título afronta duas formas de narrar (tendências narrativas) que pendem mais para se excluir do que para se unir.
  2. A primeira linha é a sociológica “secas” onde tenta fazer um romance realista regionalista; a segunda linha a psicológica “vidas”, a do realismo psicológico.
  3. Impondo-se com o romance psicológico onde a análise se sobrepõe o documentário sociológico.

A seca não permite a vida vegetal, mata os animais e expulsa os homens, desumanizando-os e obrigando-os a aproximarem-se dos animais para todos juntos tentarem a sobrevivência comum. Assim entre Fabiano e a seca trava-se uma luta de um caráter especial, porque o vaqueiro “Fabiano” tem nela um inimigo que não pode combater diretamente, mas por meios indiretos-fugindo.

Para este combate a seca encontra ajuda “solidariedade” na cidade na luta contra Fabiano. E, Fabiano tem três fatores: a energia vital física, Deus e as ilusões que o ajudam a resistir a seca. A energia vital física que lhe permite resistir aos obstáculos e que é indispensável preservar cautelosamente, sem esbanjamentos inúteis, como aparece em “Mudança”, em que Fabiano ao avistar o pátio “cerca” de uma fazenda sentiu vontade de cantar a sua alegria, mas logo se conteve: ” Calou-se para não estragar força “pág.12 Deus, Nossa Senhora, os santos e sinhá Terta com as suas rezas.

Deus podia afastar alguns males, a reza da Ave-Maria reza forte ” podiam esconjurar a seca e curar a novilha raposa que andava tresmalhada “. Fabiano e a família vão a igreja pelo Natal “Festa” rezam para esconjurar os malefícios e doenças do gado, mas não reconhecem Deus como origem das situações más, por isso esperam dele as boas, como se ele “Deus” fosse um intercessor junto do Destino.

As ilusões como: um futuro melhor para os filhos, uma cama de varas, um bebedouro imaginário, isto são necessários para melhor lutar. Esta esperança no futuro não passa de uma forma de ganhar novas energias para vencer o presente, funcionando como narcóticos para encarar as dificuldades da seca. Vidas Secas é um romance escrito em terceira pessoa, seu narrador é superior às personagens, pois tudo sabe tudo vê, tudo pode narrar por que não coincide com nenhuma personagem, uma vez que está por detrás de todas como narrador implícito e oculto.

O narrador está perfeitamente à vontade para narrar e contar de maneira intemporal, impessoal e sem quaisquer outros limites. Pois tudo é permitido. O narrador assume qualquer uma das cinco personagens: Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o mais novo e a cachorra “Baleia”; cuja linguagem das personagens não vão além de monossílabos, por isso não pode analisar nem se expressar sozinhas.

Cada personagem é especialmente analisada no capítulo que lhe pertence, com título apropriado e colocado em relação com as outras nos outros capítulos. No primeiro capítulo “Mudança” as personagens apresentam-se todas juntas e numa ordem cronológica: Fabiano, sinhá Vitória, o menino mais velho, o mais novo, a cadela “Baleia” e o papagaio.

Sabendo-se que este capítulo é o resumo de toda a história, pois o detalhe de cada personagem será, dito no capítulo que pertence a cada uma. ” Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatros cantos,zangado, praguejando baixo “pág.9 Isto é o comportamento do pai perante o filho mais velho.

  1. E no capítulo que lhe pertence o que aconteceu em “Mudança” é explicado com mais detalhe.
  2. B” Ele, o menino mais velho, caíra no chão que lhe torrava os pés.
  3. Mal sentia as pancadas que Fabiano lhe dava com a bainha fada de ponta.
  4. Pág.59 Na caminhada que os retirantes fazem, o filho mais velho não consegue acompanhar por causa do sol forte e da fome que estão passando.

Fabiano, o pai, fala alguma coisa monossilábica, mexe no filho e não tem resultado. No capítulo designado ao filho mais velho, isto é, posto com detalhes. Na verdade, o narrador conta toda a história e a fala das personagens estão agregadas para que pareça seu pensamento.

Fazendo uso da metalinguagem o narrador tem o conhecimento de toda a história e, faz uso da função fática para estabelecer um diálogo perfeito na relação narrador-leitor. Ao narrar o capítulo do “Menino mais velho” o narrador incorpora a personagem para o distanciamento não ser nítido. A cachorra Baleia é humanizada, pois pensa, sonham tem consciência dos sofrimentos e da morte muito próxima dos seres humanos a que está agregada.

O apanhar um preá é dado como importante para a narrativa, a fim de encarecer o que isso vale com fator de sobrevivência para o grupo que caminha. Por isso o narrador dá uma grande importância a este episódio. A cadela morre atingida pela hidrofobia (sarna), mas mesmo na execução deste castigo se afirma a violação da proibição por parte do sujeito, que não deixa o animal morrer por si mesmo, antes lhe dá o golpe de misericórdia, afirmando a sua contingência e liberdade contra a força necessária que o quer aniquilar.

  • Baleia espera a morte sonhando com outro tipo de vida, ao lado de Sinhá Vitória, consegue elaborar seus devaneios.
  • Dado o caráter bivalente de Vidas Secas como romance regionalista e psicológico.
  • A onisciência da terceira pessoa só atinge a amplitude nas descrições exteriores e sofre as limitações que faz equivaler à primeira pessoa.

Usando o caráter ambíguo das formas verbais (imperfeito do subjuntivo e do pretérito imperfeito e mais que perfeito do indicativo), o narrador narra como se comentasse e comenta como se narrasse. O imperfeito corresponde ao aspecto cursivo, definindo o desenrolar da ação ou a apresentação da qualidade como algo que dura e se desenvolve dentro dum determinado período de tempo e de importância.

O perfeito assinala que o modo de manifestação do processo indicado na enunciação ocorre num ponto determinado, concentrando o interesse do leitor de maneira instantânea e prende sua atenção para um momento de convergência. No capítulo “Cadeia” isso fica claro ” Não queria( pretérito imperfeito) capacitar-se de que a malvadez tivesse sido( pretérito imperfeito do subjetivo) para ele.

Havia ( pretérito imperfeito) engano, provavelmente o amarelo o confundira(pretérito mais que perfeito) com outro. Não era(pretérito imperfeito) senão isso, Então por que um sem-vergonha desordeiro se arrelia(presente), bota-se(presente) um cabra na cadeira, dá-se(presente) pancada nele? Sabia(pretérito imperfeito) perfeitamente que era assim, acostumara-se(pretérito mais que perfeito) a todas as violências, todas as injustiças “pág.33 O início da narração é feita com os verbos no pretérito imperfeito do modo indicativo e no imperfeito do subjuntivo para demonstrar que é o narrador falando.

Mas parece mais o pensamento da personagem por que depois, vêm os verbos no presente, e no termino os verbos voltam ao modo indicativo “pretérito”. Ao usar o pretérito mais que perfeito junto com o imperfeito gradua a importância narrativa em relação a um marco cronológico. Mas como Graciliano Ramos faz uso do discurso indireto livre e agrega a personagem ao narrador; forjando, assim, um monólogo onde apenas o narrador conta a história.

Lembrando-se que as falas das personagens são monossilábicas, e o devaneio que são as falas do personagem parece o estado mental do narrador. O tempo adquire um caráter lógico, porque as personagens sempre em movimento através da mudança contínua dos estados: tanto física como psicológica.

  1. As informações concretas são bem poucas, não são marcos absolutos e claros, mas relativos a outros marcos que se encadeiam em ate cedentes imprecisos.
  2. ” Entrava dia e saia dia ” pág.13
  3. ” Agora Fabiano era vaqueiro ” pág.19
  4. O narrador situa o encontro com o soldado amarelo um ano depois do episódio da ” Cadeia “

” voltou-se e deu de cara com o soldado amarelo que, um ano antes, o levara á cadeia ” pág.99 E no final do romance diz: ” dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos, o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia esmoreceram no seu espírito ” pág.120 ” Alguns anos ” este plural indica que um ano é insuficiente para conter toda a matéria do romance ou a vida é um ciclo de retomadas.

  1. Vidas Secas começa com uma fuga e acaba com outra, a ação fecha-se num circulo.
  2. A vida do sertanejo se organiza, do berço á sepultura, o perpétuo retorno.
  3. E, para o narrador interessa apontar o mútuo distanciamento de determinado momentos de sucessão.
  4. Isto subtrai a cronologia do tempo criando um efeito psicológico.
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Em Vidas Secas não há o contraponto entre o presente da escrita e o passado dos acontecimentos porque o narrador se dissimula perfeitamente por detrás do relato e aparece interessado em que o leitor se aperceba o menos possível de sua presença. É uma ocultação que não impede a relação narrador-leitor, mas a atenue bastante.

  • CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • Como José Luiz Meurer comenta:
  • “Ler criticamente significa procurar entender que representar o mundo de uma determinada maneira, construir e interpretar textos evidenciando determinadas relações e identidades constituem formas de ideologia.”

Apesar, e por causa, desta investigação, pudemos perceber que já existem alguns estudos e muitas perguntas sobre a criticidade na leitura. Porém, podemos encarar isto como positivo, porque é somente através da curiosidade, do levantamento de questões que às vezes parecem sem resposta, que poderemos investigar, acoplar ou desprezar conceitos que nos mostrarão caminhos alternativos no ensino/aprendizagem.

  1. Meurer ainda diz: Uma necessidade e um desafio que permanecem para lingüistas aplicados, psicólogos da cognição e todos os interessados na importância da linguagem para as práticas sociais humanas é a busca de formas de desenvolver a leitura crítica.
  2. É preciso ver o processo de leitura não apenas em sua dimensão cognitiva, mas também em sua abrangência social.

Nesse contexto, permanece e é premente a necessidade de desenvolver e testar formas de incentivar alunos e professores, e indivíduos em geral, a se interessarem em quebrar o círculo do senso comum, daquilo que parece natural, não problemático, mas que recria e reforça formas de desigualdade e discriminação.

Depois de tantos experimentos, Joanne Busnardo e Maria da Glória Moraes mostram seu raciocínio sobre a integração do ensino, bem como a escolha de textos: Se acreditamos na centralidade da participação ativa do sujeito na compreensão, produção e aquisição da linguagem, e nas interações leitor/autor e aluno/professor, o ensino de línguas ligado a um universo de discurso familiar e importante para o aluno parece ser quase imprescindível.

Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que o simples fato de oferecer textos dentro de uma área acadêmica específica não garante a participação necessária para a aquisição é o livre desejo de ler um texto, ou de comunicar-se. Todas as orientações contidas nos autores citados neste trabalho servem, e continuarão servindo, à aplicação de leitura crítica em qualquer modalidade da língua.

  1. Mas o que pudemos apreender deste levantamento, é que embora o experimento muitas vezes possa nos desconcertar ou mesmo nos desestimular, ainda é mais válido que repetir velhas fórmulas que já não dão conta de um aprendizado realmente profundo e duradouro.
  2. Também cabe às autoras referidas no penúltimo parágrafo o fechamento desta conclusão: Resta dizer que o tipo de procedimento que acabamos de descrever envolve sempre certo grau de risco: afinal, estamos utilizando textos que não entendemos completamente.

Sempre existe a possibilidade dos alunos não poderem contribuir muito à elucidação de certo sentido. Queremos sugerir aqui que, apesar do perigo, vale a pena arriscar. Porque sem este risco, a elucidação de sentidos através da interação também não pode existir.

Diante do exposto, pode-se perceber que a leitura exercitada corretamente possui vasta função social na medida em que é parte axial de uma consciência crítica que tem como fruto a formação intelectual de homens críticos e formadores de opinião, participativos no processo de evolução social. Nesse sentido, abordamos aspectos que ajudam e dificultam o ato de ler de forma eficaz fazendo um comparativo entre as causas e as conseqüências de uma leitura passiva, nociva aos leitores, em geral, mas de conformidade com os anseios das classes dominantes.

De qualquer forma, sejamos otimistas ou pessimistas, apocalípticos ou integrados, podemos tomar como base que uma nova leitura do mundo é necessária, que a imensa maioria não está preparada para ou não sabe como fazer essa leitura, e que esse ato de ler não será isento de ideologia.

E mais ainda, não haverá o conforto de uma leitura “totalizante”: teremos que conviver tolerantemente com diferentes leituras do mundo. Podemos concluir ainda que temporariamente, a melhor coisa que uma escola pode oferecer aos alunos, é a leitura, sem dúvida, é uma grande herança da educação, é o prolongamento da escola na vida, já que a maioria das pessoas, no seu dia-a-dia, lê muito mais do que escreve.

REFERÊNCIAS CRISTOVÃO, Fernando Alves. Graciliano Ramos: estrutura e valores de um modo de narrar, Brasília. Ed. Brasília, INL, 1975. FOUCAMBERT, Jean. A Leitura em Questão. Porto Alegre, Artes Médicas, 1983. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler.22 ed.

São Paulo: Cortez, 1988, 38a edição. GALVES, CHARLOTTE C., e JoAnne Busnardo.1982. “Leitura em Língua Estrangeira e Compreensão e Produção de Textos em Língua Materna,” em Anais do I Relê (Redação e Leitura): PUC – São Paulo. KLEIMAN, A. _ ” A construção do sentido no texto, in Oficina de Leitura: teoria & prática.

KLEIMAN, A. _ “O ensino da leitura: a relação entre modelo e aprendizagem” MARIA, Luzia de. Leitura & Colheita. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. MARTINS, Leoneide Maria Brito. Prática de leitura na universidade: uma reflexão teórico-crítica. Revista do mestrado em educação.

  • São Luís, MA, v1, n1.p.66-68.
  • Jan/jun MOISÉS, Massaud.
  • A Criação Literária- Prosa.S.
  • Paulo, Cultrix,1979, 15ª ed.1994; 10ª ed.
  • MEURER, JOSÉ L._.
  • O Trabalho de Leitura Crítica: Recompondo Representações, Relações e Identidades Sociais” RAMOS, Graciliano.
  • Seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico e exercícios.

São Paulo: Abril Educação, 1 981,b RAMOS, Graciliano. Vidas Secas, São Paulo: Abril Educação, 1 999, RODRIGUES, Antonio Medina, CASTRO, Dácio Antonio de; RODRIGUES, Neidson. Lições do príncipe e outras lições. Ed. Cortez. São Paulo.1984 SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar.

Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. TEIXEIRA, Ivan; JÚNIOR, José de Paula Ramos. Coleção Anglo, – São Paulo: Anglo, 1990-1991. TOMITCH, L.M.B. Schema activartion and text comprehension. Fragmentos: Revista de Língua e Literatura Estrangeiras, 3(2), 1991 p.29-43 VIRILIO, Paul. A Bomba Informática, São Paulo, Estação Liberdade, 1999.

: “VIDAS SECAS”: UMA LEITURA CRÍTICA – Brasil Escola

Que conflito se apresenta para as personagens de Vidas Secas?

Robson dos Santos A narrativa dos sobreviventes: movimento, miséria e história em Vidas Secas (,) marcharemos com nosso amargor. E algum dia os exércitos da amargura irão pelo mesmo caminho. E eles todos caminharão juntos, e haverá então um terror de morte.

  1. John Steinbeck, As Vinhas da Ira O romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos tem o privilégio (ou a desvantagem) de já ter sido demasiadamente analisado, criticado, celebrado, relembrado, etc., isto é, ganhou uma posição na história da literatura brasileira com poucos equivalentes.
  2. A situação canônica do livro pode representar, paradoxalmente, uma assombrosa barreira à sua leitura.

Afinal, nada parece haver de novo para ser expresso sobre ele. Por outro lado, uma releitura acaba sempre por fornecer outra perspectiva: um detalhe, uma nuance, uma possibilidade pode surgir. Nesse curto artigo buscamos tentar compreender a maneira pela qual a idéia de viagem, da necessidade de fugir, do exílio surge em Vidas Secas, buscando vislumbrá-lo também sob a idéia de uma literatura de testemunho, que almeja exprimir uma situação limite.

  • Como destaca Márcio Seligmann-Silva, a literatura de testemunho implica também no sentido de “sobreviver”, de ter-se passado por um evento-limite, radical, passagem essa que foi também “atravessar a morte”.
  • Tal tema não surge apenas em obras escritas pelos sobreviventes de alguma tragédia, mas há também um teor testemunhal da literatura de um modo geral, que se torna mais explícito nas obras nascidas de ou que têm por tema eventos-limite.

Esta me parece ser a situação de Vidas Secas. ***** Vidas Secas é publicado em 1938. No ano seguinte inicia-se aquilo que talvez constitua a principal catástrofe já registrada pela história: a Segunda Guerra mundial. O absurdo do conflito mundial revela-se no holocausto, no extermínio indiscriminado de inimigos construídos pelo nazismo e na utilização das mais avançadas técnicas de assassinato em massa.

Instala-se a perseguição generalizada, que gera a fuga, o movimento forçado das vítimas. Ao lembrar tal período para adentrarmos em Vidas Secas não queremos estabelecer nenhum equivalente ou qualquer forma de comparação entre tragédias, essas não se comparam. Se Vidas Secas é o romance sobre indivíduos que são expulsos de sua terra pela miséria e tornam-se exilados dentro de seu próprio território, a guerra, o holocausto e a diáspora são incomparáveis na tarefa de gerar exilados dentro de seus próprios países.

Em Vidas Secas a miséria cumpre tal papel. A história de Fabiano e de sua família – ou poderíamos dizer de Baleia e sua família – é a narrativa de uma viagem sem um roteiro traçado, mas ininterrupta. O início do livro e seu final relatam o drama da obrigação de migrar infinitamente, de caminhar para qualquer destino que aparente ser menos miserável que a situação em que se encontram.

“Mudança” e “Fuga”, respectivamente, o primeiro e o último capítulo do livro. Ambos nomeiam situações de movimento, tentativas de escapar de algum perseguidor, seja esse a destruição ou a fome. “Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas”.

Isso no início. No último capítulo o movimento é retomado e a diáspora causada pela seca se refaz: “mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do amo.

Não poderiam nunca liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe restava jogar-se ao mundo, como negro fugido”. A comparação feita por Graciliano entre a situação da família de Fabiano e a de escravos que tentavam fugir de seus proprietários nos faz recordar outra grande diáspora: a dos negros que eram capturados em diversas regiões da África e conduzidos brutalmente às regiões do Novo Mundo.

A viagem surge aqui como uma forma de violência que tinge as rotas do Atlântico com as tonalidades do absurdo e da dor. A família de Fabiano caminha rumo a algo que desconhece. Os escravos capturados navegavam cegos ao ritmo do oceano. Ambos moviam-se sob o signo da incerteza.

O relato de Vidas Secas não é a história dos navios negreiros e seus porões obscuros.; não é sobre o horror do holocausto ou sobre a diáspora judaica, mas compartilha com tais tragédias e principalmente com os indivíduos que a vivenciaram a incerteza daqueles que são obrigados a abandonar seus países, suas aldeias, suas comunidades, seus amigos, familiares, suas crenças e amores para escaparem da morte ou serem conduzidos a ela.

O primeiro capítulo de Vidas Secas caracteriza-se pelo movimento extremamente lento dos viventes que atravessam o sertão, numa metáfora quase bíblica, em busca de algum lugar em que a miséria seja menos cruel, um lugar em que os animais de estimação não precisem tornarem-se alimento, tal como o papagaio que é devorado no início do livro.

A fazenda que encontram no caminho interrompe a jornada, mas não significa o fim da miséria. Talvez seja apenas o anúncio da vida que já tentou existir ali e que insiste em deixar seus vestígios como que querendo alertar sobre a impossibilidade de viver, ao menos naquele local. ” Estavam no pátio de uma fazenda sem vida.

O curral deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham fugido”. A decisão de permanecer na fazenda resulta apenas da impossibilidade de optar por outro destino. Isso, contudo, devolve ao vaqueiro certo otimismo para com a existência e o futuro da família.

  • Eram todos felizes.
  • Sinha Vitória vestiria uma saia larga de ramagens.
  • A cara murcha de sinha Vitória remoçaria, as nádegas bambas de sinha Vitória engrossariam, a roupa encarnada de sinha Vitória provocaria a inveja dos outros (.) Uma ressurreição.
  • As cores da saúde voltavam à cara triste de sinha Vitória.

Os meninos se espojariam na terra fofa do chiqueiro das cabras – chocalhos tilintariam pelos arredores. A catinga ficaria verde”. A viagem que é temporariamente interrompida reativa a esperança da família e a libido de Fabiano. A seca tosta os corpos, sufoca suas feições eróticas.

  1. Os toques, quando ocorrem, são os significantes da violência.
  2. Não há afeto, nem palavras reconfortantes, ou sequer palavras.
  3. Os gestos em conjunto com os murmúrios compõe a linguagem de Vidas Secas.
  4. A parada na fazenda reativa a necessidade de desejar, seja os contornos de sinha Vitória, seja as brincadeiras singelas das crianças.

A viagem que ocorre em Vidas Secas tem como panorama a terra esturricada pela ausência de chuva. Graciliano ao dispor seus personagens em tal ambiente intenta denunciar a miséria nordestina e brasileira. No entanto, busca expor uma contradição inerente ao processo histórico do Brasil.

Os anos 30 comportam e sintetizam muitas das perenes contradições do país. A superação do atraso nacional fornecia as diretrizes ao Estado autoritário de Vargas. A busca pela modernização exigia a eliminação daquilo que significava o velho. A burguesia urbana e industrial do Sul-Sudeste olhava com desânimo para os remanescentes ainda vigorosos da oligarquia rural Nordestina.

Tal contradição sustentava um intenso debate entre as mais variadas posições intelectuais presentes no cenário cultural e político. A necessidade que orientava as discussões, independente do lado em confronto, era a superação do tal atraso nacional e a inserção do país na modernização capitalista.

Isso exigia a elaboração de um “projeto de nação”, um corpo de sugestões que pudesse orientar o desenvolvimento do país. Nesse universo marcado pelo confronto político, as disputas ideológicas sofrem um acirramento, principalmente durante a década de trinta: integralistas e comunistas digladiam-se no campo intelectual, enquanto isso Getulio Vargas gesta uma Estado autoritário que identificava nos confrontos ideológicos do período uma ameaça a ordem: eis que surge o Estado Novo.

A civilização urbana e moderna era a solução que seduzia a maioria dos políticos e intelectuais. Exagerando os limites do bom senso, poderíamos indagar em que medida Vidas Secas representa uma rejeição à harmonia que almejava o Estado Novo. Ao que me parece o livro ilustra aquilo que a nova situação recusa e com isso explicita a contradição com cores quentes.

  1. A modernização capitalista é restrita e excludente, isso é óbvio.
  2. Menos clara é a maneira pela qual o desenvolvimento seria efetivado e suas benesses distribuídas.
  3. Vidas Secas parece sugerir que elas não o seriam.
  4. O parêntese aberto é muito longo, mas não de todo inútil.
  5. Longe dos objetivos deste pequeno texto reduzir Vidas Secas a algum panfleto político.

Porém, o movimento imposto a Fabiano não se esgota no nível da ficção. Basta recordarmos as massas de pessoas do Nordeste e de outras regiões do país, que foram e continuam sendo obrigadas a abandonarem seus lares em busca de melhores condições sociais.

Busca raramente bem sucedida. Seja em direção às metrópoles do Sudeste ou para qualquer local que forneça a ilusão de uma existência menos restrita. Essa é a mesma esperança que mobiliza Fabiano e a família a abandonarem a fazenda: ” E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes.

Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se, temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela.

  1. E o sertão continuaria a mandar gente para lá.
  2. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, sinha Vitória e os dois meninos”.
  3. A miséria em Vidas Secas impõe o movimento, a mudança, fornece uma fluidez e uma instabilidade às vidas, pois obriga a fuga permanente.
  4. Essa miséria, contudo, encarcera, limita e restringe a existência, tanto sugerindo a fome como um companheiro eterno, quanto sugando as forças necessárias ao movimento.

Em Vidas Secas a existência parece sempre encontrar-se numa situação limite. Narrar esta é o projeto de Graciliano, mesmo que o absurdo raramente possa ser narrado. Aqueles que suportaram situações limite dificilmente encontram uma forma de relatar sua experiência de maneira completa.

Primo Levi, em ” É isto um homem? “, a narrativa de sua experiência como prisioneiro de um campo de concentração, afirma em certa altura de sua obra que as palavras das quais as diversas línguas dispõe são incapazes de fornecerem os recursos necessários para traduzir o absurdo de um campo de concentração ou de qualquer outra experiência com a dor extrema, o horror, enfim, situações-limite.

Não é gratuita a escassez de palavras que Graciliano impôs em sua construção. Os membros da família de sinha Vitória não se comunicam verbalmente, afinal não dominam esse recurso. Mas também Graciliano se recusa a preencher seu texto com excessos, pois esses seriam inúteis e soariam artificiais.

A “Mudança” e a “Fuga” comprimem o relato da tragédia narrada por Graciliano. A viagem interrompida é retomada e a miséria volta a cumprir seu papel. O absurdo continua obscuro e pouco esclarecido à espera das palavras que irão lhe destroçar a lógica e desnudar seus mecanismos. A viagem enfrentada por Fabiano não fornece qualquer tipo de recordação paradisíaca de alguma imagem deslumbrante, de algum novo amigo, ou qualquer outra referência que poderia fazer com que ele olhasse com saudosismo o chão deixado para trás.

Resumo de Vidas Secas – Capítulo 1 – Mudança

O saldo de sua jornada é a degustação de um membro da família e a morte de outro. Diáspora, navios negreiros, retirantes, imigrantes, todos organizam-se e definem-se a partir da locomoção obrigatória, do movimento forçado, da expulsão. Para atualizarmos os termos, poderíamos pensar na mão-de-obra dos países subdesenvolvidos que arriscam a vida para transpor as fronteiras extremamente vigiadas do mundo globalizado e “ganhar a vida” nos países desenvolvidos.

  1. Retirantes modernos ou pós-modernos perseguem expectativas similares e enfrentam pavores que os mantém sob a instabilidade da “Mudança” e da “Fuga”.
  2. Mestrando em Ciências Sociais no IFCH/UNICAMP SELINGMANN-SILVA, Márcio (org.).
  3. História, Memória, Literatura – O testemunho na Era das Catástrofes. Ed. Unicamp.

Campinas, 2003. : Robson dos Santos