Contents
- 1 Quem matou o Zé Pilintra?
- 2 Quais são os poderes de Zé Pilintra?
- 3 Em que ano seu Zé Pelintra morreu?
- 4 O que Zé Pilintra gosta de fumar?
- 5 Onde fica Zé Pilintra?
Qual é a função do Seu Zé Pilintra?
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Zé Pelintra | |
---|---|
Imagem de Zé Pelintra | |
Outro(s) nome(s) | Mestre do Catimbó |
Nome nativo | José Pereira dos Anjos |
Clã | Linha dos Malandros |
Símbolo | comidas nordestinas, cerveja clara, cigarro, moedas, cartas de baralho |
Dia | 07 de julho ou 28 de outubro |
Cor(es) | branco e vermelho |
Região | Brasil |
Religiões | Catimbó e Umbanda |
Zé Pelintra ou Zé Pilintra é uma falange de entidades de luz originária da crença sincrética denominada Catimbó, surgida na Região Nordeste do Brasil, O Zé Pelintra também é comumente incorporado em terreiros de Umbanda, tendo seu culto difundido em todo o Brasil,
Nessa religião, é considerado parte da linha de trabalho dos malandros, O Zé Pelintra é uma das mais importantes entidades de cultos afro-brasileiros, especialmente entre os umbandistas. É considerado o espírito patrono dos bares, locais de jogo e sarjetas, embora não alinhado com entidades de cunho negativo, é uma espécie de transcrição arquetípica do ” malandro “.
Exatamente por isso, serve igualmente como um arquétipo da cultura de origem africana enquanto alvo de preconceito. Segundo relatos, teria nascido no estado de Pernambuco, Há, ainda, relatos de que nasceu próximo à cidade pernambucana de Exu,
Quem foi Zé Pilintra na vida real?
Dia do Zé Pelintra, instaurado pela Câmara Municipal, celebra entidade ‘malandra’ no Rio
- Em 2022, a Câmara Municipal do instituiu na cidade o, que será comemorado oficialmente pela primeira vez neste 7 de julho, sexta-feira.
- Zé Pelintra é uma entidade espiritual adotada pela Umbanda, mas que surgiu no Catimbó, crença de origem nordestina.
- Orixá da traquinagem, da brincadeira e da diversão, ele é considerado o patrono dos, dos locais de jogo e das sarjetas.
Representação de Zé Pelintra no espetáculo Dzi Croquettes, no Rio, em 2015 – Ana Marta/Divulgação
- Sua imagem é a personificação do malandro: terno branco, sapatos bicolores, gravata grená ou vermelha e chapéu panamá com fita vermelha ou preta.
- Seguidores de Zé Pelintra, conhecido também como o “advogado dos pobres”, costumam invocá-lo em questões de finanças e de negócios.
- Segundo o vereador Átila Nunes (), que criou com o colega Tarcísio Motta () o projeto de lei que instituiu a data, a intenção é que ela seja “aproveitada para os festejos tradicionais, a unificação entre lideranças religiosas e instituições que sofrem com intolerância religiosa, e “.
- Confira, abaixo, três lugares para comemorar o Dia do Zé Pelintra no Rio.
- Santuário do Zé Pelintra Idealizado em 2015, o monumento aberto ao público foi tombado como Patrimônio Material Carioca em 2022.
- Ladeira de Santa Teresa, 1, Lapa, centro.
Bar Casa de Malandro A data será comemorada com roda de samba do projeto “Salve a Malandragem!” e presença dos representantes do Santuário do Zé Pelintra.R. Clara Nunes, 61, Madureira, zona norte. Sex (7), a partir das 20h. Praça da Harmonia (Coronel Assunção) A Unica (União Umbandista Luz Caridade e Amor) celebra o Dia do Zé Pelintra com gira de malandros, expositores e roda de samba.R.
Quem o Zé Pilintra protege?
Zé Pilintra é uma entidade espiritual presente na religião afro-brasileira da Umbanda. É um espírito protetor das crianças e também é considerado o orixá da traquinagem, brincadeira e diversão. Conhecido como um espírito bondoso e divertido, Zé Pilintra é frequentemente invocado para ajudar a proteger crianças e jovens, bem como para trazer alegria e diversão à vida das pessoas.
- No Rio de Janeiro, a Lapa parece ser o seu lugar de morada e, a Lapa também é conhecida como casa de outro personagem da cultura brasileira do samba, o bom e velho Malandro Carioca.
- O malandro carioca é definido como um homem astuto, engraçado e carismático, que usa sua inteligência e habilidade para se safar de situações difíceis e garantir sua sobrevivência e, pelas vezes, pelo amor pelo samba, pela música e pela dança, muitas vezes é considerando como uma encarnação do próprio Zé Pilintra.
Assim o bairro da Lapa foi o escolhido para abrigar o Santuário dedicado a Zé Pilintra. Unindo estes dois personagens da cultura e da fé, o Santuário já configura como polo Nacional e internacional da maior concentração de devotos do Bom Mestre Zé Pelintra, onde muitos dos bons malandros cariocas vão pedir sua benção. Como a cultura do samba e a fé de matriz africana, especialmente da Umbanda, caminham de mãos dadas, a diretoria do Santuário vem se unindo aos amantes do samba, e a representantes de outras entidades religioas, para realizar ações contra a intolerância religiosa que é um problema grave que afeta várias crenças e comunidades.
No caso específico da Umbanda, essa intolerância é sentida de forma particularmente dolorosa, uma vez que a religião é frequentemente desrespeitada e desvalorizada por aqueles que não a compreendem. Sendo portanto a intolerância religiosa, uma violação dos direitos humanos e uma ameaça à democracia e à convivência pacífica, já que todas as crenças devem ser respeitadas e valorizadas, no dia 21 de Janeiro de 2023 a diretoria do Santuário do Zé Pelintra composta por Diego Gomes, Jeff Duarte e Gisele Paiva juntamente com seus parceiros, estarão organizando a 2ª procissão a Zé Pelintra, pelos bairros da Lapa.
A 1ª procissão aconteceu em 2022 como uma manifestação pacífica contra a intolerância religiosa e pela aprovação da Lei 7.549/22 que instituiu no Rio de Janeiro, o dia do Zé Pilintra, comemorado na cidade do Rio de Janeiro no dia 07/07, ficando conhecida como Lei do 07/07. Naquela ocasião o evento teve a participação de artistas e líderes religiosos de todo Brasil. Este ano não será diferente, a procissão ao Santuário do Zé Pilintra contará com representantes de outras religiões e também com grupos represantivos do samba: Além do Babalao Ivanir dos Santos, o Padre Manoel Antero, vai a frente da procissão.
- A Velha Guarda da Estácio de Sá, Grupo de Maracatú Baque de Mulher, Grupo de Teatro tá na Rua, além de lideres religiosos e devotos de todo país se concentrando na Lapa, as 10h da manhã e partindo para a Cinelândia.
- O cortejo promete mais uma vez, um dia para ficar na história, com manifestação cultura e religiosa juntos como forma de demonstrar que é preciso fazer esforços para combater a intolerância religiosa, promovendo a educação e a compreensão mútua entre as diferentes crenças e comunidades.
Uma celebração à liberdade de crença, de manifestação e de expressão para todos os públicos.
Quem é Zé Pilintra na Igreja Católica?
Saravá, Seu Zé – CartaCapital Lá do Catimbó do Nordeste, das mesas da Jurema Sagrada, das pajelanças, chegam as primeiras histórias desse “nego”, Seu Zé Pilintra, uma das entidades mais populares das tradições de, No pé da juremeira, a árvore sagrada, o pau da ciência, firmou seu ponto e fincou sua raiz.
Do solo santo, das covas medidas pelo latifúndio, brotou a semente dos mestres. A força da oração, do catimbó, atravessa o território brasileiro, chega ao Rio de Janeiro e se espalha. Seu Zé, boêmio, malandro, descendo o morro de linho branco, panamá e bico fino, sambando e gingando no asfalto. Se o Zé do Catimbó é o mesmo da malandragem não sabemos.
Uns dizem que sim, outros dizem que não, mas nesses processos de tudo se funde. Leia também: A verdade é que a fé nesse “nego” emprestou a sua biografia certo ar de lenda, fortalecendo esse personagem que faz parte do imaginário do nosso povo. Contam que Zé Pilintra é uma entidade de muita luz e sabedoria.
- Sua origem nordestina ninguém mais contesta.
- Mesmo considerado um mestre juremeiro, Zé Pilintra, ou simplesmente Seu Zé, é umas das representações mais populares das macumbas cariocas, de onde chegou aos terreiros de umbanda, tendo seu culto difundido em todo o Brasil.
- Nessa transição do catimbó para a umbanda, os domínios e atribuições de Seu Zé foram se modificando.
Aqui vale a ressalva de que talvez o Zé Pilintra do Nordeste não seja o mesmo do Rio de Janeiro. Uns dizem que o Zé da malandragem carioca teria nascido no Morro de Santa Teresa e seria, inclusive, um médium que incorporava o mestre juremeiro. Outros defendem que as histórias se cruzam por conta dos nomes e dos personagens.
- De fato, a carioca é a grande responsável pela popularidade de Seu Zé Pilintra, considerado o rei da malandragem, das ruas e madrugadas.
- Como bom malandro, gosta de andar de bar em bar, das mesas de carteado, da boa bebida e das sombras das encruzilhadas, onde trabalham suas protegidas, as damas da noite.
- É esse arquétipo do malandro, ou seja, daquele indivíduo pouco ou nada alinhado com os padrões sociais, com a moral cristã e com os bons costumes, que Seu Zé representa.
- Sempre bem vestido, com seu terno de linho branco e sua gravata encarnada, “caminhando na ponta dos pés como quem pisa nos corações”, como cantou, Zé Pilintra é a síntese do bom brasileiro, irreverente e debochado, cheio de ginga e jogo de cintura, um verdadeiro mestre-sala.
- No culto da Jurema, o Preto Zé Pilintra vem de camisa comprida branca ou xadrez, calça também branca arregaçada, pés descalços e com um lenço vermelho ou estampado no pescoço.
Como quase todos os mestres, apoia-se num cajado ou bengala e usa o cachimbo, indispensável nesse ritual. Na umbanda, Seu Zé Pilintra vem na linha das almas ou dos baianos e se manifesta como os pretos-velhos, de traje branco simples e chapéu de palha, mas não dispensa o lenço vermelho.
Entre as muitas histórias que contam a vida de Seu Zé Pilintra, uma fala sobre um tal José Gomes da Silva, que teria nascido no interior de Pernambuco. Um negro forte e ágil, bom amante, que gostava da jogatina e das bebidas e nunca fugia de uma pendenga. Cheio de habilidades com a navalha e a peixeira, ninguém ousava desafiá-lo.
Até a polícia respeitava sua fama. Tinha, porém, um bom coração e era extremamente galanteador, tratando as mulheres como verdadeiras rainhas. A boemia, o carteado, o jogo de dados, a vadiagem, as mulheres, as brigas. De tudo que a noite trazia em seus mistérios ele gostava.
Sempre que um qualquer se julgava mais esperto, tanto nas cartas como nos dados, caía fácil nas manhas de Seu Zé, que perdia de propósito nas apostas baixas e, no fim, entre um gole e outro, levava todo dinheiro do incauto. Outra história remete ao povoado de Bodocó, nas proximidades do município de Exu, no sertão pernambucano.
Dizem que para fugir da seca, a família de José dos Anjos foi para o Recife. O menino teria perdido a mãe aos três anos de idade, sendo criado no meio da malandragem. Passou a dormir no cais do porto e virou moleque de recados das meretrizes. Tornou-se um homem alto, forte e respeitado no métier, mas misteriosamente, aos 41 anos, foi encontrado morto sem nenhum vestígio de ferimento.
- A importância religiosa da figura de Zé Pilintra inscreve-se na lógica da expansão da população brasileira e das migrações nordestinas para o Sudeste.
- Ao ser assimilada pelas antigas macumbas do Rio de Janeiro e pela umbanda, a entidade sofreu uma espécie de processo de sincretismo, inserindo-se no contexto dos grandes centros urbanos e na dinâmica de uma sociedade industrial.
- Traduz, a seu modo, os desafios dos desvalidos de toda sorte, sobretudo os homens negros, que para sobreviver sem dinheiro nem oportunidades tiveram que dar seu “jeito”, que se virar e usar toda sua malandragem e esperteza.
O Preto Zé Pilintra, mestre da jurema e malandro do morro, tem status de doutor. Formou-se na escola da vida, na ciência das leis da sobrevivência, a lei do silêncio, a lei do cão, no mister dos enjeitados.
- Advogado dessa gente pobre, Seu Zé é invocado pra todo tipo de ação, desde questões conjugais e domésticas, passando por negócios e finanças, até os casos de saúde.
- Na Umbanda do Rio de Janeiro, Zé Pilintra inspirou a linha do Povo da Malandragem, também introduzida nos terreiros de Candomblé da região por conta da conversão de alguns fiéis.
- Há, porém, aqueles que ainda o cultuam como um mestre juremeiro, preservando a tradição herdada de migrantes nordestinos.
A maioria dos devotos de Zé Pilintra está nos grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo. No Nordeste, muitos juremeiros e catimbozeiros preservam os costumes e guardam suas histórias, numa fé que ultrapassa os limites dos cultos afro-brasileiros.
- Na ginga de Seu Zé Pilintra toda velha e boa malandragem se reconhece.
- Pedindo licença a, ele desce a ladeira e toma o asfalto.
- Senhor da resiliência, mestre do jogo de cintura, das rodas de capoeira.
- Navalha no bolso, chapéu panamá, sapato lustrado, andar leve e altivo.
- Pai do “jeitinho brasileiro”, pai dos desprovidos.
Essa malandragem que o povo brasileiro herdou do negro foi condição indispensável para sobreviver às hostilidades da discriminação e do racismo. Saravá, Seu Zé. : Saravá, Seu Zé – CartaCapital
O que o Zé Pilintra faz de mal?
Lá do Catimbó do Nordeste, das mesas da Jurema Sagrada, das pajelanças, chegam as primeiras histórias desse “nego”, Seu Zé Pilintra, uma das entidades mais populares das tradições de matriz africana, No pé da juremeira, a árvore sagrada, o pau da ciência, firmou seu ponto e fincou sua raiz.
Do solo santo, das covas medidas pelo latifúndio, brotou a semente dos mestres. A força da oração, do catimbó, atravessa o território brasileiro, chega ao Rio de Janeiro e se espalha. Seu Zé, boêmio, malandro, descendo o morro de linho branco, panamá e bico fino, sambando e gingando no asfalto. Se o Zé do Catimbó é o mesmo da malandragem não sabemos.
Uns dizem que sim, outros dizem que não, mas nesses processos de sincretismo tudo se funde. Leia também: Precisamos avaliar os candidatos à reeleição da Bancada Evangélica Muçulmanas também dizem não a Bolsonaro A verdade é que a fé nesse “nego” emprestou a sua biografia certo ar de lenda, fortalecendo esse personagem que faz parte do imaginário do nosso povo.
- Contam que Zé Pilintra é uma entidade de muita luz e sabedoria.
- Sua origem nordestina ninguém mais contesta.
- Mesmo considerado um mestre juremeiro, Zé Pilintra, ou simplesmente Seu Zé, é umas das representações mais populares das macumbas cariocas, de onde chegou aos terreiros de umbanda, tendo seu culto difundido em todo o Brasil.
Nessa transição do catimbó para a umbanda, os domínios e atribuições de Seu Zé foram se modificando. Aqui vale a ressalva de que talvez o Zé Pilintra do Nordeste não seja o mesmo do Rio de Janeiro. Uns dizem que o Zé da malandragem carioca teria nascido no Morro de Santa Teresa e seria, inclusive, um médium que incorporava o mestre juremeiro.
- Outros defendem que as histórias se cruzam por conta dos nomes e arquétipos dos personagens.
- De fato, a macumba carioca é a grande responsável pela popularidade de Seu Zé Pilintra, considerado o rei da malandragem, das ruas e madrugadas.
- Como bom malandro, gosta de andar de bar em bar, das mesas de carteado, da boa bebida e das sombras das encruzilhadas, onde trabalham suas protegidas, as damas da noite.
É esse arquétipo do malandro, ou seja, daquele indivíduo pouco ou nada alinhado com os padrões sociais, com a moral cristã e com os bons costumes, que Seu Zé representa. Sempre bem vestido, com seu terno de linho branco e sua gravata encarnada, “caminhando na ponta dos pés como quem pisa nos corações”, como cantou Chico Buarque, Zé Pilintra é a síntese do bom brasileiro, irreverente e debochado, cheio de ginga e jogo de cintura, um verdadeiro mestre-sala.
- No culto da Jurema, o Preto Zé Pilintra vem de camisa comprida branca ou xadrez, calça também branca arregaçada, pés descalços e com um lenço vermelho ou estampado no pescoço.
- Como quase todos os mestres, apoia-se num cajado ou bengala e usa o cachimbo, indispensável nesse ritual.
- Na umbanda, Seu Zé Pilintra vem na linha das almas ou dos baianos e se manifesta como os pretos-velhos, de traje branco simples e chapéu de palha, mas não dispensa o lenço vermelho.
Entre as muitas histórias que contam a vida de Seu Zé Pilintra, uma fala sobre um tal José Gomes da Silva, que teria nascido no interior de Pernambuco. Um negro forte e ágil, bom amante, que gostava da jogatina e das bebidas e nunca fugia de uma pendenga.
Cheio de habilidades com a navalha e a peixeira, ninguém ousava desafiá-lo. Até a polícia respeitava sua fama. Tinha, porém, um bom coração e era extremamente galanteador, tratando as mulheres como verdadeiras rainhas. A boemia, o carteado, o jogo de dados, a vadiagem, as mulheres, as brigas. De tudo que a noite trazia em seus mistérios ele gostava.
Sempre que um qualquer se julgava mais esperto, tanto nas cartas como nos dados, caía fácil nas manhas de Seu Zé, que perdia de propósito nas apostas baixas e, no fim, entre um gole e outro, levava todo dinheiro do incauto. Outra história remete ao povoado de Bodocó, nas proximidades do município de Exu, no sertão pernambucano.
Dizem que para fugir da seca, a família de José dos Anjos foi para o Recife. O menino teria perdido a mãe aos três anos de idade, sendo criado no meio da malandragem. Passou a dormir no cais do porto e virou moleque de recados das meretrizes. Tornou-se um homem alto, forte e respeitado no métier, mas misteriosamente, aos 41 anos, foi encontrado morto sem nenhum vestígio de ferimento.
A importância religiosa da figura de Zé Pilintra inscreve-se na lógica da expansão da população brasileira e das migrações nordestinas para o Sudeste. Ao ser assimilada pelas antigas macumbas do Rio de Janeiro e pela umbanda, a entidade sofreu uma espécie de processo de sincretismo, inserindo-se no contexto dos grandes centros urbanos e na dinâmica de uma sociedade industrial.
Traduz, a seu modo, os desafios dos desvalidos de toda sorte, sobretudo os homens negros, que para sobreviver sem dinheiro nem oportunidades tiveram que dar seu “jeito”, que se virar e usar toda sua malandragem e esperteza. O Preto Zé Pilintra, mestre da jurema e malandro do morro, tem status de doutor.
Formou-se na escola da vida, na ciência das leis da sobrevivência, a lei do silêncio, a lei do cão, no mister dos enjeitados. Advogado dessa gente pobre, Seu Zé é invocado pra todo tipo de ação, desde questões conjugais e domésticas, passando por negócios e finanças, até os casos de saúde.
Na Umbanda do Rio de Janeiro, Zé Pilintra inspirou a linha do Povo da Malandragem, também introduzida nos terreiros de Candomblé da região por conta da conversão de alguns fiéis. Há, porém, aqueles que ainda o cultuam como um mestre juremeiro, preservando a tradição herdada de migrantes nordestinos. A maioria dos devotos de Zé Pilintra está nos grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo.
No Nordeste, muitos juremeiros e catimbozeiros preservam os costumes e guardam suas histórias, numa fé que ultrapassa os limites dos cultos afro-brasileiros. Na ginga de Seu Zé Pilintra toda velha e boa malandragem se reconhece. Pedindo licença a Exu, ele desce a ladeira e toma o asfalto.
Senhor da resiliência, mestre do jogo de cintura, das rodas de capoeira. Navalha no bolso, chapéu panamá, sapato lustrado, andar leve e altivo. Pai do “jeitinho brasileiro”, pai dos desprovidos. Essa malandragem que o povo brasileiro herdou do negro foi condição indispensável para sobreviver às hostilidades da discriminação e do racismo.
Saravá, Seu Zé.
Como o Zé Pilintra se manifesta?
Como quase todos os mestres, apoia-se num cajado ou bengala e usa o cachimbo, indispensável nesse ritual. Na umbanda, Seu Zé Pilintra vem na linha das almas ou dos baianos e se manifesta como os pretos-velhos, de traje branco simples e chapéu de palha, mas não dispensa o lenço vermelho.
O que mais incomodava era os homens que o rodeavam, Maria sempre alertava José que muitos que sentavam na mesa com ele pra jogar carteado eram lobos em pele de cordeiro. E assim aconteceu, Zé foi enganado por um dos que diziam ser seu parceiro e acabou por falecer. Navalha, faceira que só
Qual é a religião de Zé Pilintra?
Em 2022, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro instituiu na cidade o Dia do Zé Pelintra, que será comemorado oficialmente pela primeira vez neste 7 de julho, sexta-feira. Zé Pelintra é uma entidade espiritual adotada pela Umbanda, mas que surgiu no Catimbó, crença de origem nordestina.
- Orixá da traquinagem, da brincadeira e da diversão, ele é considerado o patrono dos bares, dos locais de jogo e das sarjetas.
- Sua imagem é a personificação do malandro: terno branco, sapatos bicolores, gravata grená ou vermelha e chapéu panamá com fita vermelha ou preta.
- Seguidores de Zé Pelintra, conhecido também como o “advogado dos pobres”, costumam invocá-lo em questões de finanças e de negócios.
Segundo o vereador Átila Nunes ( PSD ), que criou com o colega Tarcísio Motta ( PSOL ) o projeto de lei que instituiu a data, a intenção é que ela seja “aproveitada para os festejos tradicionais, a unificação entre lideranças religiosas e instituições que sofrem com intolerância religiosa, racismo e xenofobia “.
- Confira, abaixo, três lugares para comemorar o Dia do Zé Pelintra no Rio.
- Santuário do Zé Pelintra Idealizado em 2015, o monumento aberto ao público foi tombado como Patrimônio Material Carioca em 2022.
- Ladeira de Santa Teresa, 1, Lapa, centro.
- Santuariodozepelintraoficial Bar Casa de Malandro A data será comemorada com roda de samba do projeto “Salve a Malandragem!” e presença dos representantes do Santuário do Zé Pelintra.R.
Clara Nunes, 61, Madureira, zona norte. Sex (7), a partir das 20h. @casademalandrobar Praça da Harmonia (Coronel Assunção) A Unica (União Umbandista Luz Caridade e Amor) celebra o Dia do Zé Pelintra com gira de malandros, expositores e roda de samba.R.
Quem matou o Zé Pilintra?
Quem é Zé Pilintra? – Parte 3 *Por Iury Rafael de Souza Suas habilidades de jogador e amante geraram muitos inimigos. O fato é que ele começou a ser muito invejado, por causa dos seus truques e façanhas. Sabe o que isso lhe custou? Sua vida! Zé Pilintra foi assassinado com uma punhalada nas costas, traiçoeiramente, lógico.
Tinha que ser pelas costas, porque pela frente ninguém tinha coragem de enfrentá-lo. Não se sabe ao certo quem o matou. Alguns dizem que foi uma mulher enciumada, outros dizem que foi atingido por um desafeto. O fato é que, devido ao seu estereótipo, sua fama se tornou Internacional. É verdade! Eu não sei se vocês sabem, mas o próprio Walt Disney criou um personagem inspirado na fama do Zé Pilintra.
Esse personagem ficou conhecido lá fora com o nome de Zé Carioca. Vocês lembram daquele papagaio brasileiro e malandro? Zé Carioca era o típico malandro daquela época. Malandro no jeito de falar, no jeito de agir e no jeito de se vestir, assim como Zé Pilintra.
Se aqui, no Brasil, o malandro carioca era visto de uma maneira distorcida, lá no estrangeiro, eles tinham uma visão totalmente diferente da malandragem brasileira. E essa visão ficou consagrada no desenho de Zé Carioca, de Walt Disney. Percebam que hoje, na espiritualidade, o Zé Pilintra ainda se apresenta trajando um terno branco com sapatos bem lustrados, gravata vermelha, usando um chapéu Panamá.
Esse era o típico malandro carioca do começo do século passado.
Às vezes, ele também se apresenta, espiritualmente, usando uma bengala, mas sempre com muita elegância, com muita simpatia e com muita alegria.Enfim, ele foi o malandro mais famoso do mundo! *Iury Rafael de Souza é advogado em Foz do Iguaçu
No próximo capítulo, que pode ser visto, Iury aborda a espiritualidade de Zé Pilintra. Se você não leu a Parte 2 clique, Tags: : Quem é Zé Pilintra? – Parte 3
Quais são os poderes de Zé Pilintra?
Zé Pilintra, da história a orações e oferendas O Brasil é um país muito extenso que possui, em sua própria cultura, a influência de diversas outras regiões do mundo. Nesse cenário, religiões de matriz africana são muito populares, principalmente no Nordeste.
- A umbanda, por exemplo, é um culto que se tornou altamente difundido e popular em todo o país, sendo bastante conhecida pelos brasileiros.
- Apesar de ainda enfrentar muito preconceito, também possui força e não se deixa abalar, estando presente na vida de diversas pessoas.
- Assim como outras doutrinas, a umbanda também conta com certas figuras importantes que são bastante populares não somente entre os praticantes mas pelos indivíduos em geral.
Esse é o caso, por exemplo, de Zé Pilintra, uma entidade que muitas vezes é vista como maléfica, embora esse não seja o seu caso. Para eliminar qualquer dúvida e preconceito a respeito desse personagem tão popular, o Horóscopo Virtual criou um artigo especialmente para ele.
- Assim, todas as dúvidas acerca dele serão sanadas e o medo irracional será, finalmente, eliminado.
- Confira! A história de Zé Pilintra Acredita-se que Zé Pilintra, antes chamado de José dos Anjos, tenha nascido no sertão pernambucano, em um local conhecido como Bodocó.
- Entretanto, por causa de problemas envolvendo a seca, situação muito recorrente daquela região, ele e toda a sua família foram obrigados a se mudar para Recife.
Quando tudo parecia estar se ajeitando, contudo, uma fatalidade ocorreu e toda a sua família faleceu. Sozinho no mundo e sem local para ir, Zé Pilintra foi obrigado a morar na rua, trabalhando como garoto de recados e dormindo em meio a locais não agradáveis.
Por causa disso, cresceu em um ambiente noturno, e isso originou seu amor pelos jogos e pelas mulheres. Além disso, Zé Pilintra também era muito habilidoso com as facas e, por isso, era temido por todas as pessoas! Ainda jovem, resolveu se mudar para o Rio de Janeiro. Lá, não demorou muito para ele ficar extremamente conhecido, principalmente no que diz respeito às áreas boêmias da região.
Sua vida no local, entretanto, acabou cedo e de maneira drástica por causa de seu amor pelos jogos e pelas apostas, algo muito perigoso: Zé Pilintra foi assassinado pelas costas, já que ninguém tinha coragem de enfrentá-lo cara a cara. O que ele faz na vida da pessoa Conhecido por seu linguajar simples e bastante acessível, Zé Pilintra é uma entidade do bem.
Quando aparece no terreiro, ajuda na eliminação de energias negativas. Assim, auxilia na purificação da alma de todos os necessitados e também os ajuda a entenderem quais são os melhores caminhos que eles devem seguir – isso relacionado a qualquer tipo de assunto! Com diversas referências aos jogos que amava quando era vivo, Zé Pilintra realiza uma série de comparações entre a nossa vida e esses tais passatempos, tratando de tudo com bastante seriedade e conhecimento.
Caridoso, Zé Pilintra não incorpora em médiuns que possuam qualquer tipo de comportamento desviado, procurando sempre por pessoas iluminadas. Sendo assim, podemos dizer que ele é capaz de mudar a vida de uma pessoa para melhor por meio de seu poder de cura e seus conselhos.
- Quem teve ou tem contato com Zé Pilintra é uma pessoa muito sortuda, pois essa entidade, além de muito tranquila, procura sempre ajudar os outros! Simpático e agradável, Zé Pilintra normalmente é representado como um malandro carioca.
- Elegante, ele normalmente veste um terno branco – nunca preto! –, gravata vermelha, chapéu panamá e sapatos muito limpos e bem lustrados.
Às vezes essa entidade também é representada com uma bengala e uma fita vermelha ao redor de seu chapéu. Para ter uma noção do tamanho da popularidade de Zé Pilintra, ele se tornou a inspiração para a criação de Zé Carioca, um dos vários personagens de Walt Disney! Nele, podemos ver diversas características da entidade, desde a sua vestimenta até a sua forma de agir.
Como agradar seu Zé Pilintra? Agradar Zé Pilintra é uma tarefa relativamente simples e deve ser feita por meio das oferendas. Contudo, é importante ter cuidado e sempre possuir o auxílio de pessoas experientes, afinal cada entidade da umbanda possui suas singularidades, que precisam ser respeitadas. Amante de diversos tipos de comida, as suas favoritas remetem ao Nordeste, sua região de origem.
Por isso, oferendas com farofa, linguiça, sardinha, abóbora e outros alimentos sempre são muito bem-vindas. Além disso, por causa de seu lado boêmio, uma cerveja bem gelada cai muito bem e agrada bastante a entidade. Nesse cenário, velas, cigarros, jogos e moedas também satisfazem Zé Pilintra.
Para finalizar, é importante colocar essas oferendas em locais estratégicos e energizados, como ladeiras de morros, encruzilhadas e esquinas. Oração do Zé Pilintra Para finalizar este artigo que mostra quem Zé Pilintra foi e todo o bem que ele faz como uma entidade da umbanda, vamos mostrar uma oração bela e bastante poderosa que foi feita especialmente para ele.Confira:
“Salve Pai Celestial, criador do céu e da Terra/Salve Pai Oxalá, orixá maior, criador do mundo e dos humanos!/Bendito seja o Senhor do Bonfim!/Salve Zé Pilintra, mensageiro da luz, guia e protetor de todos aqueles que, em nome de Jesus, praticam a caridade./Dai-me, Zé Pilintra, o sentimento suave que se chama misericórdia, assim como os bons conselhos; dai-me a proteção quando puder; dai-me o apoio, a instrução espiritual de que necessito, para dar aos meus inimigos o amor e a misericórdia que lhes devemos, por amor de nosso Senhor Jesus Cristo, para que todos os homens e mulheres sejam felizes na Terra, e possam viver sem amarguras, sem lágrimas e sem ódio./Tomai-me, Zé Pilintra, sob a vossa proteção./Desviai de mim os espíritos atrasados e obsessores enviados pelos nossos inimigos encarnados e desencarnados e pelo poder das trevas./Iluminai meu espírito, minha alma, minha inteligência e o meu coração, abrasando-me nas chamas do seu amor por nosso Pai Oxalá./Valei-me, Zé Pilintra, neste momento, concedendo-me a graça do seu auxílio, junto a Nosso Senhor Jesus Cristo, em favor deste pedido que faço agora (pensar no seu pedido)./E que Deus, Nosso Senhor, em sua infinita misericórdia, cubra a mim e meus entes queridos de bênçãos, e aumente a sua luz e a sua força, para que mais e mais possa espalhar sobre a Terra a caridade e o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo./Assim seja!” : Zé Pilintra, da história a orações e oferendas
Quantos Zé Pelintra existe?
Zé Pelintra se divide em dois malandros, o ritualístico que faz uso de bebidas, brinca com as mulheres, porém, busca trabalhar espiritualmente. E o malandro negro capoeirista que relembra a exclusão de personagens humildes.
Em que ano seu Zé Pelintra morreu?
Caríssimos leitores da coluna papo de malandro: vamos fazer agora uma grande viagem do sobrenatural ao real. Muito se fala sobre seu Zé Pelintra, mas poucos sabem sua verdadeira história. Muitos ainda acham que Seu Zé é apenas um personagem de contos populares. A incompreensão paira diante da dúvida: Um mito, um homem, um malandro? Muito acima de tudo isso posso afirmar que é um grande exemplo de ser humano.
- Em relação ao nome deste personagem enigmático, existem várias histórias e lendas.
- Mas, existiu um homem e uma história que deu origem as demais: José por batismo e Pelintra por propriedade, malandro sem ser marginal (pois o único crime dos malandros foi a capoeira proibida em 1889 mesmo sendo útil em guerras como a do Paraguai e revolução dos mercenários por volta de 1860); Malandro por ser esperto como um tigre, astuto como um águia, sagaz como uma coruja e ágil como uma serpente.
Dançava com maestria e manejava um punhal como se tivesse dançando pois, na época, a autodefesa era extremamente necessária. Nascido na fazenda da cidadezinha de Exu no interior de Pernambuco, José fulano de tal, teve sua infância usurpada: Seu lar destruído pelo alcoolismo e precisou se preparar desde cedo, na arte da capoeira para se defender e ser garoto de recado de meretrizes com quem aprendeu a arte da sedução, com a qual seduziu mulheres inclusive da alta sociedade a quem ouvia e dava espaço para falar, recebendo destas mimos e presentes.
Assim adotou por profissão dar às damas maltratadas o direito de serem ouvidas e ter seus pensamentos respeitados, o que os homens da época não costumavam fazer. Assim, trajando terno de linho branco, gravata vermelha de caxemira, chapéu panamá caído de lado, um anel de ouro com uma pedra vermelha que acreditava ser um amuleto e, ostentando uma longa bengala de madeira com um cabo de cabeça de serpente com pedras vermelhas nos olhos, passou a ser conhecido como Zé Pelintra.
Aliás, o “Pelintra” era tido como corruptela de pilantra, em referência a vida que as damas lhe proporcionavam. Depois passou a indiciar o doutor dos pobres ou “Seu Doutô” pelos ex escravos pois, possuía grandes conhecimentos em ervas medicinais tratando quem quer que fosse de feridas e enfermidades, da mesma forma que imediatamente dividia o que tinha com aqueles que passavam fome, dando a eles “o de comer”, como ele mesmo falava.
Não usava drogas, na verdade, gostava mesmo era de uns tragos de conhaque entre uma viagem e outra. Seu único vício era a caridade, amor ao próximo e cuidados especiais com as mulheres. José ou Seu Zé morreu em 1920 e está sepultado na cidade de Alhandra no Estado da Paraíba. As suas façanhas, o gosto pela vida noturna e o costume de estar sempre ao lado dos pobres e desvalidos, fizeram dele também uma entidade venerada em algumas religiões.
Portanto meus amigos, o Zé Pelintra, não é um mito. Falo como resultado de anos de pesquisas e de um grande trabalho de interpretação artística na qual, me coloco como a imagem real de Zé Pelintra para defender a tese de que esse homem deveria estar nos livros de história e não nos de contos e mitos.
O que Zé Pilintra gosta de fumar?
Por: R$ 49,00 Preço a vista: R$ 49,00 Para envios internacionais, simule o frete no carrinho de compras. Sua vida era viver à noite, a alegria, as cartas, os dadinhos a bebida, a farra, as mulheres e por que não, as brigas. Jogava para ganhar, mas não gostava de enganar os incautos.
- Bebem de tudo, da cachaça ao uísque, fumam na maioria das vezes cigarros, mas utilizam também o charuto.
- São cordiais, alegres e dançam a maior parte do tempo quando se apresentam, usam chapéus ao estilo Panamá.
- Podem se envolver com qualquer tipo de assunto e têm capacidade espiritual bastante elevada para resolvê-los, podem curar desamarrar, desmanchar, como podem proteger e abrir caminhos.
Mostrar mais
Onde fica Zé Pilintra?
Portal Santuário do Sr. Zé Pelintra e da Sra. Maria Navalha Venha conhecer o Portal Santuário do Sr. Zé Pelintra e da Sra. Maria Navalha, que preserva tradições afro-brasileiras e valoriza a diversidade cultural e religiosa, acolhendo pessoas de todas as crenças.
O Santuário de Zé Pelintra e Maria Navalha, localizado nos Arcos da Lapa, é um espaço dedicado à devoção aos espíritos guias Zé Pelintra e Maria Navalha, presentes nas religiões Umbanda e Candomblé e atrai pessoas em busca de proteção, inspiração e orientação espiritual. O Santuário se destaca por preservar as tradições afro-brasileiras e contribuir para a valorização da diversidade cultural e religiosa.
Ele está aberto a todos, independentemente de sua crença. As pessoas podem deixar oferendas, como flores, velas, bebidas ou comidas, seguindo as tradições da religião. O local é um destino imperdível tanto para moradores quanto para turistas que procuram uma experiência única no coração da cidade e em 2022, o Santuário foi reconhecido como Patrimônio Público Histórico e Artístico Nacional pelo IPHAN.
- O Santuário é um espaço de devoção, fé, amor e caridade, que busca ser seguro e cumprir sua missão de desenvolver o estado, com preocupação ambiental e preservação das tradições religiosas para as futuras gerações, e o objetivo do santuário é continuar a história de Zé Pelintra.
- Portal Santuário do Sr.
Zé Pelintra e da Sra. Maria Navalha
Qual é a Pomba Gira de Zé Pilintra?
Pelintras e padilhas: a dança dos corpos encantados
- O escritor e historiador Luiz Antônio Simas explica neste texto a origem de entidades das macumbas brasileiras e sua articulação com as ruas – e por que elas d esafiam uma sociedade fundada na lógica da contenção dos corpos.
- *
- O MALANDRO
Entidade poderosa dos terreiros de canjira, baixando em diversos ramos e linhas das macumbas brasileiras, Zé Pelintra nos coloca desafios. Há quem afirme que, originalmente, Seu Zé é um mestre do culto do catimbó nordestino que acabou se manifestando em outras vertentes das encantarias.
O culto do catimbó é de difícil definição. Abrange um conjunto de atividades místicas que envolvem desde a pajelança indígena até elementos do catolicismo popular, com origem no Nordeste. Tem como seus fundamentos mais gerais a crença no poder da bebida sagrada da Jurema e no transe de possessão, em que os mestres trabalham tomando o corpo dos catimbozeiros.
Dizem os juremeiros que os mestres foram pessoas que, durante suas vidas, desenvolveram habilidades no uso de ervas curativas. Com a morte, passaram a habitar um dos reinos místicos do Juremá. Lá são auxiliados pelos Caboclos da Jurema, espíritos de indígenas que conhecem as artes da guerra e da cura.
O Juremá é um lugar composto de reinos, aldeias e cidades, como nosso mundo real. Há, dependendo da linha do catimbó, quem trabalhe com cinco ou sete reinos, formados por aldeias ou cidades e habitados pelos mestres. Para a linha de cinco, os reinos são os do Vajucá, Urubá, Josafá, Juremal e Tenemé. Para a linha de sete, temos os reinos de Vajucá, Juremal, Urubá, Tigre, Canindé, Josafá e Fundo do Mar.
Os praticantes do culto consideram que Alhandra, no litoral Sul da Paraíba, é a cidade que representa os reinos do Juremá na Terra, onde os poderes dos mestres da Jurema teriam sido anunciados. A Jurema, sem o acento agudo, é uma bebida tirada da árvore de mesmo nome, bastante utilizada nos ritos de pajelança dos tupis.
- É ela que dinamiza o catimbó e práticas similares, como o babaçuê e o toré.
- Feitas essas breves observações sobre o catimbó, vamos a Seu Zé.
- Dizem muitas coisas e contam as mais mirabolantes e distintas histórias sobre certo José de Aguiar.
- Contam, por exemplo, que ele nasceu no Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, cresceu em Afogados da Ingazeira, outro município pernambucano, e posteriormente foi para o Recife, morando na Rua da Amargura, próximo à zona boêmia da cidade.
Sofrendo de mal de amor, apaixonado perdidamente por Maria Luziara, Zé teria resolvido percorrer os sertões e praias do Nordeste para esquecer o infortúnio. Esteve na Paraíba e em Alagoas. Até hoje os terreiros cantam o desamor e sua sina: “Na Rua da Amargura Onde Seu Zé Pelintra morava Ele chorava por uma mulher Chorava por uma mulher que não lhe amava.” Nessa peregrinação, ele teria sido iniciado nos ritos da Jurema sagrada por Mestre Inácio, por sua vez iniciado no culto pelos índios caetés.
Após se encantar ou morrer (há controvérsias), Zé de Aguiar baixou um dia no juremeiro José Gomes da Silva e disse que era José Pelintra, Príncipe da Jurema e Mestre do Chapéu de Couro. Quando baixa como entidade do catimbó nos terreiros nordestinos, Zé Pelintra é, portanto, um mestre. Com bengala e cachimbo, usa camisa comprida branca ou quadriculada e calça branca dobrada nas pernas, com um lenço vermelho no pescoço.
Sempre trabalha descalço. Ao chegar ao Rio de Janeiro, provavelmente trazido pelo traslado de inúmeros migrantes nordestinos atraídos para a cidade que, na primeira metade do século XX, era a capital federal, Seu Zé se transformou. Virou carioca e teve seu culto incorporado pela linha da malandragem na umbanda.
- Há quem diga que foi morar na Lapa, farreou à vontade e morreu numa briga no Morro de Santa Teresa.
- Abandonou as vestes de mestre da Jurema e agora baixa nos terreiros da Guanabara trajando terno de linho branco, sapato de cromo, chapéu panamá e gravata vermelha.
- Seu Zé se adaptou a essa nova circunstância.
A viagem do Pelintra é até hoje retratada em um de seus pontos mais famosos: “Ô Zé, quando vem de Alagoas Toma cuidado com o balanço na canoa Ô Zé, faça tudo que quiser Só não maltrata o coração dessa mulher.” A MOÇA Zé Pelintra é a figura icônica do malandro nos terreiros do Brasil.
- Já a figura feminina que ocupa um lugar de protagonismo nas rodas da malandragem e nas giras dos exus é a pombagira.
- Se o Zé é o catimbozeiro que se fez malandro nas curimbas cariocas, quem são as moças formosas – maneira pela qual as pombagiras são conhecidas nas umbandas? Há que se raspar o fundo do tacho para, palidamente, acariciar os saberes que podem nos levar a elas.
Do ponto de vista da etimologia, a palavra pombagira certamente deriva dos cultos angolo-congoleses aos inquices. Uma das manifestações do poder das ruas nas culturas centro-africanas é o inquice Bombojiro, ou Bombojira, que para muitos estudiosos dos cultos bantos é o lado feminino de Aluvaiá, Mavambo, o dono das encruzilhadas, similar ao Exu iorubá e ao vodum Elegbara do povo fon,
- Em quimbundo, pambu-a-njila é a expressão que designa o cruzamento dos caminhos, as encruzilhadas.
- Os cruzos religiosos entre as várias culturas de origens africanas, ritos ameríndios, tradições europeias, vertentes do catolicismo popular etc.
- Dinamizaram no Brasil vasta gama de práticas religiosas fundamentadas em três aspectos básicos: a possibilidade de interação com ancestrais, encantados e espíritos através dos corpos em transes de incorporação (é o caso da umbanda) e expressão (é o caso dos candomblés); um modo de relacionamento com o real fundamentado na crença em uma energia vital – que reside em cada um, na coletividade, em objetos sagrados, alimentos, elementos da natureza, práticas rituais, na sacralização dos corpos pela dança, no diálogo dos corpos com o tambor; e na modelação de condutas estabelecidas pelo conjunto de relatos orais e pela transmissão de matrizes simbólicas por palavras, transes e sinais.
A pombagira é resultado do encontro entre a força vital do poder das ruas que se cruzam e a trajetória de encantadas ou espíritos de mulheres que viveram a rua de diversas maneiras (a corte das pombagiras é vasta), tiveram grandes amores e expressaram a energia vital através de uma sexualidade aflorada e potencialmente livre.
- A energia pulsante dessas entidades cruzadas, como se o domínio delas já não fosse as encruzilhadas, é libertadora, mas nunca descontrolada.
- Ela é sempre controlada pela própria potência do poder feminino e se manifesta em uma marcante característica da entidade: a pombagira é senhora dos desejos do próprio corpo e manifesta isso em uma expressão corporal gingada, sedutora, sincopada, desafiadora do padrão normativo.
A pombagira, como diz um antigo ponto de umbanda, é uma ventania que se encanta nos corpos: “Naquela ventania, ô Ganga Que sopra ao pé da serra Vejo Maria Padilha, ô Ganga Que vem girar na terra.” PELINTRA ENCONTRA PADILHA No carnaval de 2016, Zé Pelintra deixou os terreiros de macumba e ganhou a Marquês de Sapucaí, avenida onde as escolas de samba do Rio de Janeiro desfilam durante o Carnaval.
Não precisou alterar as cores de sua vestimenta, já que a escola que o homenageou, o GRES Acadêmicos do Salgueiro, veste vermelho e branco, feito a gravata e o terno do malandro encantado. As pombagiras também tomaram conta do sambódromo. O enredo da agremiação, “Ópera dos Malandros”, partia do musical de Chico Buarque de Hollanda para falar da malandragem.
Nesse aspecto, trazia referências ao icônico Rio de Janeiro da década de 1930, território por excelência do “malandro histórico”, e referências ao “malandro divino”, cujo território de atuação é o terreiro de santo. O enredo do Salgueiro causou celeuma, confirmada pelo desfile.
- Na frente da escola vinha Seu Tranca Rua, exu de umbandas e quimbandas, com sua desconcertante multiplicidade cruzada de quem cozinha a gambá na hora que quer.
- Atrás dele, a turma da guma, da curimba, da raspa do tacho, da beleza desconcertante e amedrontadora da rua, dos feitiços da Jurema, dos catimbós, das tabernas ibéricas e biroscas cariocas, daqueles que correram gira pelo Norte.
Dias antes do desfile oficial, a escola se apresentou em um ensaio geral na avenida. A rainha de bateria, Viviane Araújo, veio representando as pombagiras em sua performance. O fato gerou uma enxurrada de comentários preconceituosos nas redes sociais, especialmente de neopentecostais que acusaram Araújo de emprestar seu corpo ao diabo.
No dia do desfile, contrariando expectativas, a rainha de bateria não veio representando uma pombagira. Foi a vez de os adeptos das religiões afro-brasileiras acusarem o Salgueiro de ter recuado em virtude dos ataques evangélicos. O fato é que o malandro batuqueiro e a dama da noite incomodaram de todas as formas.
Para desamarrar o nó dessa polêmica, nos resta tentar responder à pergunta que o desfile salgueirense escancarou: quem tem medo de Seu Zé Pelintra e de Dona Maria Padilha? A GIRA As reflexões que o encontro entre Seu Zé Pelintra e as pombagiras sugerem, com toda a controvérsia provocada pelo desfile do Salgueiro, devem ser dimensionadas a partir de uma constatação: a exclusão social no Brasil é um projeto de Estado.
- A afirmação simples apenas constata que, com momentos raros de relativização desse processo, o Brasil foi um país que articulou estratégias em relação à pobreza, fundadas na experiência que é o maior marco da nossa formação: a escravidão.
- A dominação do outro se articulava em estratégias de controle dos corpos com inúmeras variantes: o corpo amansado pela catequese, pelo trabalho bruto, pela chibata e pelo confinamento em espaços precários – porões de navios negreiros, senzalas, canaviais e cadeias.
O fim da escravidão exigiu redefinições nas estratégias de controle dos corpos e coincidiu com os projetos modernizadores que buscaram estabelecer, a partir da segunda metade do século XIX, caminhos de inserção do Brasil entre os povos ditos civilizados.
- Tomo o Rio de Janeiro como horizonte dessas reflexões.
- A relação das elites e do poder público com os pobres, dentro dessa aventura modernizadora, era paradoxal.
- Os “perigosos” maculavam, do ponto de vista da ocupação e reordenação do espaço urbano, o sonho da cidade moderna e cosmopolita.
- Ao mesmo tempo, falamos dos trabalhadores urbanos que sustentavam – ao realizar o trabalho braçal que as elites não cogitavam fazer – a viabilidade desse mesmo sonho: operários, empregadas domésticas, seguranças, porteiros, soldados, policiais, feirantes, jornaleiros, mecânicos, coveiros, floristas, caçadores de ratos, desentupidores de bueiros.
Novas e velhas estratégias de confinamento dos corpos então se articularam, agora em favelas, subúrbios, vagões lotados e cadeias. O ideal era que os pobres não estivessem nem tão perto, a ponto de macular a cidade restaurada e higienizada, e nem tão longe, a ponto de obrigar a madame a realizar os serviços domésticos que, poucas décadas antes, eram tarefas das mucamas de sinhá.
A qui vem a questão que precisa ser levantada com mais clareza: o controle dos corpos se articula permanentemente ao projeto de desqualificação das camadas subalternas como agentes incessantes de invenção de modos de vida. Esse projeto de desqualificação da cultura atua em algumas frentes. Entre elas, vale citar a criminalização de batuques, sambas, macumbas, capoeiras; e a repressão aos elementos lúdicos do cotidiano dos pobres (o jogo do bicho – reprimido por ser, no início do século XX, uma loteria dos mais humildes – é exemplo disso).
Essa prevenção contra a pobreza articulou-se também no campo do discurso em que atua a história como espaço de produção de conhecimento. Apenas elementos externos aos pretos, indígenas e pobres em geral – a ciência, o cristianismo, a democracia representativa, a economia de mercado, a inclusão pelo consumo de bens, a escola ocidental etc.
Poderiam inseri-los, ainda que precariamente e como subalternos, naquilo que imaginamos ser a história da humanidade. Os corpos pelintras e pombagirados, nesse contexto, funcionam como antinomias ao projeto colonizador. Escapam da normatividade pelo transe, questionam em suas gingas e narrativas performáticas o estatuto canônico, levam ao limite da exasperação um projeto civilizatório que não consegue lidar com tamanha radicalização na alteridade.
A estranheza repulsiva que Seu Zé e Maria Padilha, Dona Molambo, Dona Sete Saias e tantas outras pombagiras causam revela, assim, desmantelando os velamentos cordatos, o pano de fundo da formação brasileira: o racismo de base colonial. É evidente que raça aqui não é o conceito biológico já superado.
Penso, e não há novidade nisso, a raça como categoria política-social-cultural historicamente constituída, que continua atuando com vivacidade em nossas ruas, cadeias e cemitérios. O racismo, nesse sentido, opera de três maneiras: na impressão mais direta da cor da pele; na desqualificação dos bens simbólicos daqueles a quem o colonialismo tenta submeter; e no trabalho cruel de liquidar a autoestima dos submetidos, fazendo com que introjetem a percepção da inferioridade de suas culturas.
A discriminação, portanto, vai além do corpo físico (mas parte dele) e também se estabelece a partir da inferiorização de bens simbólicos daqueles a quem o colonialismo tenta submeter: crenças, danças, comidas, visões de mundo e formas de celebrar a vida, enterrar os mortos, educar as crianças etc.
O desfile do Salgueiro se localiza, portanto, no campo explicitamente oposto ao daquele em que os mecanismos coloniais atuam, ao trazer para o centro da perspectiva o catimbozeiro virado em malandro e as pombagiras de corpos ajustados, paradoxalmente, na lógica do desajuste normativo da experiência dos corpos livres.
Zé Pelintra e as pombagiras, nesse sentido, não são sobreviventes. Nossa proposta é entendê-los a partir de outra categoria: a de supraviventes. Valemo-nos, para definir a supravivência, da artimanha mandingueira das palavras, esticando a percepção da linguagem para o campo da poesia no qual o arrebatamento, inclusive conceitual, atua.
Nossa hipótese é a de que somente a encantação da língua pode dar conta dos corpos malandreados no samba. O projeto de normatização da vida pressupõe, para que seja bem-sucedido, estratégias de desencantamento do mundo e aprofundamento da colonização dos corpos. É o corpo, afinal, que sempre ameaçou, mais do que as palavras, de forma mais contundente, o projeto colonizador fundamentado na catequese, no trabalho forçado, na submissão da mulher e na preparação dos homens para a virilidade expressa na cultura do estupro e da violência: o corpo convertido, o corpo escravizado, o corpo domesticado e o corpo poderoso.
Todos eles doentes. Nenhum deles corpos de pelintras e padilhas salgueirenses. A colonização (pensada como fenômeno de longa duração, que está até hoje operando suas artimanhas) gera sobras viventes, gentes descartáveis que não se enquadram na lógica hipermercantilizada e normativa do sistema.
- Algumas sobras viventes conseguem virar sobreviventes.
- Outras, nem isso.
- Os sobreviventes podem se tornar supraviventes – aqueles que foram capazes de driblar a própria condição de exclusão (as sobras viventes), deixaram de ser apenas reativos ao outro (como sobreviventes) e foram além, inventando a vida como potência (supraviventes).
É na supravivência que o malandro divino e a dona das tabernas e encruzilhadas atuam. Eles trazem em seus corpos o grande signo da malandragem, a capacidade de se adaptar aos espaços do precário, e acabam subvertendo esses próprios espaços ao praticá-los como terreiros de saberes encantados, sacralizando o mundano e profanando o sagrado.
- Laroiê!
- *
- Texto integrante do livro Cajubi: Ruptura e Reencanto (Editora Incompleta), que será lançado em março de 2021
: Pelintras e padilhas: a dança dos corpos encantados
Como o Zé Pilintra age?
Dia do Zé Pelintra, instaurado pela Câmara Municipal, celebra entidade ‘malandra’ no Rio
- Em 2022, a Câmara Municipal do instituiu na cidade o, que será comemorado oficialmente pela primeira vez neste 7 de julho, sexta-feira.
- Zé Pelintra é uma entidade espiritual adotada pela Umbanda, mas que surgiu no Catimbó, crença de origem nordestina.
- Orixá da traquinagem, da brincadeira e da diversão, ele é considerado o patrono dos, dos locais de jogo e das sarjetas.
Representação de Zé Pelintra no espetáculo Dzi Croquettes, no Rio, em 2015 – Ana Marta/Divulgação
- Sua imagem é a personificação do malandro: terno branco, sapatos bicolores, gravata grená ou vermelha e chapéu panamá com fita vermelha ou preta.
- Seguidores de Zé Pelintra, conhecido também como o “advogado dos pobres”, costumam invocá-lo em questões de finanças e de negócios.
- Segundo o vereador Átila Nunes (), que criou com o colega Tarcísio Motta () o projeto de lei que instituiu a data, a intenção é que ela seja “aproveitada para os festejos tradicionais, a unificação entre lideranças religiosas e instituições que sofrem com intolerância religiosa, e “.
- Confira, abaixo, três lugares para comemorar o Dia do Zé Pelintra no Rio.
- Santuário do Zé Pelintra Idealizado em 2015, o monumento aberto ao público foi tombado como Patrimônio Material Carioca em 2022.
- Ladeira de Santa Teresa, 1, Lapa, centro.
Bar Casa de Malandro A data será comemorada com roda de samba do projeto “Salve a Malandragem!” e presença dos representantes do Santuário do Zé Pelintra.R. Clara Nunes, 61, Madureira, zona norte. Sex (7), a partir das 20h. Praça da Harmonia (Coronel Assunção) A Unica (União Umbandista Luz Caridade e Amor) celebra o Dia do Zé Pelintra com gira de malandros, expositores e roda de samba.R.
O que o malandro faz na vida da pessoa?
Todo Carioca de nascença carrega consigo o estigma de ser malandro. Mas no dia a dia encontramos diversas pessoas de diversas “nacionalidades”, independentes de serem cariocas ou não se achando malandras. Por coincidência encontrei um belo texto para refletirmos, de autor desconhecido, que com algumas adaptações resumem muito bem o que é ser Malandro.
Depois desta leitura vamos nos orgulhar de sermos literalmente os bons Malandros. Ser Malandro não é viver bêbado caindo pela rua e arrumando confusão. Isso é ser otário. Ser Malandro não é maltratar, humilhar, bater ou ofender. Isso é ser covarde. Ser Malandro não é viver vagando pela madrugada de bar em bar.
Isso é ser indisciplinado. Ser Malandro não é usar pó, cocaína, maconha, ou qualquer outras drogas ilícitas. Isso é ser vacilão. Ser Malandro não é ameaçar os outros. Isso é ser “valente” e todo valentão é um medroso. Ser Malandro é sorrir diante das dificuldades.
- Ser Malandro é sambar diante dos obstáculos.
- Ser Malandro é respeitar tudo e a todos.
- Ser Malandro é respeitar a vida.
- Ser Malandro é entender que: A vida pode ser muito difícil e um desafio muito grande para algumas pessoas, mas isso com certeza será muito importante para o seu aprendizado e desenvolvimento.
Por mais difíceis que os problemas se apresentem, o importante é sempre manter a calma e o equilíbrio e ter em mente que tudo passa e que não existe problema sem solução se você deseja fazer o bem e se manter positivo. Cada desafio vencido é um degrau a mais na sua evolução, pois nos tornamos pessoas melhores à medida que vencemos todos os problemas que nos afligem.
Evitar os desafios que a vida oferece é atrasar o próprio crescimento. Aprenda a aceitar os desafios de forma positiva, assim será mais fácil vencê-los e você sairá mais forte e confiante. Tenha humildade e coragem quando se deparar com algum obstáculo. Afinal, é para isso que existem: para que você aprenda com eles.
Lute e conquiste. Tem muito otário por aí se passando por malandro. Por isso não se deixe enganar. O bom Malandro sabe viver com honestidade e não se curva diante das dificuldades da vida. O bom Malandro não maltrata, não humilha. O bom Malandro ama. O bom Malandro respeita.
Como Seu Zé se apresenta?
Lá do Catimbó do Nordeste, das mesas da Jurema Sagrada, das pajelanças, chegam as primeiras histórias desse “nego”, Seu Zé Pilintra, uma das entidades mais populares das tradições de matriz africana, No pé da juremeira, a árvore sagrada, o pau da ciência, firmou seu ponto e fincou sua raiz.
Do solo santo, das covas medidas pelo latifúndio, brotou a semente dos mestres. A força da oração, do catimbó, atravessa o território brasileiro, chega ao Rio de Janeiro e se espalha. Seu Zé, boêmio, malandro, descendo o morro de linho branco, panamá e bico fino, sambando e gingando no asfalto. Se o Zé do Catimbó é o mesmo da malandragem não sabemos.
Uns dizem que sim, outros dizem que não, mas nesses processos de sincretismo tudo se funde. Leia também: Precisamos avaliar os candidatos à reeleição da Bancada Evangélica Muçulmanas também dizem não a Bolsonaro A verdade é que a fé nesse “nego” emprestou a sua biografia certo ar de lenda, fortalecendo esse personagem que faz parte do imaginário do nosso povo.
Contam que Zé Pilintra é uma entidade de muita luz e sabedoria. Sua origem nordestina ninguém mais contesta. Mesmo considerado um mestre juremeiro, Zé Pilintra, ou simplesmente Seu Zé, é umas das representações mais populares das macumbas cariocas, de onde chegou aos terreiros de umbanda, tendo seu culto difundido em todo o Brasil.
Nessa transição do catimbó para a umbanda, os domínios e atribuições de Seu Zé foram se modificando. Aqui vale a ressalva de que talvez o Zé Pilintra do Nordeste não seja o mesmo do Rio de Janeiro. Uns dizem que o Zé da malandragem carioca teria nascido no Morro de Santa Teresa e seria, inclusive, um médium que incorporava o mestre juremeiro.
Outros defendem que as histórias se cruzam por conta dos nomes e arquétipos dos personagens. De fato, a macumba carioca é a grande responsável pela popularidade de Seu Zé Pilintra, considerado o rei da malandragem, das ruas e madrugadas. Como bom malandro, gosta de andar de bar em bar, das mesas de carteado, da boa bebida e das sombras das encruzilhadas, onde trabalham suas protegidas, as damas da noite.
É esse arquétipo do malandro, ou seja, daquele indivíduo pouco ou nada alinhado com os padrões sociais, com a moral cristã e com os bons costumes, que Seu Zé representa. Sempre bem vestido, com seu terno de linho branco e sua gravata encarnada, “caminhando na ponta dos pés como quem pisa nos corações”, como cantou Chico Buarque, Zé Pilintra é a síntese do bom brasileiro, irreverente e debochado, cheio de ginga e jogo de cintura, um verdadeiro mestre-sala.
No culto da Jurema, o Preto Zé Pilintra vem de camisa comprida branca ou xadrez, calça também branca arregaçada, pés descalços e com um lenço vermelho ou estampado no pescoço. Como quase todos os mestres, apoia-se num cajado ou bengala e usa o cachimbo, indispensável nesse ritual. Na umbanda, Seu Zé Pilintra vem na linha das almas ou dos baianos e se manifesta como os pretos-velhos, de traje branco simples e chapéu de palha, mas não dispensa o lenço vermelho.
Entre as muitas histórias que contam a vida de Seu Zé Pilintra, uma fala sobre um tal José Gomes da Silva, que teria nascido no interior de Pernambuco. Um negro forte e ágil, bom amante, que gostava da jogatina e das bebidas e nunca fugia de uma pendenga.
Cheio de habilidades com a navalha e a peixeira, ninguém ousava desafiá-lo. Até a polícia respeitava sua fama. Tinha, porém, um bom coração e era extremamente galanteador, tratando as mulheres como verdadeiras rainhas. A boemia, o carteado, o jogo de dados, a vadiagem, as mulheres, as brigas. De tudo que a noite trazia em seus mistérios ele gostava.
Sempre que um qualquer se julgava mais esperto, tanto nas cartas como nos dados, caía fácil nas manhas de Seu Zé, que perdia de propósito nas apostas baixas e, no fim, entre um gole e outro, levava todo dinheiro do incauto. Outra história remete ao povoado de Bodocó, nas proximidades do município de Exu, no sertão pernambucano.
Dizem que para fugir da seca, a família de José dos Anjos foi para o Recife. O menino teria perdido a mãe aos três anos de idade, sendo criado no meio da malandragem. Passou a dormir no cais do porto e virou moleque de recados das meretrizes. Tornou-se um homem alto, forte e respeitado no métier, mas misteriosamente, aos 41 anos, foi encontrado morto sem nenhum vestígio de ferimento.
A importância religiosa da figura de Zé Pilintra inscreve-se na lógica da expansão da população brasileira e das migrações nordestinas para o Sudeste. Ao ser assimilada pelas antigas macumbas do Rio de Janeiro e pela umbanda, a entidade sofreu uma espécie de processo de sincretismo, inserindo-se no contexto dos grandes centros urbanos e na dinâmica de uma sociedade industrial.
Traduz, a seu modo, os desafios dos desvalidos de toda sorte, sobretudo os homens negros, que para sobreviver sem dinheiro nem oportunidades tiveram que dar seu “jeito”, que se virar e usar toda sua malandragem e esperteza. O Preto Zé Pilintra, mestre da jurema e malandro do morro, tem status de doutor.
Formou-se na escola da vida, na ciência das leis da sobrevivência, a lei do silêncio, a lei do cão, no mister dos enjeitados. Advogado dessa gente pobre, Seu Zé é invocado pra todo tipo de ação, desde questões conjugais e domésticas, passando por negócios e finanças, até os casos de saúde.
Na Umbanda do Rio de Janeiro, Zé Pilintra inspirou a linha do Povo da Malandragem, também introduzida nos terreiros de Candomblé da região por conta da conversão de alguns fiéis. Há, porém, aqueles que ainda o cultuam como um mestre juremeiro, preservando a tradição herdada de migrantes nordestinos. A maioria dos devotos de Zé Pilintra está nos grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo.
No Nordeste, muitos juremeiros e catimbozeiros preservam os costumes e guardam suas histórias, numa fé que ultrapassa os limites dos cultos afro-brasileiros. Na ginga de Seu Zé Pilintra toda velha e boa malandragem se reconhece. Pedindo licença a Exu, ele desce a ladeira e toma o asfalto.
Senhor da resiliência, mestre do jogo de cintura, das rodas de capoeira. Navalha no bolso, chapéu panamá, sapato lustrado, andar leve e altivo. Pai do “jeitinho brasileiro”, pai dos desprovidos. Essa malandragem que o povo brasileiro herdou do negro foi condição indispensável para sobreviver às hostilidades da discriminação e do racismo.
Saravá, Seu Zé.
Como faço para conseguir incorporar?
Para incorporar é preciso passar primeiro por um processo de aprendizagem, onde os(as) médiuns aprendem a sentir a energia dos guias e se conectar a eles durante as chamadas ‘giras de desenvolvimento’, que são restritas às pessoas que trabalham no terreiro.
Como saber se sou filho de Zé Pilintra?
Tendo uma pessoa que não tá numa fase boa mesmo. Filho de Zé Pilintra também já tá ali naquela recaída, não tá passando por uma fase também muito boa, ele sempre tenta ajudar o próximo. independente da sua fase. Terceira característica, essa é uma característica muito.
O que pedir para seu Zé Pilintra?
Oração –
- Salve Deus, Pai Criador de todo o Universo.
- Salve Oxalá, força divina do amor, exemplo vivo de abnegação e carinho.
- Bendito seja o Senhor do Bonfim.
- Bendita seja a Imaculada Conceição.
- Salve Zé Pelintra, mensageiro de luz, guia e protetor de todos aqueles que em nome de Jesus praticam a caridade.
Dai-nos Zé Pelintra, o sentimento suave que se chama misericórdia. Dai-nos o bom conselho. Dai-nos a proteção quando puderdes. Dai-nos o apoio, a instrução espiritual de que necessitamos para darmos aos nossos inimigos o amor e a misericórdia, que lhe devemos por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que todos o homens sejam felizes na terra e possam viver sem amarguras, sem lágrimas e sem ódios.
- Tomai-nos, Zé Pelintra, sob a vossa proteção; desviai de nós os espíritos atrasados e obsessores, enviados pelos nossos inimigos encarnados e desencarnados e pelo poder das trevas.
- Iluminai o nosso espírito, nossa alma, nossa inteligência e o coração, abrasando-nos nas chamas do vosso amor por nosso Pai Oxalá.
- Valei-me, Zé Pelintra, nesta necessidade, concedendo-nos a graça de vosso auxílio junto a Nosso Senhor Jesus Cristo, em favor deste pedido que fazemos agora (faz-se o pedido).
- E que Deus Nosso Senhor, em sua infinita misericórdia vos cubra de bênçãos e aumente a vossa luz e a vossa força, para que mais e mais possas espelhar sobre a terra a caridade e o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Qual é o dia da semana de seu Zé Pelintra?
6° da Lei n° 5.146, de 7 de janeiro de 2010, a seguinte data comemorativa: Dia do Zé Pelintra, a ser comemorado anualmente no dia 7 de julho.
O que mais incomodava era os homens que o rodeavam, Maria sempre alertava José que muitos que sentavam na mesa com ele pra jogar carteado eram lobos em pele de cordeiro. E assim aconteceu, Zé foi enganado por um dos que diziam ser seu parceiro e acabou por falecer. Navalha, faceira que só
Qual é a Pomba Gira de Zé Pilintra?
Pelintras e padilhas: a dança dos corpos encantados
- O escritor e historiador Luiz Antônio Simas explica neste texto a origem de entidades das macumbas brasileiras e sua articulação com as ruas – e por que elas d esafiam uma sociedade fundada na lógica da contenção dos corpos.
- *
- O MALANDRO
Entidade poderosa dos terreiros de canjira, baixando em diversos ramos e linhas das macumbas brasileiras, Zé Pelintra nos coloca desafios. Há quem afirme que, originalmente, Seu Zé é um mestre do culto do catimbó nordestino que acabou se manifestando em outras vertentes das encantarias.
O culto do catimbó é de difícil definição. Abrange um conjunto de atividades místicas que envolvem desde a pajelança indígena até elementos do catolicismo popular, com origem no Nordeste. Tem como seus fundamentos mais gerais a crença no poder da bebida sagrada da Jurema e no transe de possessão, em que os mestres trabalham tomando o corpo dos catimbozeiros.
Dizem os juremeiros que os mestres foram pessoas que, durante suas vidas, desenvolveram habilidades no uso de ervas curativas. Com a morte, passaram a habitar um dos reinos místicos do Juremá. Lá são auxiliados pelos Caboclos da Jurema, espíritos de indígenas que conhecem as artes da guerra e da cura.
- O Juremá é um lugar composto de reinos, aldeias e cidades, como nosso mundo real.
- Há, dependendo da linha do catimbó, quem trabalhe com cinco ou sete reinos, formados por aldeias ou cidades e habitados pelos mestres.
- Para a linha de cinco, os reinos são os do Vajucá, Urubá, Josafá, Juremal e Tenemé.
- Para a linha de sete, temos os reinos de Vajucá, Juremal, Urubá, Tigre, Canindé, Josafá e Fundo do Mar.
Os praticantes do culto consideram que Alhandra, no litoral Sul da Paraíba, é a cidade que representa os reinos do Juremá na Terra, onde os poderes dos mestres da Jurema teriam sido anunciados. A Jurema, sem o acento agudo, é uma bebida tirada da árvore de mesmo nome, bastante utilizada nos ritos de pajelança dos tupis.
- É ela que dinamiza o catimbó e práticas similares, como o babaçuê e o toré.
- Feitas essas breves observações sobre o catimbó, vamos a Seu Zé.
- Dizem muitas coisas e contam as mais mirabolantes e distintas histórias sobre certo José de Aguiar.
- Contam, por exemplo, que ele nasceu no Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, cresceu em Afogados da Ingazeira, outro município pernambucano, e posteriormente foi para o Recife, morando na Rua da Amargura, próximo à zona boêmia da cidade.
Sofrendo de mal de amor, apaixonado perdidamente por Maria Luziara, Zé teria resolvido percorrer os sertões e praias do Nordeste para esquecer o infortúnio. Esteve na Paraíba e em Alagoas. Até hoje os terreiros cantam o desamor e sua sina: “Na Rua da Amargura Onde Seu Zé Pelintra morava Ele chorava por uma mulher Chorava por uma mulher que não lhe amava.” Nessa peregrinação, ele teria sido iniciado nos ritos da Jurema sagrada por Mestre Inácio, por sua vez iniciado no culto pelos índios caetés.
Após se encantar ou morrer (há controvérsias), Zé de Aguiar baixou um dia no juremeiro José Gomes da Silva e disse que era José Pelintra, Príncipe da Jurema e Mestre do Chapéu de Couro. Quando baixa como entidade do catimbó nos terreiros nordestinos, Zé Pelintra é, portanto, um mestre. Com bengala e cachimbo, usa camisa comprida branca ou quadriculada e calça branca dobrada nas pernas, com um lenço vermelho no pescoço.
Sempre trabalha descalço. Ao chegar ao Rio de Janeiro, provavelmente trazido pelo traslado de inúmeros migrantes nordestinos atraídos para a cidade que, na primeira metade do século XX, era a capital federal, Seu Zé se transformou. Virou carioca e teve seu culto incorporado pela linha da malandragem na umbanda.
- Há quem diga que foi morar na Lapa, farreou à vontade e morreu numa briga no Morro de Santa Teresa.
- Abandonou as vestes de mestre da Jurema e agora baixa nos terreiros da Guanabara trajando terno de linho branco, sapato de cromo, chapéu panamá e gravata vermelha.
- Seu Zé se adaptou a essa nova circunstância.
A viagem do Pelintra é até hoje retratada em um de seus pontos mais famosos: “Ô Zé, quando vem de Alagoas Toma cuidado com o balanço na canoa Ô Zé, faça tudo que quiser Só não maltrata o coração dessa mulher.” A MOÇA Zé Pelintra é a figura icônica do malandro nos terreiros do Brasil.
- Já a figura feminina que ocupa um lugar de protagonismo nas rodas da malandragem e nas giras dos exus é a pombagira.
- Se o Zé é o catimbozeiro que se fez malandro nas curimbas cariocas, quem são as moças formosas – maneira pela qual as pombagiras são conhecidas nas umbandas? Há que se raspar o fundo do tacho para, palidamente, acariciar os saberes que podem nos levar a elas.
Do ponto de vista da etimologia, a palavra pombagira certamente deriva dos cultos angolo-congoleses aos inquices. Uma das manifestações do poder das ruas nas culturas centro-africanas é o inquice Bombojiro, ou Bombojira, que para muitos estudiosos dos cultos bantos é o lado feminino de Aluvaiá, Mavambo, o dono das encruzilhadas, similar ao Exu iorubá e ao vodum Elegbara do povo fon,
Em quimbundo, pambu-a-njila é a expressão que designa o cruzamento dos caminhos, as encruzilhadas. Os cruzos religiosos entre as várias culturas de origens africanas, ritos ameríndios, tradições europeias, vertentes do catolicismo popular etc. dinamizaram no Brasil vasta gama de práticas religiosas fundamentadas em três aspectos básicos: a possibilidade de interação com ancestrais, encantados e espíritos através dos corpos em transes de incorporação (é o caso da umbanda) e expressão (é o caso dos candomblés); um modo de relacionamento com o real fundamentado na crença em uma energia vital – que reside em cada um, na coletividade, em objetos sagrados, alimentos, elementos da natureza, práticas rituais, na sacralização dos corpos pela dança, no diálogo dos corpos com o tambor; e na modelação de condutas estabelecidas pelo conjunto de relatos orais e pela transmissão de matrizes simbólicas por palavras, transes e sinais.
A pombagira é resultado do encontro entre a força vital do poder das ruas que se cruzam e a trajetória de encantadas ou espíritos de mulheres que viveram a rua de diversas maneiras (a corte das pombagiras é vasta), tiveram grandes amores e expressaram a energia vital através de uma sexualidade aflorada e potencialmente livre.
A energia pulsante dessas entidades cruzadas, como se o domínio delas já não fosse as encruzilhadas, é libertadora, mas nunca descontrolada. Ela é sempre controlada pela própria potência do poder feminino e se manifesta em uma marcante característica da entidade: a pombagira é senhora dos desejos do próprio corpo e manifesta isso em uma expressão corporal gingada, sedutora, sincopada, desafiadora do padrão normativo.
A pombagira, como diz um antigo ponto de umbanda, é uma ventania que se encanta nos corpos: “Naquela ventania, ô Ganga Que sopra ao pé da serra Vejo Maria Padilha, ô Ganga Que vem girar na terra.” PELINTRA ENCONTRA PADILHA No carnaval de 2016, Zé Pelintra deixou os terreiros de macumba e ganhou a Marquês de Sapucaí, avenida onde as escolas de samba do Rio de Janeiro desfilam durante o Carnaval.
- Não precisou alterar as cores de sua vestimenta, já que a escola que o homenageou, o GRES Acadêmicos do Salgueiro, veste vermelho e branco, feito a gravata e o terno do malandro encantado.
- As pombagiras também tomaram conta do sambódromo.
- O enredo da agremiação, “Ópera dos Malandros”, partia do musical de Chico Buarque de Hollanda para falar da malandragem.
Nesse aspecto, trazia referências ao icônico Rio de Janeiro da década de 1930, território por excelência do “malandro histórico”, e referências ao “malandro divino”, cujo território de atuação é o terreiro de santo. O enredo do Salgueiro causou celeuma, confirmada pelo desfile.
- Na frente da escola vinha Seu Tranca Rua, exu de umbandas e quimbandas, com sua desconcertante multiplicidade cruzada de quem cozinha a gambá na hora que quer.
- Atrás dele, a turma da guma, da curimba, da raspa do tacho, da beleza desconcertante e amedrontadora da rua, dos feitiços da Jurema, dos catimbós, das tabernas ibéricas e biroscas cariocas, daqueles que correram gira pelo Norte.
Dias antes do desfile oficial, a escola se apresentou em um ensaio geral na avenida. A rainha de bateria, Viviane Araújo, veio representando as pombagiras em sua performance. O fato gerou uma enxurrada de comentários preconceituosos nas redes sociais, especialmente de neopentecostais que acusaram Araújo de emprestar seu corpo ao diabo.
- No dia do desfile, contrariando expectativas, a rainha de bateria não veio representando uma pombagira.
- Foi a vez de os adeptos das religiões afro-brasileiras acusarem o Salgueiro de ter recuado em virtude dos ataques evangélicos.
- O fato é que o malandro batuqueiro e a dama da noite incomodaram de todas as formas.
Para desamarrar o nó dessa polêmica, nos resta tentar responder à pergunta que o desfile salgueirense escancarou: quem tem medo de Seu Zé Pelintra e de Dona Maria Padilha? A GIRA As reflexões que o encontro entre Seu Zé Pelintra e as pombagiras sugerem, com toda a controvérsia provocada pelo desfile do Salgueiro, devem ser dimensionadas a partir de uma constatação: a exclusão social no Brasil é um projeto de Estado.
A afirmação simples apenas constata que, com momentos raros de relativização desse processo, o Brasil foi um país que articulou estratégias em relação à pobreza, fundadas na experiência que é o maior marco da nossa formação: a escravidão. A dominação do outro se articulava em estratégias de controle dos corpos com inúmeras variantes: o corpo amansado pela catequese, pelo trabalho bruto, pela chibata e pelo confinamento em espaços precários – porões de navios negreiros, senzalas, canaviais e cadeias.
O fim da escravidão exigiu redefinições nas estratégias de controle dos corpos e coincidiu com os projetos modernizadores que buscaram estabelecer, a partir da segunda metade do século XIX, caminhos de inserção do Brasil entre os povos ditos civilizados.
- Tomo o Rio de Janeiro como horizonte dessas reflexões.
- A relação das elites e do poder público com os pobres, dentro dessa aventura modernizadora, era paradoxal.
- Os “perigosos” maculavam, do ponto de vista da ocupação e reordenação do espaço urbano, o sonho da cidade moderna e cosmopolita.
- Ao mesmo tempo, falamos dos trabalhadores urbanos que sustentavam – ao realizar o trabalho braçal que as elites não cogitavam fazer – a viabilidade desse mesmo sonho: operários, empregadas domésticas, seguranças, porteiros, soldados, policiais, feirantes, jornaleiros, mecânicos, coveiros, floristas, caçadores de ratos, desentupidores de bueiros.
Novas e velhas estratégias de confinamento dos corpos então se articularam, agora em favelas, subúrbios, vagões lotados e cadeias. O ideal era que os pobres não estivessem nem tão perto, a ponto de macular a cidade restaurada e higienizada, e nem tão longe, a ponto de obrigar a madame a realizar os serviços domésticos que, poucas décadas antes, eram tarefas das mucamas de sinhá.
- A qui vem a questão que precisa ser levantada com mais clareza: o controle dos corpos se articula permanentemente ao projeto de desqualificação das camadas subalternas como agentes incessantes de invenção de modos de vida.
- Esse projeto de desqualificação da cultura atua em algumas frentes.
- Entre elas, vale citar a criminalização de batuques, sambas, macumbas, capoeiras; e a repressão aos elementos lúdicos do cotidiano dos pobres (o jogo do bicho – reprimido por ser, no início do século XX, uma loteria dos mais humildes – é exemplo disso).
Essa prevenção contra a pobreza articulou-se também no campo do discurso em que atua a história como espaço de produção de conhecimento. Apenas elementos externos aos pretos, indígenas e pobres em geral – a ciência, o cristianismo, a democracia representativa, a economia de mercado, a inclusão pelo consumo de bens, a escola ocidental etc.
- Poderiam inseri-los, ainda que precariamente e como subalternos, naquilo que imaginamos ser a história da humanidade.
- Os corpos pelintras e pombagirados, nesse contexto, funcionam como antinomias ao projeto colonizador.
- Escapam da normatividade pelo transe, questionam em suas gingas e narrativas performáticas o estatuto canônico, levam ao limite da exasperação um projeto civilizatório que não consegue lidar com tamanha radicalização na alteridade.
A estranheza repulsiva que Seu Zé e Maria Padilha, Dona Molambo, Dona Sete Saias e tantas outras pombagiras causam revela, assim, desmantelando os velamentos cordatos, o pano de fundo da formação brasileira: o racismo de base colonial. É evidente que raça aqui não é o conceito biológico já superado.
Penso, e não há novidade nisso, a raça como categoria política-social-cultural historicamente constituída, que continua atuando com vivacidade em nossas ruas, cadeias e cemitérios. O racismo, nesse sentido, opera de três maneiras: na impressão mais direta da cor da pele; na desqualificação dos bens simbólicos daqueles a quem o colonialismo tenta submeter; e no trabalho cruel de liquidar a autoestima dos submetidos, fazendo com que introjetem a percepção da inferioridade de suas culturas.
A discriminação, portanto, vai além do corpo físico (mas parte dele) e também se estabelece a partir da inferiorização de bens simbólicos daqueles a quem o colonialismo tenta submeter: crenças, danças, comidas, visões de mundo e formas de celebrar a vida, enterrar os mortos, educar as crianças etc.
O desfile do Salgueiro se localiza, portanto, no campo explicitamente oposto ao daquele em que os mecanismos coloniais atuam, ao trazer para o centro da perspectiva o catimbozeiro virado em malandro e as pombagiras de corpos ajustados, paradoxalmente, na lógica do desajuste normativo da experiência dos corpos livres.
Zé Pelintra e as pombagiras, nesse sentido, não são sobreviventes. Nossa proposta é entendê-los a partir de outra categoria: a de supraviventes. Valemo-nos, para definir a supravivência, da artimanha mandingueira das palavras, esticando a percepção da linguagem para o campo da poesia no qual o arrebatamento, inclusive conceitual, atua.
- Nossa hipótese é a de que somente a encantação da língua pode dar conta dos corpos malandreados no samba.
- O projeto de normatização da vida pressupõe, para que seja bem-sucedido, estratégias de desencantamento do mundo e aprofundamento da colonização dos corpos.
- É o corpo, afinal, que sempre ameaçou, mais do que as palavras, de forma mais contundente, o projeto colonizador fundamentado na catequese, no trabalho forçado, na submissão da mulher e na preparação dos homens para a virilidade expressa na cultura do estupro e da violência: o corpo convertido, o corpo escravizado, o corpo domesticado e o corpo poderoso.
Todos eles doentes. Nenhum deles corpos de pelintras e padilhas salgueirenses. A colonização (pensada como fenômeno de longa duração, que está até hoje operando suas artimanhas) gera sobras viventes, gentes descartáveis que não se enquadram na lógica hipermercantilizada e normativa do sistema.
Algumas sobras viventes conseguem virar sobreviventes. Outras, nem isso. Os sobreviventes podem se tornar supraviventes – aqueles que foram capazes de driblar a própria condição de exclusão (as sobras viventes), deixaram de ser apenas reativos ao outro (como sobreviventes) e foram além, inventando a vida como potência (supraviventes).
É na supravivência que o malandro divino e a dona das tabernas e encruzilhadas atuam. Eles trazem em seus corpos o grande signo da malandragem, a capacidade de se adaptar aos espaços do precário, e acabam subvertendo esses próprios espaços ao praticá-los como terreiros de saberes encantados, sacralizando o mundano e profanando o sagrado.
- Laroiê!
- *
- Texto integrante do livro Cajubi: Ruptura e Reencanto (Editora Incompleta), que será lançado em março de 2021
: Pelintras e padilhas: a dança dos corpos encantados