O que a carnitina faz no corpo?

Como a L-carnitina funciona? – Ela está diretamente ligada no processo de formação de energia (ATP). A L-carnitina provoca a oxidação de gordura durante o exercício e poupa o glicogênio muscular, além de atuar também na atividade mitocondrial através da oxidação de ácidos graxos, gerando assim mais energia para o corpo.

Pode tomar L-carnitina todo dia?

A dose diária recomendada de L-Carnitina depende do objetivo do indivíduo, mas, no geral, a quantidade diária deve ser de 2g a 6g.

Quando devo tomar L-carnitina?

L-CARNITINA É INDICADA PARA TODAS AS PESSOAS? – Qualquer pessoa que pratica exercícios com o objetivo de ganhar massa muscular e emagrecer, e que esteja com a saúde em dia, pode tomar L-Carnitina. Mas é importante ressaltar que esse suplemento só faz efeito quando aliado à prática de atividades físicas.

Quais são os efeitos colaterais do L-carnitina?

Contraindicação – A principal contraindicação é para as pessoas com problemas cardíacos e doenças hepáticas. Os efeitos colaterais relacionados à L-carnitina mais comuns são gastrointestinais e incluem: náusea, vômito, diarreia, cólica, dor abdominal, estufamento e empachamento. Também podem surgir dores musculares relacionadas aos exercícios. Veja dicas para ganhar massa muscular mais rápido: Academia Para ganhar massa muscular de forma saudável, é preciso seguir uma rotina com atividade física regular e alimentação rica em fontes de proteína Getty Images Academia As repetições dos exercícios devem ser lentas, principalmente na fase de contração do músculo. Assim, mais efetivo será o ganho de massa muscular durante o período de recuperação Getty Images Cross fit Não pare o exercício assim que começar a sentir dor ou sensação de queimação. É nesse momento que as fibras brancas do músculo começam a ser rompidas, levando à hipertrofia Getty Images Academia Treine de três a cinco vezes por semana. Mas, alterne os grupos musculares. O descanso é fundamental para a hipertrofia Getty Images Ovos Tenha uma alimentação saudável e rica em proteínas. Elas são responsáveis pela manutenção das fibras musculares e estão diretamente relacionadas à hipertrofia Getty Images Treino na academia Getty Images Musculação perda de peso Fitness bem-estar iStock treino malhação academia É preciso ter paciência para alcançar os resultados desejados e treinar sempre com orientação Getty Images homem musculo Não pare quando atingir o objetivo para evitar a perda da definição conquistada. Geralmente, a perda de massa muscular pode ser observada em apenas 15 dias sem treino iStock treino academia Manter uma rotina regrada favorece o aumento dos músculos. Não pare quando conseguir seus objetivos, pois a perda de massa magra é perceptível em apenas duas semanas sem atividades Getty Images malhando na academia O tempo de descanso entre os treinos também influencia nos resultados Unsplash 0

Quantos quilos perde com L-carnitina?

L-Carnitina emagrece? Para que serve e como tomar? A L-carnitina pode ajudar a emagrecer, pois transporta as gorduras para as mitocôndrias das células, onde são metabolizadas e usadas como fonte de energia pelo corpo. Alguns estudos com indivíduos obesos e mais velhos, apontaram uma perda de peso de 1,3 kg a mais em pessoas que usaram L-carnitina em relação àquelas que não tomaram o suplemento. Contudo, os estudos são controversos e são necessárias mais evidências para confirmar a eficácia do uso da L-carnitina para emagrecer em pessoas mais jovens, magras e ativas. Isso porque pessoas obesas já possuem grandes quantidades de L-carnitina no fígado e nos músculos,

  1. Além disso, uma vez que os idosos possuem menos massa muscular, aonde a substância fica armazenada, pode haver queda dos níveis de L-carnitina.
  2. As mulheres também perdem uma quantidade considerável de massa muscular com a idade.
  3. Por isso, nesses casos, o uso de L-carnitina pode auxiliar discretamente o emagrecimento.

Vale lembrar que a L-carnitina pode apenas contribuir para a perda de peso. Por isso, o uso do suplemento deve ser associado a uma dieta balanceada, com poucas calorias, além de exercícios físicos, O uso isolado de L-carnitina não emagrece.

Pode tomar L-carnitina sem fazer atividade física?

Suplementos podem trazer resultados mesmo sem prática esportiva O principal objetivo da suplementação é compensar a carência de nutriente, não sendo apenas produtos para melhorar a performance na academia O corpo humano é como uma máquina que necessita das quantidades ideais de combustível para funcionar corretamente.

Existem vitaminas e nutrientes que são produzidos pelo próprio organismo, mas há outros cujo abastecimento depende da alimentação. Como o dia a dia agitado nem sempre permite que tenhamos uma dieta perfeita, muitas, a fim de obter uma melhor adequação nutricional. Mas é permitido tomar suplementos mesmo sem fazer exercícios físicos? A resposta é sim.

Isso porque os suplementos nada mais são do que um complemento da alimentação, não um medicamento. Compostos por carboidratos, proteínas, vitaminas e minerais, seu principal objetivo é enriquecer nutricionalmente certos alimentos, não sendo produtos indicados apenas para aumentar a massa muscular, melhorar a performance na academia ou ainda emagrecer.

são reconhecidos por levar em suas formulações as quantidades necessárias de nutrientes para conseguir manter o corpo nutrido a fim de que todas as suas funções sejam executadas da melhor forma. Ele também possui antioxidantes que contribuem para o rejuvenescimento celular, da pele, cabelos e unhas, além de auxiliar no fortalecimento do sistema imunológico, prevenir a anemia e melhorar o sistema nervoso e cardiovascular.

Os polivitamínicos podem ser consumidos diariamente e são grandes aliados principalmente para aquelas pessoas que não têm uma rica em frutas, verduras e legumes, e que fazem suas principais refeições fora de casa, sem saber a procedência dos alimentos.

  • Assim, acabam apresentando deficiência de vitaminas ou minerais.
  • O suplemento ajuda a melhorar a saúde e o bem-estar de maneira geral.
  • Para melhorar a absorção, a orientação é ingerir uma dose do polivitamínico durante uma refeição.
  • Nos casos em que o usuário consumir mais de uma porção do produto por dia, o ideal é tomar cada uma das doses em horários diferentes.

: Suplementos podem trazer resultados mesmo sem prática esportiva

Quanto tempo leva para a L-carnitina fazer efeito?

Aplicações clínicas da suplementação de L-carnitina

  • EVISÃO REVIEW
  • Aplicações clínicas da suplementação de L-carnitina
  • Clinical uses of L-carnitine supplementation
  • Christianne de Faria Coelho I, II, ; João Felipe Mota I ; Euclésio Bragrança I ; Roberto Carlos Burini I, III
  • I Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição, Faculdade de Medicina Botucatu, Universidade Estadual Paulista. Distrito de Rubião Júnior, s/n, 18618-970, Botucatu, SP, Brasil
  • II Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana Aplicada, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil
  • III Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista. Botucatu, SP, Brasil
  • RESUMO

A carnitina, uma amina quaternária (3-hidroxi-4-N-trimetilamino-butirato), é sintetizada no organismo (fígado, rins e cérebro) a partir de dois aminoácidos essenciais: lisina e metionina, exigindo para sua síntese a presença de ferro, ácido ascórbico, niacina e vitamina B 6,

  • Tem função fundamental na geração de energia pela célula, pois age nas reações transferidoras de ácidos graxos livres do citosol para mitocôndrias, facilitando sua oxidação e geração de adenosina Trifosfato.
  • A concentração orgânica de carnitina é resultado de processos metabólicos – como ingestão, biossíntese, transporte dentro e fora dos tecidos e excreção – que, quando alterados em função de diversas doenças, levam a um estado carencial de carnitina com prejuízos relacionados ao metabolismo de lipídeos.

A suplementação de L-carnitina pode aumentar o fluxo sangüíneo aos músculos devido também ao seu efeito vasodilatador e antioxidante, reduzindo algumas complicações de doenças isquêmicas, como a doença arterial coronariana, e as conseqüências da neuropatia diabética.

Por esse motivo, o objetivo do presente trabalho foi descrever possíveis benefícios da suplementação de carnitina nos indivíduos com necessidades especiais e susceptíveis a carências de carnitina, como os portadores de doenças renais, neuropatia diabética, síndrome da imunodefeciência adquirida e doenças cardiovasculares.

Termos de indexação: Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, doenças renais, carnitina, terapêutica. ABSTRACT Carnitine, a quaternary amine (3-hidroxy-4-n-trimethylaminobutyrate) is synthesized in the body (liver, kidney and brain) from lysine and methionine, two essential amino acids, in the presence of iron, ascorbate, niacin and vitamin B 6,

  • Carnitine plays a central role in the cellular energy metabolism because it transports long-chain fatty acids from the cytosol to the mitochondria for oxidation and adenosine 5′-triphosphate generation.
  • The organic concentration of carnitine is a result of several metabolic pathways such as ingestion, endogenous synthesis, transport and elimination, which may be altered by diseases leading to carnitine deficiency and impaired lipid metabolism.

In addition, supplementation with carnitine can raise the muscle blood flow by vasodilatation and antioxidant effects, reducing some of the complications of ischaemic diseases, such as coronary artery disease and the consequences of diabetic neuropathy.

Therefore, the purpose of this study was to describe the possible benefits of carnitine supplementation in subjects with special needs and susceptible to a carnitine deficit, such as renal diseases, diabetic neuropathy, Acquired Immunodeficiency Syndrome and cardiovascular diseases. Indexing terms: Acquired Immunodeficiency Syndrome, diabetes mellitus, cardiovascular diseases, kidney diseases, carnitine, therapeutics.

INTRODUÇÃO A carnitina (3-hidroxi-4-N-trimetilamino-butirato) é uma amina quaternária com função fundamental na geração de energia pela célula, pois age nas reações transferidoras de ácidos graxos livres de cadeia longa do citosol para mitocôndrias, facilitando sua oxidação e geração de adenosina trifosfato (ATP).

O aumento do fluxo de substratos através do Ciclo de Krebs poderia resultar em produção e utilização mais efetivas do oxigênio, além da melhora na capacidade de realizar tarefas físicas. A carnitina também tem sido freqüentemente utilizada como coadjuvante no tratamento de dislipidemias, uma vez que atua como um importante co-fator na oxidação de ácidos graxos de cadeia longa, aumentando a utilização de triglicerídeos para o fornecimento de energia 1,2,

É sintetizada no organismo a partir de dois aminoácidos essenciais, lisina e metionina, exigindo para sua síntese a presença de ferro, ácido ascórbico, niacina e vitamina B 6 1,2, A concentração orgânica de carnitina (aproximadamente 20g ou 120mmol) 1,2,3 é resultante de vários processos metabólicos, tais como ingestão, biossíntese, transporte dentro e fora dos tecidos e excreção.

  1. Além disso, por ser uma substância produzida no organismo em condições normais
  2. e com boa tolerabilidade, a suplementação de L-carnitina tem sido estudada em função de possíveis efeitos antioxidantes, tanto em indivíduos saudáveis quanto naqueles com necessidades especiais, como portadores de doenças isquêmicas e neuropatia diabética 4,5,
  3. Existe um número crescente de pesquisas envolvendo a suplementação de L-carnitina via oral, enteral ou endovenosa no tratamento de algumas complicações associadas à insuficiência renal crônica e AIDS 6-8,
  4. Em função do importante papel da carnitina em diversas áreas da medicina, este trabalho descreve os possíveis benefícios da suplementação de carnitina em condições clínicas específicas, tais como nas cardiopatias, doenças renais, AIDS e neuropatia diabética.
  5. IMPORTÂNCIA CLÍNICA DA SUPLEMENTAÇÃO
  6. Doenças cardiovasculares
  7. Pelo papel energético no mecanismo contrátil das células musculares cardíacas e regulador da concentração de ésteres de acil-CoA no miocárdio 9, a carnitina tem sido um importante coadjuvante no tratamento de afecções cardiovasculares.
  8. Isquemia do miocárdio: angina, infarto agudo do miocárdio (IAM) e insuficiência cardíaca

Em estudos clínicos e experimentais, observou-se que a isquemia cardíaca ocasiona rápida depleção de carnitina. Tal depleção, associada ao acúmulo de ésteres de acilcarnitina no miocárdio, pode levar a danos na membrana das células cardíacas e prejuízos na atividade elétrica e contrátil do coração 10,

Com o fluxo sangüíneo reduzido, o processo de produção de energia é limitado 11,12, É possível que a carnitina exógena exerça efeitos benéficos sobre a função cardíaca, prevenindo acúmulo de produtos tóxicos e reduções importantes no conteúdo intracelular de carnitina no miocárdio durante os episódios isquêmicos.

Assim, reduziria prejuízos na liberação de fosfatos de alta energia através do aumento da oxidação mitocondrial de ácidos graxos no coração, resultando na diminuição do dano ao miocárdio 9, Além de melhoras significativas no desempenho físico de pacientes com angina 9, alguns estudos demonstraram efeitos positivos na função cardíaca de pacientes suplementados com L-carnitina.

Iliceto et al.12 estudaram os efeitos da suplementação durante doze meses em 472 pacientes (239 com placebo e 233 suplementados) pós-infarto agudo do miocárdio e verificaram que o grupo que recebeu a L-carnitina teve menor dilatação ventricular esquerda; tal dilatação pode ser considerada um preditor de eventos cardíacos futuros.

Uma das falhas apontadas pelos autores do estudo foi a falta de dosagens dos níveis séricos e urinários de carnitina, embora rápida depleção tecidual e sérica e aumento da excreção urinária tenham sido demonstrados em estudos semelhantes. O infarto agudo do miocárdio, provocado também pela redução do suprimento sangüíneo ao coração, pode levar à insuficiência cardíaca, associada a defeitos na membrana sarcoplasmática do órgão.

Nesse sentido, Sethi et al.10 verificaram efeitos positivos da administração de L-propionil-carnitina na proteção da membrana sarcoplasmática das células miocárdicas, melhorando a insuficiência cardíaca de ratos após quatro semanas de tratamento. Os efeitos benéficos observados foram atribuídos às propriedades antioxidantes da carnitina.

Doença arterial periférica A doença arterial periférica (DAP) é uma manifestação comum da aterosclerose que atinge a aorta e seus ramos, afetando aproximadamente 12% da população geral e 20% dos indivíduos idosos. Tem forte associação com outras doenças cardiovasculares e, por esse motivo, pacientes com DAP apresentam risco cardiovascular similar aos portadores de doença arterial coronariana 13,

  • Nesses pacientes, o fluxo sangüíneo arterial é reduzido e incapaz de atender a demanda metabólica dos músculos em atividade, resultando em isquemia e sintomas como claudicação intermitente (dores nas coxas, nádegas e panturrilhas ao caminhar).
  • Com isso, há prejuízo no desempenho em exercícios físicos e, dependendo da extensão da doença, na capacidade de realizar tarefas cotidianas 13-15,

Além do fluxo limitado, podem ocorrer anormalidades histológicas, neurais e metabólicas nos músculos esqueléticos desses pacientes. Terapias que influenciam no metabolismo muscular podem ser, portanto, efetivas para a melhora do desempenho 14,16,17, Na doença arterial periférica, são também observadas alterações nas concentrações de produtos do metabolismo oxidativo, incluindo acilcarnitinas.

Além disso, há redução de carnitina livre 18, Assim sendo, a suplementação de L-carnitina poderia ser benéfica, uma vez que é um agente metabólico capaz de aumentar a disponibilidade local de substratos produtores de energia 19, Estudos envolvendo a suplementação oral de L-carnitina e L-propionil-carnitna 15,16,19-22 demonstraram melhora significativa do consumo máximo de oxigênio, da distância máxima percorrida e do tempo de caminhada em indivíduos portadores de doença arterial periférica com diferentes graus de condicionamento quando comparados aos controles.

Além da melhora no desempenho da atividade física, o aumento da força muscular também é observado em indivíduos portadores de DAP depois de quatro semanas de suplementação (2g/dia) com propionil-L-carnitina 15, Strano et al.22 compararam o efeito da Propionil-L-Carnitina (500mg-3x/dia) com a Pentoxifilina (400mg-3x/dia) em pacientes com claudicação intermitente e observaram que a L-carnitina é bem tolerada, promove melhora dos sintomas de claudicação intermitente e aumento da distância máxima percorrida; embora os benefícios tenham sido observados apenas nos pacientes com prejuízos severos da capacidade funcional.

  • A extensão e a variabilidade nas respostas dos grupos placebos têm sido a maior dificuldade dos estudos que avaliam os efeitos da suplementação sobre a capacidade física dos indivíduos.
  • Em geral, os efeitos positivos observados também nesse grupo são atribuídos à repetição das tarefas motoras nos testes físicos (efeito do treinamento) e motivação dos indivíduos em relação à avaliação.

Doenças renais A doença renal em estágio final (EFDR) pode reduzir consideravelmente a capacidade funcional, qualidade e expectativa de vida dos pacientes 23, Nesse estágio, os pacientes podem necessitar, além do tratamento dietético, de diálise ou transplante renal.

Embora as concentrações de diversos componentes (eletrólitos e não-eletrólitos) no plasma e no líquido de diálise sejam suficientes para repor o necessário e eliminar os excessos, esse tipo de tratamento pode levar a perdas de alguns nutrientes importantes para o organismo, como as proteínas e, particularmente, a carnitina.

Em condições normais, os rins reabsorvem completamente a carnitina livre, sendo as perdas urinárias na forma de éster de carnitina e acilcarnitinas. Ao contrário, perdas de ambas (carnitina e acilcarnitinas) durante sessões de diálise levam a quedas acentuadas na concentração plasmática (aproximadamente 80%), sendo compensadas por meio da liberação de carnitina pelos músculos que, com o tempo, também se tornam depletados 7,23,24,

  1. Existe uma correlação negativa entre tempo de diálise e concentração de carnitina livre no organismo.
  2. Alguns pacientes particularmente submetidos à hemodiálise por longos períodos também podem desenvolver deficiência de carnitina por outras causas, como: redução da ingestão de carnitina ou dos aminoácidos precursores (lisina e metionina), má absorção intestinal, capacidade de síntese renal reduzida, transporte alterado, redução das atividades de enzimas do sistema carnitina e aumento das necessidades 7,24,25,

A carnitina é um importante co-fator no metabolismo intermediário. Assim, a redução das concentrações no organismo pode levar a sérios distúrbios celulares, incluindo prejuízos na oxidação de ácidos graxos e na produção energética, piora do perfil lipídico, acúmulo de produtos tóxicos do metabolismo de gorduras e inibição de algumas enzimas da via metabólica 26,

  • Essas anormalidades metabólicas podem causar alterações clínicas importantes como: fraqueza muscular e miopatia, perda de proteína corporal e caquexia, resistência insulínica e intolerância à glicose, anormalidades do metabolismo lipídico, anemia refratária ao tratamento com eritropoetina, cardiomiopatia e sintomas intradialíticos (cãibras, hipotensão e arritmia cardíaca) 24,27,
  • Em geral, pacientes com função cardíaca e pulmonar normais submetidos à hemodiálise apresentam redução do consumo máximo de oxigênio e da capacidade funcional, sugerindo defeitos no suprimento de oxigênio e energia muscular, possivelmente relacionados a baixas concentrações de carnitina 7,
  • Alguns estudos sugerem que a suplementação de carnitina na EFDR possa repor a carnitina perdida, reequilibrando o pool de carnitina na corrente sangüínea e, mais lentamente, nos músculos 24,
  • A suplementação de carnitina poderia melhorar o perfil hematológico de pacientes em hemodiálise pelo aumento do hematócrito e redução da utilização de eritropoetina 7 ; melhora da capacidade de exercício por aumentar ou manter a capacidade aeróbia e hipertrofia muscular 26 ; redução da ocorrência de cãibras 28 ; redução da percepção de fadiga e aumento da sensação de bem-estar e da qualidade de vida 27,
  • A melhora do perfil lipídico pela redução dos níveis de colesterol e triglicerídeos e o aumento da lipoproteína de alta densidade (HDL-c) foram documentados em alguns casos 23, embora os resultados ainda não sejam uniformes em virtude da variabilidade de protocolos de suplementação empregados nos estudos 7,
  • O Consenso Europeu sobre estado nutricional de pacientes submetidos à hemodiálise propõe que mais estudos sejam realizados em relação à suplementação de carnitina.

Em 2000, pesquisadores da Fundação Nacional do Rim (EUA) desenvolveram um guia clínico prático para o tratamento de pacientes urêmicos crônicos. No que se refere à suplementação de carnitina, os autores sugerem que poderia ser recomendada em situações em que os pacientes em diálise não respondem às terapias convencionais; ou seja, quando existem cãibras musculares persistentes, hipotensão durante a diálise, falta de energia que afeta a qualidade de vida, miopatias, cardiomiopatia e anemia, mesmo com altas doses de eritropoetina. O perfil plasmático de carnitina poderia ser utilizado como um guia, sendo que níveis subnormais de carnitina livre e uma razão elevada de acilcarnitina/carnitina livre (>0,6) poderiam indicar a necessidade de suplementação. Nesses casos, doses de carnitina (aproximadamente 20mg/kg de peso corporal) são recomendadas após cada sessão de diálise.

  1. A maioria dos estudos com pacientes submetidos à hemodiálise utilizam doses entre 5 e 100mg/kg administradas por via intravenosa, oral ou diálise 7,
  2. Em função da baixa disponibilidade da carnitina oral (5%-18%) e da falta de adesão ao tratamento pelos pacientes, há preferência pela administração intravenosa 2,
  3. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)
  4. O uso da terapia anti-retroviral, mais comumente dos inibidores de protease, está relacionado à síndrome da lipodistrofia, dislipidemias, adiposidade central e resistência insulínica em pacientes com AIDS 6,8,29, tornando-os sujeitos a complicações cardiovasculares prematuras 8,29,
  5. Para controle dos distúrbios lipídicos, tem sido proposto o uso das vastatinas 8 (hipolipemiantes), embora sua aplicação esteja relacionada à toxidade hepática.
  6. A L-carnitina facilita o transporte de ácidos graxos através da membrana mitocondrial para oxidação e pode melhorar as irregularidades no metabolismo lipídico de pacientes com AIDS, em substituição ao uso de vastatinas 8,

Concentrações séricas e musculares de carnitina são freqüentemente baixas nos indivíduos com HIV, devido à maior excreção renal, sepse, hipermetabolismo, efeito de citocinas, enteropatias, má absorção, dieta deficiente, ação de antibióticos e medicamentos anti-retrovirais.

  • Nesse sentido, a depleção de carnitina no sangue, nos tecidos periféricos e nas células mononucleares poderia ser um fator agravante dos distúrbios no metabolismo lipídico e das irregularidades na produção de citocinas (principal fator na progressão dos prejuízos das funções imunológicas), freqüentemente observados nos pacientes em uso de terapia anti-retroviral 6,8,
  • Irregularidades na produção de citocinas também estão associadas ao distúrbio lipídico, sendo a principal citocina envolvida o fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) que se encontra elevado na AIDS e provoca aumento de triglicérides pela inibição da lipase lipoprotéica, diminuindo a depuração dos quilomícrons e VLDL plasmáticos 6,
  • O tratamento com L-carnitina pode resultar em redução dos níveis de triglicerídeos plasmáticos por meio da modulação da ação do fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) 6,

Algumas vezes, pacientes infectados apresentam níveis séricos normais de carnitina. No entanto, esses níveis são significativamente menores nas células mononucleares quando comparados aos indivíduos saudáveis. Esse fato pode estar relacionado ao grau de apoptose nas células CD4 e CD8 31,

  1. Como os lipídeos são necessários para a proliferação de linfócitos e produção de citocinas, o aumento da função imune e a correção dos níveis de linfócitos pela suplementação de L-carnitina podem ser observados em indivíduos imunodeprimidos portadores de HIV 6,
  2. No entanto, embora a carnitina possa ser benéfica em indíviduos infectados pelo HIV-1 ou AIDS, seu uso ainda não é preconizado pela Sociedade Internacional de AIDS 29,
  3. Neuropatia diabética

Provavelmente, o principal mecanismo envolvido na patogênese da neuropatia periférica seria o aumento anormal da atividade da aldose redutase (enzima que converte glicose em sorbitol e frutose). Existe também a relação com anormalidades microvasculares que provocam diminuição do fluxo sangüíneo e hipóxia neural, alteração do metabolismo de ácidos graxos, estresse oxidativo e diminuição de fatores de crescimento para os neurônios e células Schwann 32,33,

A redução da disponibilidade de grupos acetil, necessários para síntese de estruturas fosfolipídicas, também está relacionada ao desenvolvimento da neuropatia diabética. Assim, pacientes com deficiência de acetil-L-carnitina podem apresentar danos na bainha de mielina 33, Avaliando a eficácia entre placebo, acetil-L-carnitina (ALC) e propionil-L-carnitina (PC) (500mg/kg/dia) durante dois meses, Cotter et al.4 verificaram que a suplementação em ratos proporcionou efeitos significativos sobre a prevenção da disfunção neural em relação ao grupo placebo, sem diferenças significativas entre os derivados da carnitina (ALC e PC).

Os efeitos benéficos da carnitina observados neste estudo foram relacionados ao aumento do fluxo sangüíneo provocado pela inibição da aldose redutase, ação antioxidante, transporte de ácidos graxos essenciais – w6 e da aminoguanidina. No entanto, os resultados devem ser analisados com cautela, pois os testes foram realizados com animais, o que dificulta a extrapolação para seres humanos.

O diagnóstico da polineuropatia diabética é feito principalmente por meio de exames clínicos e estudos de condução nervosa. De Grandis & Minardi 33 realizaram um estudo com 294 pacientes portadores de neuropatia diabética. A utilização de acetil-L-carnitina (2g/dia) durante um ano nesses pacientes promoveu aumento significativo nos parâmetros eletrofisiológicos (velocidade de condução neural) e importante diminuição dos sintomas de dor decorrentes da neuropatia.

De acordo com os autores, a L-carnitina poderia ser um fator protetor importante na neuropatia desenvolvida em indivíduos diabéticos, aumentando a perfusão endoneural, e estimulando a regeneração das fibras nervosas. Nesse estudo, os efeitos da suplementação de acetil-L-carnitina foram observados apenas nos indivíduos com algum sintoma clínico, como a dor.

  • DOSES E EFEITOS ADVERSOS
  • Embora ainda não exista recomendação de ingestão diária, a maior parte dos estudos em humanos utilizam doses entre 2 e 6g/dia de carnitina por períodos de dez dias a dez semanas, além de administrações agudas, sendo que as doses orais usualmente suplementadas variam entre 500 e 2000mg/dia.
  • Em uma ampla revisão acerca da suplementação com carnitina, Carretelli & Marconi 1 observaram que doses entre 1 a 6g/dia por até seis meses melhoraram consideravelmente as concentrações plasmáticas de carnitina, sem nenhum efeito adverso ou intoxicação nesses indivíduos.
  • Achados semelhantes foram observados nos estudos clínicos apresentados na presente revisão, com períodos similares ou maiores de suplementação, embora alguns casos isolados de cefaléia, náuseas e desconforto gástrico tenham sido relatados.
  • Em outro estudo 34, avaliando a segurança na administração de L-carnitina por 21 dias, não foram observadas modificações nos indicadores de função hepática (fosfatase alcalina, bilirrubina, alanina aminotranferase, aspartato aminotranferase e lactato desidrogenase) e renal (creatinina, uréia, ácido úrico) nem nas variáveis hematológicas (hematócrito, hemoglobina, neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos, basófilos, glicose, albumina, proteínas totais e minerais).
  • Considerando o fato de a carnitina estar sendo usada como medicamento, a possibilidade de efeitos colaterais e a falta de consenso científico sobre sua segurança e eficácia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 2003 concluiu que ela deve ter seu uso condicionado à supervisão médica e não se enquadra na área de alimentos.
  • PERSPECTIVAS FUTURAS

A carnitina é um composto endógeno com funções bem estabelecidas no metabolismo celular. No entanto, a escassez de dados conclusivos quanto aos efeitos benéficos da suplementação pode ser atribuída a algumas limitações metodológicas dos estudos.

  1. As pesquisas futuras deveriam diferenciar sexo, idade, grupo placebo e suplementado, graus de inabilidade física e identificar cuidadosamente pacientes com e sem deficiência de carnitina.
  2. Além disso, para a melhor interpretação dos resultados, os estudos deveriam coletar e integrar dados referentes à farmacologia da carnitina (dose, duração do tratamento, relação dose-resposta), efeitos bioquímicos e respostas fisiológicas.
  3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
  4. Inúmeras pesquisas ainda são direcionadas ao tratamento farmacológico de diversas doenças e pouca atenção tem sido dada às condutas nutricionais ou não farmacológicas que poderiam apresentar resultados similares ou superiores, além de outras vantagens como baixo custo e facilidade de obtenção e administração.
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A suplementação de carnitina é promissora, uma vez que não é onerosa e se mostra segura. A melhora das condições clínicas citadas nos estudos clínicos e experimentais, o aumento da tolerância ao exercício físico e a melhor qualidade e maior expectativa de vida dos portadores de enfermidades crônicas são observados, especialmente nos pacientes com baixos níveis sangüíneos e/ou teciduais de carnitina () e naqueles com prejuízos funcionais mais pronunciados.

  • Ainda há controvérsias em relação ao uso de carnitina devido à falta de consistência nos resultados dos estudos em relação às respostas metabólicas.
  • Além disso, existe uma variabilidade de soluções e dosagens utilizadas, protocolos e técnicas de análise.
  • Assim sendo, mais pesquisas são necessárias no sentido de confirmar seus reais efeitos como agente ergogênico em situações clínicas específicas.

Recebido para publicação em 4 de dezembro de 2003 e aceito em 27 de setembro de 2004. : Aplicações clínicas da suplementação de L-carnitina

Quem sofre de ansiedade pode tomar L-carnitina?

A acetil-L-carnitina (ALC) é a forma acetilada do aminoácido L-carnitina capaz de modular diversos alvos relacionados a fisiopatologia dos transtornos mentais. Recentemente, estudos pré-clínicos e clínicos demonstraram os efeitos da ALC em parâmetros relevantes para ansiedade, esquizofrenia e transtornos do humor.

Por que a suplementação de carnitina não é eficaz?

ARTIGO ORIGINAL A suplementação de L-carnitina não promove alterações na taxa metabólica de repouso e na utilização dos substratos energéticos em indivíduos ativos The supplementation of L-carnitine does not promote alterations in the resting metabolic rate and in the use of energetic substrates in physically active individuals Christianne de Faria Coelho I ; João Felipe Mota II ; Fabrício César de Paula Ravagnani III ; Roberto Carlos Burini IV I Programa de Pós-graduação em Nutrição Humana Aplicada (Pronut), Universidade de São Paulo (USP). Universidade parao Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp), Campo Grande, MS, Brasil II Departamento de Fisiologia da Nutrição, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM). Departamento de Nutrição, Universidade São Francisco, Bragança Paulista, SP, Brasil III Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, MS, Brasil IV Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri), Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (Unesp) Correspondência Correspondência para: Christianne de Faria Coelho Rua Garcia Neto, 395 78065-050 – Cuiabá, MT, Brasil [email protected] RESUMO OBJETIVO: Avaliar o efeito da suplementação de L-carnitina, por 30 dias, sobre a taxa metabólica de repouso (TMR) e oxidação de ácidos graxos livres (AGL), em repouso e exercício. SUJEITOS E MÉTODOS: Vinte e um voluntários ativos (40 a 58 anos) com sobrepeso foram randomizados em dois grupos: suplementado (GS; N = 11; 1,8 g/dia de L-carnitina) e placebo (GP; N = 10; maltodextrina). Foi feita avaliação da ingestão calórica, antropometria, determinação da TMR, VO 2máx, quociente respiratório e AGL plasmáticos. RESULTADOS: Não houve diferença significativa na ingestão (-244,66 vs. -126,00 kcal/dia), composição corporal (-0,07 vs. -0,17 kg/m 2 ), TMR (0,06 vs. -0,02 kcal/ dia), quociente respiratório em repouso (3,69 vs. -1,01) e exercício (0,01 vs. -0,01) e VO 2máx (0,50 vs.1,25 mL/kg/min) para o grupo GS em relação ao GP. Houve aumento dos AGL em repouso no GP (0,27), porém sem diferenças no exercício para os grupos. CONCLUSÃO: Não houve efeito da L-carnitina em nenhuma das variáveis analisadas no estudo. Descritores: Exercício físico; suplementação; L-carnitina; composição corporal; ácidos graxos livres ABSTRACT PURPOSE: To investigate the effects of L-carnitine supplementation, over thirty days, on the resting metabolic rate (RMR) and oxidation of free fatty acids (FFA) under rested or exercised conditions. SUBJECTS AND METHODS: Twenty-one overweight active volunteers (40 to 58 years old) were randomized into two groups: supplemented (GS; N = 11; 1,8 g/day of L-carnitine) or placebo (GP; N = 10; maltodextrin). Caloric intake, anthropometry, RMR, VO 2max, respiratory exchange ratio and plasma FFA were measured. RESULTS: No significant changes were found in the caloric intake (-244,66 vs. -126,00 kcal/day), body composition (-0.07 vs. -0.17 kg/m 2 ), RMR (0.06 vs. -0.02 kcal/day), respiratory exchange ratio at rest (3.69 vs. -1.01) and exercise (0.01 vs. -0.01) or VO 2max (0.50 vs.1.25 mL/kg/min) between GS and GP. Plasma FFA levels were increased under resting conditions only in the GP group (0.27), but no significant changes were observed before or after physical activity in any of the groups. CONCLUSION: Supplementation with L-carnitine caused no changes in the variables analyzed in this study. Keywords: Exercise; supplementation; L-carnitine; body composition; free fatty acids INTRODUÇÃO O uso de suplementos nutricionais tem crescido ao longo das últimas décadas. Atletas e indivíduos fisicamente ativos acreditam no potencial ergogênico de diversas substâncias, sobretudo para a melhoria do desempenho físico e/ou estética corporal (1). Entre as substâncias que têm recebido grande atenção de pesquisadores, técnicos, atletas e demais indivíduos, destaca-se a carnitina. Por volta de 1955, a L-carnitina foi relacionada à oxidação de ácidos graxos (2) e, a partir da década de 1980, sua suplementação passou a ser recomendada para o tratamento de doenças associadas às concentrações diminuídas desta amina quartenária (3). Atualmente, a carnitina tem sido frequentemente utilizada por indivíduos ativos como coadjuvante na redução de gordura corporal, sendo usada comercialmente nos suplementos denominados termogênicos (1). Os possíveis efeitos termogênico e emagrecedor da substância baseiam-se no fato de que a L-carnitina atua nas reações de transferência dos ácidos graxos cadeia longa do citosol para a mitocôndria, facilitando a oxidação desses e a consequente geração de ATP (4-5). Assim, a hipótese proposta é de que a administração de carnitina poderia ter efeito, tanto no repouso quanto no exercício, sobre a utilização dos ácidos graxos livres pelo músculo, mudando dessa maneira a oxidação de substratos de carboidratos para lipídios, reduzindo o valor do quociente respiratório (QR) (2). Especificamente em relação ao exercício físico, a suplementação de L-carnitina poderia elevar os seus níveis musculares, aumentando assim a liberação de CoA livre e reduzindo a razão acetil-CoA/CoA livre nas mitocôndrias. A menor relação acetil-CoA/CoA estimularia a atividade da piruvato desidrogenase e aumentaria, dessa forma, o fluxo de substratos através do ciclo de Krebs e, como consequência, o VO 2máx (6). No entanto, todos os efeitos citados acima ainda são controversos, particularmente nos indivíduos ativos de idades mais avançadas. Logo, este trabalho tem como objetivo avaliar o efeito da suplementação de L-carnitina por quatro semanas sobre a taxa metabólica de repouso e a oxidação de ácidos graxos livres no estado de repouso e durante a prática de exercício físico aeróbico em indivíduos ativos com excesso de peso e obesidade. SUJEITOS E MÉTODOS Foram selecionados 30 indivíduos, acima de 40 anos (46 ± 5 anos), com diagnóstico de excesso de peso e obesidade (7), participantes há 12 semanas do programa de extensão universitária com exercícios físicos supervisionados e aconselhamento alimentar conduzidos pelo Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri) da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu. Os critérios de exclusão foram: indivíduos vegetarianos, mulheres com ciclos menstruais irregulares, portadores de doenças renais, digestivas e metabólicas, que faziam uso de hormônios ou similares e drogas que interferissem no metabolismo normal, além de corticoides, hipolipemiantes como estatinas e fibratos, diuréticos e suplementos vitamínicos e/ou minerálicos. O estudo cego e randomizado foi conduzido dentro dos padrões exigidos pela Declaração de Helsinki (1975), modificada em 1983 e aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu, Brasil (nº112/protocolo 209/2003). Todos os indivíduos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido informando sobre a proposta e os procedimentos do programa. O protocolo de exercícios físicos do projeto de extensão universitária foi constituído por exercícios aeróbicos, de resistência muscular localizada e flexibilidade, aplicados em cinco sessões semanais, em que o programa A foi realizado às segundas, quartas e sextas-feiras e o programa B, às terças e quintas-feiras, como se segue: Programa A: 10 minutos de alongamento e aquecimento articular; 40 minutos de caminhada (70% a 80% da frequência cardíaca máxima); 20 minutos de flexibilidade e equilíbrio; 10 minutos de relaxamento. Programa B: 10 minutos de alongamento e aquecimento articular; 30 minutos de resistência muscular localizada; 30 minutos de caminhada (70% a 80% da frequência cardíaca máxima); 10 minutos de relaxamento. Após 12 semanas de participação no projeto, os indivíduos foram randomizados em dois grupos, contendo cada grupo 7 homens e 8 mulheres. Ambos os grupos permaneceram seguindo o protocolo de exercícios físicos por mais quatro semanas acrescido de suplementação por via oral. O grupo suplementado (GS) foi composto por indivíduos que receberam cápsulas de L-carnitina em doses diárias de 1,8 g, fracionadas nos períodos manhã e tarde ou noite, em intervalo médio de oito horas, sendo um deles uma hora antes da prática de exercícios físicos aeróbicos. O grupo placebo (GP) foi composto por indivíduos que receberam cápsulas de composto de amido com a mesma quantidade e características organolépticas. Os grupos desconheciam o suplemento que estavam recebendo e todos os indivíduos foram orientados a ingerir as cápsulas (6 cápsulas/dia) com água ou suco de frutas. A dosagem e o período de suplementação seguiram o protocolo utilizado em outros estudos, sendo considerado seguro (8). Ambos os grupos foram submetidos a avaliações no início (M0) e final do experimento (M1). Entre M0 e M1 os sujeitos foram pesados e consultados em relação à adesão ao protocolo de exercícios e suplementação, bem como à ocorrência de efeitos adversos durante o experimento. No primeiro dia de teste e ao final do período experimental (últimos testes), os indivíduos foram submetidos à anamnese nutricional. Os participantes foram orientados a preencher registro dietético de três dias (dois dias na semana e um no domingo), com a finalidade de se conhecer a ingestão calórica (Virtual Nutri, versão 1.0) e verificar possíveis alterações alimentares no decorrer do experimento. A dieta deveria permanecer sem alterações nas quatro semanas de suplementação. Durante todo o experimento, a ingestão de água foi estimulada para adequada hidratação, pois foi constatado baixo consumo entre os indivíduos. O estímulo ocorreu por meio de orientações específicas sobre a importância e apresentação de estratégias de mensuração da ingestão, como a utilização de garrafas com registro de volume. Foram tomadas medidas de peso corporal e estatura para o cálculo do índice de massa corpórea (IMC) e posterior classificação dos indivíduos (7). A circunferência abdominal foi medida com fita métrica inextensível e inelástica e analisada de acordo com o sexo (9). Para estimar os valores de gordura percentual, foi utilizado o teste de impedância bioelétrica e a fórmula proposta por Gray e cols. (10). As concentrações de ácidos graxos livres (AGL) foram dosadas no M0 e M1, pela manhã, em repouso e após jejum de 12 horas e antes e após a realização do exercício físico em esteira rolante, durante 30 minutos, a 60% do consumo máximo de oxigênio (VO 2máx ). No período anterior ao exercício, a coleta sanguínea foi realizada após 1 hora da ingestão de uma refeição padrão, contendo aproximadamente 330 kcal (69% de carboidratos; 13% de proteínas e 17% de lipídios). Anteriormente a essa refeição, os indivíduos estavam em jejum de 4 horas. Para a determinação das concentrações de AGL, foi utilizado o método proposto por Novak (11). Para avaliação do consumo máximo de oxigênio (VO 2máx ), foi realizado teste ergoespirométrico em esteira rolante (modelo QMCTM 90), a partir de teste contínuo escalonado, com inclinação de 1%, velocidade inicial de 4,5 km/h e aumento de 0,5 km a cada minuto até a exaustão voluntária ou quando mais que um dos seguintes critérios fossem atingidos: aumento no VO 2 menor que 2 ml.kg -1,min -1 para o aumento na intensidade de exercício (platô); razão das trocas respiratórias maior que 1,1; frequência cardíaca máxima prevista para a idade fosse atingida (12). Para determinar a potência aeróbia máxima dos indivíduos, foi utilizada a classificação proposta pela American Heart Association (13). Para avaliação da TMR, os indivíduos estavam em jejum de 12 horas, sem exercícios físicos nas 24 horas prévias à avaliação, e permaneceram em decúbito dorsal durante 10 minutos pré-teste. Após esse período, a avaliação foi realizada durante 30 minutos. O volume de oxigênio consumido (VO 2 ) e o volume de gás carbônico produzido (VCO 2 ) foram analisados por calorimetria indireta. A partir desses valores foi calculada a taxa metabólica de repouso mediante a seguinte fórmula: TMR = (3,9 x VO 2 (L/min)) + (1,1 x VCO 2 (L/ min)) x 1440 (14). Para a quantificação do tipo de substrato oxidado em repouso e durante o exercício foi realizado o quociente respiratório (QR) expresso pela razão VCO 2 /VO 2 (15). Uma hora antes da realização do exercício, os indivíduos fizeram a refeição padrão descrita anteriormente. Todos os parâmetros respiratórios foram medidos continuamente em sistema de circuito aberto (modelo QMCTM 90 Metabolic Cart, Quinton ®, Bothell, USA) e a temperatura ambiente e a umidade relativa do ar foram mantidas entre 21ºC e 23ºC e 40% e 60%, respectivamente. Análise estatística Foi analisada a distribuição das variáveis por meio dos testes Shapiro-Wilk e Kolmogorov & Smirnov, e a análise de homocedasticidade das variâncias por meio do teste de Levene. Para a comparação dos dois grupos, nos dois momentos do estudo, foi realizado o teste t dependente para as variáveis paramétricas e Mann-Whitney U Test para as não paramétricas. Para o estudo das variações entre os momentos inicial e final (Δ), considerou-se o teste não paramétrico de Mann-Whitney. Para a comparação entre os grupos em diferentes momentos, foi realizada análise de variância por dois fatores (ANOVA two way ) e o teste post hoc de Scheffé para localizar o momento em que a diferença ocorreu. Os resultados foram processados em software STATISTICA for Windows (version 6.0, Statsoft, Tulsa, USA) e estão expressos sob a forma de média ± desvio-padrão (DP) ou mediana ± semiamplitude interquartílica. O nível de significância adotado para as análises foi o de 5%. RESULTADOS Dos 30 indivíduos que iniciaram o estudo, nove foram excluídos por não cumprirem satisfatoriamente o protocolo de exercício (frequência mínima de 3x/semana) e a suplementação de L-carnitina. Em relação à suplementação, uma mulher relatou efeitos indesejáveis como dores de cabeça e inchaço nas extremidades, sendo a suplementação interrompida. Duas mulheres desistiram do programa por problemas articulares. O grupo suplementado com L-carnitina foi composto por 5 homens e 6 mulheres, enquanto o grupo placebo foi composto por 4 homens e 6 mulheres. A tabela 1 mostra que ambos os grupos apresentaram excesso de peso, sendo GS classificado como excesso de peso e GP como obeso classe I, de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o IMC (7), porém sem diferença significativa entre os valores médios. Os grupos não se diferenciaram na circunferência de abdômen, na AGL em jejum, na TMR, na ingestão energética, no QR em repouso e durante a prática de exercício físico. Os valores de VO 2máx, em ambos os grupos, encontram-se abaixo do esperado para a idade, sendo estes classificados como baixa condição, segundo os critérios da American Heart Association (13). Assim, os grupos foram considerados homogêneos no momento inicial por não apresentarem diferenças significativas (p > 0,05) nos valores médios em nenhuma das variáveis estudadas ( Tabela 1 ). Após o período experimental, não houve variação significativa (p > 0,05) nos valores de IMC, e os dois grupos permaneceram na mesma classificação ( Tabela 2 ). O percentual de gordura corporal e a circunferência de abdômen também não apresentaram alterações significativas (p > 0,05) entre os grupos nos diferentes momentos. Em relação à ingestão energética, os grupos mantiveram o mesmo consumo de calorias do momento inicial. Além disso, a variação mediana (Δ) entre os momentos não diferiu entre os grupos para todas as variáveis citadas ( Tabela 2 ). As concentrações de AGL em jejum foram semelhantes (p > 0,05) em ambos os grupos nos diferentes momentos. Ao analisar as variações medianas dos grupos, foi observada diferença significativa ( Tabela 3 ). As concentrações de AGL, no pré e pós-exercício, não foram estatisticamente diferentes após a suplementação em GS e GP, e as respectivas variações também não diferiram (p < 0,05) entre os grupos ( Tabela 3 ). Apesar de a taxa metabólica de repouso (TMR) ter sofrido discreta redução em GS e aumento em GP, após o período experimental, esses resultados não foram significativos (p > 0,05) quando comparadas as variações entre os momentos e entre os grupos nos diferentes momentos (Tabela 3). Também não foram observadas variações significativas (p > 0,05) em relação ao quociente respiratório, tanto em repouso quanto em exercício, entre os momentos e grupos ( Tabela 3 ). Os valores de VO 2máx, expressos na tabela 3, apresentaram discreto aumento entre os momentos inicial e final, em ambos os grupos, porém sem variações significativas (p > 0,05). Em relação à variação percentual de VO 2máx dos grupos, não houve diferença significativa ( Tabela 3 ). DISCUSSÃO Na literatura, existem muitas divergências sobre os efeitos da suplementação de L-carnitina na oxidação de substratos energéticos. No presente estudo, não houve mudanças significativas na composição corporal, no quociente respiratório, na TMR e nas AGLs, sugerindo que a taxa metabólica e a oxidação de gorduras não tenham sido influenciadas pela suplementação de L-carnitina. No entanto, no GP foi observado aumento de 63,35% das concentrações de AGL, que poderia estar relacionado ao discreto aumento do VO 2máx (7,21%), apesar de não ser significante, mesmo quando comparado ao GS. Segundo Bassett e Howley (16), o treinamento aeróbico causa aumento nas atividades das enzimas mitocondriais, elevando a oxidação de lipídios. De acordo com Braun e Horton (17), em situações normais de repouso, não existem diferenças no turnover, oxidação de glicose e lipídios e quociente respiratório entre os sexos e nas diferentes fases do ciclo menstrual das mulheres, o que descarta possíveis influências dessas variáveis nos resultados obtidos. Os achados em relação à suplementação corroboram com os de Natali e cols. (18), que não encontraram diferenças significativas para os níveis circulantes de glicose, lactato, piruvato, ácidos graxos livres, triglicerídios, glicerol e β-hidroxibutirato no estado de repouso após infusão de L-carnitina ou salina em jovens de ambos os sexos. Enquanto no estudo de Gorostiaga e cols. (19), com o objetivo de avaliar o aumento da oxidação de ácidos graxos em repouso, tenha encontrado resultados positivos com doses semelhantes à do presente estudo (aproximadamente 2 gramas/dia), outros, utilizando infusão intravenosa de carnitina (3 g) (17), doses inferiores e semelhantes (20-22), ou doses superiores (4 a 6 g/dia), não confirmaram tais achados (23-24). Recentemente, Lee e cols. (25) verificaram por biópsia muscular que a suplementação de L-carnitina (4 g/dia) não alterou a expressão gênica da proteína ligadora de ácido graxo (FABPc), indicadora da capacidade de oxidação de ácidos graxos no músculo, nem a atividade da β-hidroxiacil CoA desidrogenase. Em repouso, aproximadamente 70% dos ácidos graxos liberados na circulação retornam aos triacilgliceróis em vez de serem oxidados. Nesse caso, o aumento da concentração de carnitina na circulação não teria efeitos adicionais sobre a oxidação de gorduras, uma vez que o fator limitante da oxidação não está ligado à disponibilidade de substratos para a oxidação (26). Além do repouso, a carnitina poderia ser útil como suplemento nas situações em que os lipídios sejam usados predominantemente como fonte energética e este-jam disponíveis, como ocorre nos exercícios de baixa a moderada intensidade (27). No entanto, após as sessões de exercício moderado (60% do VO 2máx ) no presente estudo, os níveis plasmáticos de AGLs aumentaram cerca de 66% e 25% acima dos níveis de repouso para GS e 39% e 77% para GP nos dois momentos, respectivamente. Embora os aumentos tenham sido maiores para GP, as diferenças não foram significativas entre os momentos para o mesmo grupo, nem entre os grupos suplementados. Após o período experimental, o delta foi menor para o GS, demonstrando que a suplementação de L-carnitina não aumentou a mobilização de gordura do tecido adiposo. Alterações na oxidação de gorduras e da taxa metabólica de repouso poderiam ser decorrentes de mudanças na composição corporal. Todavia, não houve alteração da composição corporal no presente estudo, corroborando com os achados de outros autores. Villani e cols. (24) observaram que, em mulheres na pré-menopausa com excesso de gordura corporal, a suplementação de L-carnitina (4 g/dia), acompanhada de exercícios físicos de moderada intensidade, durante oito semanas, não alterou significativamente o peso corporal, percentual de gordura e de massa corporal magra das participantes do estudo. Em contrapartida, Pistone e cols. (28) avaliaram o efeito da suplementação de L-carnitina (2 g/dia) associado à prática de atividade física durante 30 dias sobre a massa muscular e gordura corporal de idosos. Os autores observaram modificações significativas (p < 0,05) na massa gorda e na massa muscular respectivamente (-3,1 kg e + 2,1 kg) quando comparadas ao placebo (-0,5 kg e +0,2 kg). Já em 2005, Broad e cols. (29), em estudo randomizado, duplo-cego, placebo-controlado e crossover, verificaram que a suplementação com 3 gramas por dia de L-carnitina L-tartarato (~2 g de L-carnitina/dia), durante quatro semanas, não tem efeito sobre oxidação de substratos energéticos ou no desempenho durante o exercício. É descrito que os níveis teciduais e séricos de carnitina sofrem declínios com o envelhecimento em humanos e animais, em associação à perda de massa muscular. Logo, quanto maior for essa perda, menores serão as concentrações de L-carnitina. Constantin-Teodosiu e cols. (30) demonstraram que as concentrações plasmáticas de carnitina livre correlacionaram-se inversamente com a idade em mulheres. De maneira oposta e apesar de não estar claramente estabelecido, especula-se que indivíduos obesos apresentem maiores concentrações de carnitina em relação àqueles com IMC normal. Harper e cols. (31) observaram, em tecidos obtidos por biópsia de fígado e músculo esquelético, que a concentração de carnitina livre, em obesos mórbidos, era duas vezes maior quando comparada ao grupo controle (IMC < 25 kg/m 2 ). Os autores sugerem que esse aumento do conteúdo de carnitina ocorre predominantemente em situações de alto turnover de ácidos graxos, como, por exemplo, na obesidade. Uma das hipóteses para explicar a ausência de efeitos positivos sobre a composição corporal do presente estudo, à semelhança do estudo de Villani e cols. (24), seria a presença de concentrações normais musculares de carnitina nos indivíduos participantes. Em ambos os estudos, foram excluídos indivíduos vegetarianos, pois se sabe que a carnitina, além de seus precursores lisina e metionina, está presente em maiores quantidades nos alimentos de origem animal. Todavia, não foram realizadas dosagem sérica ou quantificação muscular de carnitina, o que pode ser uma limitação desse estudo. Outra questão importante é a relação entre a suplementação de L-carnitina e o tempo necessário para aumentar seus estoques musculares. De acordo com Vukovich e cols. (23), se a suplementação de L-carnitina for capaz de aumentar a concentração intramuscular desta, é possível que a oxidação de lipídios também seja maior. Dessa maneira, um período superior de suplementação poderia aumentar essa oxidação, podendo ser uma limitação desse estudo. Todavia, poucos estudos em humanos ou animais encontraram aumento significativo nas concentrações musculares de carnitina em períodos maiores que quatro semanas (6). Tornopolsky e cols. (32) submeteram seis homens e seis mulheres treinados à corrida em esteira rolante a 65% do VO 2máx com o objetivo de determinar a influência do gênero sobre a utilização de substratos. Após 30 minutos do teste, as concentrações de AGLs permaneceram constantes, sem diferenças significativas para os sexos, embora o QR das mulheres fosse significativamente menor do que o dos homens. Os autores sugerem que os valores de AGLs permaneceram inalterados em função da grande utilização de TGL intramusculares dos indivíduos treinados e principalmente do sexo feminino. Na intensidade de exercício, executada no presente estudo, a participação dos lipídios para o fornecimento de energia foi de 19,3%, observada a partir dos valores de QR (0,94) para G1 e G2 no M0. Após o período experimental, a participação dos lipídios para o fornecimento de energia foi de 12,8% para ambos os grupos, demonstrando ligeira redução da oxidação de gorduras, embora não significativa. Esses achados confirmam os encontrados por outros autores (23,33). Segundo Cerreteli e Marconi (34) e Stephens e cols. (5), a suplementação de L-carnitina poderia ter efeitos indiretos sobre o VO 2máx, por meio da redução da massa corporal gorda e diretamente pelo aumento da disponibilidade e fluxo de substratos energéticos ao ciclo de Krebs, aumento da atividade de enzimas do ciclo de Krebs como piruvato desidrogenase, carnitina palmitoiltransferase e de enzimas da cadeia transportadora de elétrons. O aumento da atividade dessas enzimas potencializaria o fluxo de substratos energéticos para manutenção do " pool " de CoA livre e produção máxima de ATP e possivelmente da potência aeróbia máxima (expressa pelo VO 2máx ). O estudo realizado por Galloway e Broad (35) mostrou, em 14 homens ativos, que a suplementação de carnitina (2 g/dia) aumentou a utilização de gordura e o VO 2máx após 6 semanas, retornando ao basal após quatro semanas de " wash-out ". Não houve modificação da composição corporal nesse período. De maneira semelhante, Wyss e cols. (27) avaliaram os efeitos da suplementação de L-carnitina (3 g/dia) durante sete dias sobre o VO 2máx em condições de hipóxia e normóxia em 7 homens saudáveis. O consumo máximo de oxigênio foi menor na hipóxia, mas sem diferenças significativas para os dois tratamentos (carnitina e placebo). Recentes estudos controlados sugerem que a suplementação de L-carnitina não produz efeitos sobre o VO 2máx (29,36). A eficácia da L-carnitina no aumento do VO 2máx, na maioria das vezes, foi demonstrada apenas por estudos com portadores de doenças cardiovasculares ou renais, os quais apresentavam baixa capacidade funcional (3). Em suma, verificou-se que a suplementação oral de L-carnitina, por quatro semanas, não promoveu alterações sobre a composição corporal e a oxidação de ácidos graxos livres no estado de repouso e durante a prática de exercício físico aeróbico em indivíduos com excesso de peso e obesidade. Desse modo, conclui-se que a suplementação de L-carnitina, nesse tipo de população, é ineficaz na perda de peso, no gasto energético, no uso diferenciado de substratos energéticos e na potência aeróbia. Declaração: os autores declaram não haver conflitos de interesse científico neste estudo. Recebido em 16/Abr/2009 Aceito em 30/Out/2009

Qual a diferença entre carnitina e creatina?

A creatina também é muito conhecida por auxiliar na redução de danos à musculatura ao diminuir a fadiga, possibilitando aumentar a intensidade do treino e favorecer a hipertrofia muscular. L-carnitina é uma molécula já produzida pelo organismo, especificamente no fígado e nos rins, e estocada nos músculos.

Como usar carnitina para perder peso?

Como tomar a L-carnitina? – A maioria dos suplementos de L-carnitina indica a ingestão diária de 2 a 6 g da substância por dia em qualquer horário, inclusive, junto às refeições que incluam carboidrato. Isso porque a substância depende da insulina para ser melhor absorvida pelos músculos.

Qual o melhor suplemento para perda de peso?

Qual é a melhor forma de emagrecer? – Não existem uma fórmula mágica para que você perca peso de maneira rápida e saudável. O processo de emagrecimento é um conjunto de fatores que levam a perda de peso. É importante realizar a dieta, tomar a suplementação e praticar atividades físicas.

  • A dieta deve ser a mais equilibrada possível, consuma alimentos integrais, leguminosas, frutas e verduras em abundância.
  • As carnes devem ser magras, evite alimentos industrializados, com alto teor de açúcar e de gordura, fibras e proteínas também são indispensáveis.
  • Os suplementos devem ser ingeridos como auxiliares nesse processo, a combinação exata dependerá da sua necessidade.
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Os mais indicados são os Whey Protein, Albumina, Creatina que são importantes fontes de proteínas que aumentam a saciedade. Os termogênicos, aumentam o gasto calórico e aceleram o metabolismo, entre eles, podemos citar, os suplementos a base de cafeína, chá-verde, óleo de cártamo, Ômega 3 e L-Carnitina.

Quem tem gordura no fígado pode tomar carnitina?

Suplementos para quem tem gordura acumulada no fígado Com o excesso de peso, resistência insulínica, aumento de triglicerídeos e colesterol, associados ou não à pressão alta, cerca de 25% das pessoas acabam desenvolvendo também esteatose hepática, um acúmulo de gordura no fígado.

Este excesso de gordura acumulada por tempo prolongado gera inflamação que, por sua vez, aumenta o risco de hepatite gordurosa, cirrose hepática e até câncer de fígado. O tratamento da envolve dieta com menos calorias e características antiinflamatórias, sem açúcares, aumento da atividade física e medicação para controle das co-morbidades (diabetes, resistência insulínica, etc).

Para proteger o fígado suplementos também são indicados, incluindo vitamina E vitamina E (800UI/dia) ou vitamina E (200 UI/dia) + silimarina (750mg) + L-carnitina (1g). A vitamina E possui atividade antioxidante, reduzindo as respostas inflamatórias no fígado.

Qual é o valor da L-carnitina?

O preço médio de l carnitina depende do que o produto oferece. Em média, um usuário conseguirá achar l carnitina por valores entre R$ 16,98 e R$ 149,99.

Qual melhor Termogenico para perda de peso?

Os termogênicos naturais mais conhecidos são o café, pimenta, gengibre, chá verde e a canela. Porém, outros alimentos também apresentam substâncias químicas que contribuem para o aceleramento do metabolismo, como o salmão e as proteínas ricas em ômega 3.

Para quem quer perder peso pode tomar creatina?

Quem quer emagrecer pode tomar creatina? – A creatina não tem atuação direta no emagrecimento, mas pode auxiliar no ganho de massa magra, atuando no processo saudável de perda de peso, Além disso, a substância tem baixo valor calórico e pode potencializar os treinos realizados com o objetivo de reduzir o peso corporal.

  1. Nesse contexto, a creatina pode contribuir para o desempenho de atividades físicas a partir da sua capacidade de fornecer energia para o organismo.
  2. A creatina ajuda a emagrecer no sentido de melhorar a capacidade muscular, o que gera mais hipertrofia e ganho de massa muscular.
  3. Quanto mais massa muscular, maior é o gasto calórico, então pode ajudar dessa forma também”, esclarece Rafael Castro.

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Qual a dosagem máxima de L-carnitina?

Pode-se concluir com o estudo que a dose mais indicada para administração de L-carnitina é de 3g diários. Doses maiores que 3g diários não causam maiores benefícios.

Quem pode prescrever L-carnitina?

O nutricionista pode prescrever suplementos? A Lei nº 8.234/1991 possibilita ao nutricionista a prescrição de suplementos nutricionais, necessários à complementação da dieta. Tal prescrição é regulamentada pela Resolução CFN nº 656/2020 (que dispõe sobre a prescrição dietética, pelo nutricionista, de suplementos alimentares e dá outras providências).

A norma estabelece que a prescrição dietética de suplementos alimentares pelo nutricionista inclui nutrientes, substâncias bioativas, enzimas, prebióticos, probióticos, produtos apícolas, como mel, própolis, geleia real e pólen, novos alimentos e novos ingredientes e outros autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa para comercialização, isolados ou combinados, bem como medicamentos isentos de prescrição à base de vitaminas e/ou minerais e/ou aminoácidos e/ou proteínas isolados ou associados entre si.

As normas que fundamentaram esta resolução estão disponíveis no art.2º da Resolução CFN nº 656/2020,

Quem tem pressão alta pode tomar carnitina?

Journal List Arq Bras Cardiol v.117(4); 2021 Oct PMC8528375

As a library, NLM provides access to scientific literature. Inclusion in an NLM database does not imply endorsement of, or agreement with, the contents by NLM or the National Institutes of Health. Learn more: PMC Disclaimer | PMC Copyright Notice Arq Bras Cardiol.2021 Oct; 117(4): 726–727.

  1. Full-text translation available in English,
  2. A carnitina é um nutriente não essencial, derivado de aminoácidos, e sua principal fonte alimentar são a carne vermelha, a carne de aves e os laticínios.
  3. Parte da carnitina pode ser produzida endogenamente a partir da lisina e da metionina, principalmente pelo fígado e rins.1 Age sobretudo como cofator enzimático para o transporte de ácidos graxos de cadeia longa do citoplasma para o interior da mitocôndria e subsequente degradação para betaoxidação, e trata-se de uma via muito importante para metabolismo energético.

Dessa forma, a carnitina é essencial como combustível para o músculo, e mais de 95% da substância é encontrada no músculo esquelético.1 Fígado, coração, cérebro e rins detêm o restante das reservas de carnitina corporal ou possuem condições para síntese, 1 e tal distribuição mostra a importância da carnitina nesses órgãos.

Estudos sobre a suplementação de L-carnitina estão sendo desenvolvidos na sarcopenia, 2 em doenças hepáticas, 3 na insuficiência cardíaca 4 e em doenças renais 5 e neurológicas.6, 7 A maioria dos estudos mostrou benefício da L-carnitina nos fatores de risco cardiovascular, e sua suplementação reduz hipertensão, hiperlipidemia, hiperglicemia, diabetes melito insulinodependente, resistência à insulina, obesidade, inflamação e estresse oxidativo.4, 8 – 12 Além de atenuar os fatores de risco para a aterosclerose, a suplementação de L-carnitina pode melhorar o metabolismo energético do coração “diabético”, por meio da manipulação dos grupos acetila e acila pela mitocôndria.

Desde que a L-carnitina é responsável por sua transferência através da membrana mitocondrial.13 Outro mecanismo proposto é o de que a suplementação de L-carnitina pode melhorar o microambiente inflamatório e oxidativo cardíaco causado pela hiperglicemia.14 Nesse sentido, um artigo de revisão sistemática e a metanálise de ensaios clínicos randomizados mostraram que a suplementação de L-carnitina foi associada a redução de PCR, (interleucina 6 (IL-6), fator de necrose tumoral α (TNF-α) e malondialdeído no plasma, e ao aumento das concentrações plasmáticas de superóxido dismutase.9 No que diz respeito à obesidade, observamos em revisão sistemática que a suplementação de L-carnitina reduziu peso corporal, índice de massa do corpo (IMC) e massa gorda, e a análise de subgrupo baseada na faixa de IMC basal dos participantes mostrou mais reduções em adultos com sobrepeso ou obesidade do que nos indivíduos com faixa de IMC normal.12 O artigo publicado na edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia tem como base obesidade, diabetes e inflamação.15 Os autores apresentaram resultados de estudo experimental, em que camundongos obesos com diabetes induzido receberam L-carnitina.

Foram avaliadas a proteína da quemerina e o receptor CMKLRI (do inglês chemokine like receptor 1 ) no soro e nos tecidos cardíaco e adiposo, outros marcadores inflamatórios além da resistência insulínica.15 A quemerina é uma nova adipocina que participa dos estágios iniciais da inflamação aguda e participa no desenvolvimento de hipertensão, progressão de lesões ateroscleróticas que possivelmente age por meio de seu receptor CMKLR1.16 Os autores conseguiram mostrar associação entre o consumo de L-carnitina e a redução dos valores de quemerina sérica nos tecidos cardíaco e adiposo em camundongos diabéticos tratados, além de reduzir valores de outros marcadores inflamatórios (IL 1β e TNF- α) após 4 semanas do tratamento.

Observou-se, também, que o grupo que sofreu a intervenção apresentou melhor perfil de resistência insulínica.15 A redução da quemerina e de outros marcadores inflamatórios podem estar mostrando a importância do processo inflamatório no coração diabético; entretanto, ainda é cedo para recomendar a suplementação de L-carnitina.

Quanto tempo antes do treino devo tomar carnitina?

A dose diária recomendada de L-Carnitina está entre as 2-3g, divididas entre duas a três doses ao dia. Pode ser consumida em diferentes momentos do dia, sendo o mais usual entre refeições. Usada como pré-treino, cerca de 30 a 60 minutos antes de treinar, é uma boa opção também.

Quanto tempo leva para a L-carnitina fazer efeito?

Aplicações clínicas da suplementação de L-carnitina

  • EVISÃO REVIEW
  • Aplicações clínicas da suplementação de L-carnitina
  • Clinical uses of L-carnitine supplementation
  • Christianne de Faria Coelho I, II, ; João Felipe Mota I ; Euclésio Bragrança I ; Roberto Carlos Burini I, III
  • I Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição, Faculdade de Medicina Botucatu, Universidade Estadual Paulista. Distrito de Rubião Júnior, s/n, 18618-970, Botucatu, SP, Brasil
  • II Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana Aplicada, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil
  • III Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista. Botucatu, SP, Brasil
  • RESUMO

A carnitina, uma amina quaternária (3-hidroxi-4-N-trimetilamino-butirato), é sintetizada no organismo (fígado, rins e cérebro) a partir de dois aminoácidos essenciais: lisina e metionina, exigindo para sua síntese a presença de ferro, ácido ascórbico, niacina e vitamina B 6,

  • Tem função fundamental na geração de energia pela célula, pois age nas reações transferidoras de ácidos graxos livres do citosol para mitocôndrias, facilitando sua oxidação e geração de adenosina Trifosfato.
  • A concentração orgânica de carnitina é resultado de processos metabólicos – como ingestão, biossíntese, transporte dentro e fora dos tecidos e excreção – que, quando alterados em função de diversas doenças, levam a um estado carencial de carnitina com prejuízos relacionados ao metabolismo de lipídeos.

A suplementação de L-carnitina pode aumentar o fluxo sangüíneo aos músculos devido também ao seu efeito vasodilatador e antioxidante, reduzindo algumas complicações de doenças isquêmicas, como a doença arterial coronariana, e as conseqüências da neuropatia diabética.

Por esse motivo, o objetivo do presente trabalho foi descrever possíveis benefícios da suplementação de carnitina nos indivíduos com necessidades especiais e susceptíveis a carências de carnitina, como os portadores de doenças renais, neuropatia diabética, síndrome da imunodefeciência adquirida e doenças cardiovasculares.

Termos de indexação: Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, doenças renais, carnitina, terapêutica. ABSTRACT Carnitine, a quaternary amine (3-hidroxy-4-n-trimethylaminobutyrate) is synthesized in the body (liver, kidney and brain) from lysine and methionine, two essential amino acids, in the presence of iron, ascorbate, niacin and vitamin B 6,

  1. Carnitine plays a central role in the cellular energy metabolism because it transports long-chain fatty acids from the cytosol to the mitochondria for oxidation and adenosine 5′-triphosphate generation.
  2. The organic concentration of carnitine is a result of several metabolic pathways such as ingestion, endogenous synthesis, transport and elimination, which may be altered by diseases leading to carnitine deficiency and impaired lipid metabolism.

In addition, supplementation with carnitine can raise the muscle blood flow by vasodilatation and antioxidant effects, reducing some of the complications of ischaemic diseases, such as coronary artery disease and the consequences of diabetic neuropathy.

Therefore, the purpose of this study was to describe the possible benefits of carnitine supplementation in subjects with special needs and susceptible to a carnitine deficit, such as renal diseases, diabetic neuropathy, Acquired Immunodeficiency Syndrome and cardiovascular diseases. Indexing terms: Acquired Immunodeficiency Syndrome, diabetes mellitus, cardiovascular diseases, kidney diseases, carnitine, therapeutics.

INTRODUÇÃO A carnitina (3-hidroxi-4-N-trimetilamino-butirato) é uma amina quaternária com função fundamental na geração de energia pela célula, pois age nas reações transferidoras de ácidos graxos livres de cadeia longa do citosol para mitocôndrias, facilitando sua oxidação e geração de adenosina trifosfato (ATP).

O aumento do fluxo de substratos através do Ciclo de Krebs poderia resultar em produção e utilização mais efetivas do oxigênio, além da melhora na capacidade de realizar tarefas físicas. A carnitina também tem sido freqüentemente utilizada como coadjuvante no tratamento de dislipidemias, uma vez que atua como um importante co-fator na oxidação de ácidos graxos de cadeia longa, aumentando a utilização de triglicerídeos para o fornecimento de energia 1,2,

É sintetizada no organismo a partir de dois aminoácidos essenciais, lisina e metionina, exigindo para sua síntese a presença de ferro, ácido ascórbico, niacina e vitamina B 6 1,2, A concentração orgânica de carnitina (aproximadamente 20g ou 120mmol) 1,2,3 é resultante de vários processos metabólicos, tais como ingestão, biossíntese, transporte dentro e fora dos tecidos e excreção.

  1. Além disso, por ser uma substância produzida no organismo em condições normais
  2. e com boa tolerabilidade, a suplementação de L-carnitina tem sido estudada em função de possíveis efeitos antioxidantes, tanto em indivíduos saudáveis quanto naqueles com necessidades especiais, como portadores de doenças isquêmicas e neuropatia diabética 4,5,
  3. Existe um número crescente de pesquisas envolvendo a suplementação de L-carnitina via oral, enteral ou endovenosa no tratamento de algumas complicações associadas à insuficiência renal crônica e AIDS 6-8,
  4. Em função do importante papel da carnitina em diversas áreas da medicina, este trabalho descreve os possíveis benefícios da suplementação de carnitina em condições clínicas específicas, tais como nas cardiopatias, doenças renais, AIDS e neuropatia diabética.
  5. IMPORTÂNCIA CLÍNICA DA SUPLEMENTAÇÃO
  6. Doenças cardiovasculares
  7. Pelo papel energético no mecanismo contrátil das células musculares cardíacas e regulador da concentração de ésteres de acil-CoA no miocárdio 9, a carnitina tem sido um importante coadjuvante no tratamento de afecções cardiovasculares.
  8. Isquemia do miocárdio: angina, infarto agudo do miocárdio (IAM) e insuficiência cardíaca

Em estudos clínicos e experimentais, observou-se que a isquemia cardíaca ocasiona rápida depleção de carnitina. Tal depleção, associada ao acúmulo de ésteres de acilcarnitina no miocárdio, pode levar a danos na membrana das células cardíacas e prejuízos na atividade elétrica e contrátil do coração 10,

Com o fluxo sangüíneo reduzido, o processo de produção de energia é limitado 11,12, É possível que a carnitina exógena exerça efeitos benéficos sobre a função cardíaca, prevenindo acúmulo de produtos tóxicos e reduções importantes no conteúdo intracelular de carnitina no miocárdio durante os episódios isquêmicos.

Assim, reduziria prejuízos na liberação de fosfatos de alta energia através do aumento da oxidação mitocondrial de ácidos graxos no coração, resultando na diminuição do dano ao miocárdio 9, Além de melhoras significativas no desempenho físico de pacientes com angina 9, alguns estudos demonstraram efeitos positivos na função cardíaca de pacientes suplementados com L-carnitina.

Iliceto et al.12 estudaram os efeitos da suplementação durante doze meses em 472 pacientes (239 com placebo e 233 suplementados) pós-infarto agudo do miocárdio e verificaram que o grupo que recebeu a L-carnitina teve menor dilatação ventricular esquerda; tal dilatação pode ser considerada um preditor de eventos cardíacos futuros.

Uma das falhas apontadas pelos autores do estudo foi a falta de dosagens dos níveis séricos e urinários de carnitina, embora rápida depleção tecidual e sérica e aumento da excreção urinária tenham sido demonstrados em estudos semelhantes. O infarto agudo do miocárdio, provocado também pela redução do suprimento sangüíneo ao coração, pode levar à insuficiência cardíaca, associada a defeitos na membrana sarcoplasmática do órgão.

  • Nesse sentido, Sethi et al.10 verificaram efeitos positivos da administração de L-propionil-carnitina na proteção da membrana sarcoplasmática das células miocárdicas, melhorando a insuficiência cardíaca de ratos após quatro semanas de tratamento.
  • Os efeitos benéficos observados foram atribuídos às propriedades antioxidantes da carnitina.

Doença arterial periférica A doença arterial periférica (DAP) é uma manifestação comum da aterosclerose que atinge a aorta e seus ramos, afetando aproximadamente 12% da população geral e 20% dos indivíduos idosos. Tem forte associação com outras doenças cardiovasculares e, por esse motivo, pacientes com DAP apresentam risco cardiovascular similar aos portadores de doença arterial coronariana 13,

  1. Nesses pacientes, o fluxo sangüíneo arterial é reduzido e incapaz de atender a demanda metabólica dos músculos em atividade, resultando em isquemia e sintomas como claudicação intermitente (dores nas coxas, nádegas e panturrilhas ao caminhar).
  2. Com isso, há prejuízo no desempenho em exercícios físicos e, dependendo da extensão da doença, na capacidade de realizar tarefas cotidianas 13-15,

Além do fluxo limitado, podem ocorrer anormalidades histológicas, neurais e metabólicas nos músculos esqueléticos desses pacientes. Terapias que influenciam no metabolismo muscular podem ser, portanto, efetivas para a melhora do desempenho 14,16,17, Na doença arterial periférica, são também observadas alterações nas concentrações de produtos do metabolismo oxidativo, incluindo acilcarnitinas.

Além disso, há redução de carnitina livre 18, Assim sendo, a suplementação de L-carnitina poderia ser benéfica, uma vez que é um agente metabólico capaz de aumentar a disponibilidade local de substratos produtores de energia 19, Estudos envolvendo a suplementação oral de L-carnitina e L-propionil-carnitna 15,16,19-22 demonstraram melhora significativa do consumo máximo de oxigênio, da distância máxima percorrida e do tempo de caminhada em indivíduos portadores de doença arterial periférica com diferentes graus de condicionamento quando comparados aos controles.

Além da melhora no desempenho da atividade física, o aumento da força muscular também é observado em indivíduos portadores de DAP depois de quatro semanas de suplementação (2g/dia) com propionil-L-carnitina 15, Strano et al.22 compararam o efeito da Propionil-L-Carnitina (500mg-3x/dia) com a Pentoxifilina (400mg-3x/dia) em pacientes com claudicação intermitente e observaram que a L-carnitina é bem tolerada, promove melhora dos sintomas de claudicação intermitente e aumento da distância máxima percorrida; embora os benefícios tenham sido observados apenas nos pacientes com prejuízos severos da capacidade funcional.

  1. A extensão e a variabilidade nas respostas dos grupos placebos têm sido a maior dificuldade dos estudos que avaliam os efeitos da suplementação sobre a capacidade física dos indivíduos.
  2. Em geral, os efeitos positivos observados também nesse grupo são atribuídos à repetição das tarefas motoras nos testes físicos (efeito do treinamento) e motivação dos indivíduos em relação à avaliação.

Doenças renais A doença renal em estágio final (EFDR) pode reduzir consideravelmente a capacidade funcional, qualidade e expectativa de vida dos pacientes 23, Nesse estágio, os pacientes podem necessitar, além do tratamento dietético, de diálise ou transplante renal.

Embora as concentrações de diversos componentes (eletrólitos e não-eletrólitos) no plasma e no líquido de diálise sejam suficientes para repor o necessário e eliminar os excessos, esse tipo de tratamento pode levar a perdas de alguns nutrientes importantes para o organismo, como as proteínas e, particularmente, a carnitina.

Em condições normais, os rins reabsorvem completamente a carnitina livre, sendo as perdas urinárias na forma de éster de carnitina e acilcarnitinas. Ao contrário, perdas de ambas (carnitina e acilcarnitinas) durante sessões de diálise levam a quedas acentuadas na concentração plasmática (aproximadamente 80%), sendo compensadas por meio da liberação de carnitina pelos músculos que, com o tempo, também se tornam depletados 7,23,24,

  1. Existe uma correlação negativa entre tempo de diálise e concentração de carnitina livre no organismo.
  2. Alguns pacientes particularmente submetidos à hemodiálise por longos períodos também podem desenvolver deficiência de carnitina por outras causas, como: redução da ingestão de carnitina ou dos aminoácidos precursores (lisina e metionina), má absorção intestinal, capacidade de síntese renal reduzida, transporte alterado, redução das atividades de enzimas do sistema carnitina e aumento das necessidades 7,24,25,

A carnitina é um importante co-fator no metabolismo intermediário. Assim, a redução das concentrações no organismo pode levar a sérios distúrbios celulares, incluindo prejuízos na oxidação de ácidos graxos e na produção energética, piora do perfil lipídico, acúmulo de produtos tóxicos do metabolismo de gorduras e inibição de algumas enzimas da via metabólica 26,

  • Essas anormalidades metabólicas podem causar alterações clínicas importantes como: fraqueza muscular e miopatia, perda de proteína corporal e caquexia, resistência insulínica e intolerância à glicose, anormalidades do metabolismo lipídico, anemia refratária ao tratamento com eritropoetina, cardiomiopatia e sintomas intradialíticos (cãibras, hipotensão e arritmia cardíaca) 24,27,
  • Em geral, pacientes com função cardíaca e pulmonar normais submetidos à hemodiálise apresentam redução do consumo máximo de oxigênio e da capacidade funcional, sugerindo defeitos no suprimento de oxigênio e energia muscular, possivelmente relacionados a baixas concentrações de carnitina 7,
  • Alguns estudos sugerem que a suplementação de carnitina na EFDR possa repor a carnitina perdida, reequilibrando o pool de carnitina na corrente sangüínea e, mais lentamente, nos músculos 24,
  • A suplementação de carnitina poderia melhorar o perfil hematológico de pacientes em hemodiálise pelo aumento do hematócrito e redução da utilização de eritropoetina 7 ; melhora da capacidade de exercício por aumentar ou manter a capacidade aeróbia e hipertrofia muscular 26 ; redução da ocorrência de cãibras 28 ; redução da percepção de fadiga e aumento da sensação de bem-estar e da qualidade de vida 27,
  • A melhora do perfil lipídico pela redução dos níveis de colesterol e triglicerídeos e o aumento da lipoproteína de alta densidade (HDL-c) foram documentados em alguns casos 23, embora os resultados ainda não sejam uniformes em virtude da variabilidade de protocolos de suplementação empregados nos estudos 7,
  • O Consenso Europeu sobre estado nutricional de pacientes submetidos à hemodiálise propõe que mais estudos sejam realizados em relação à suplementação de carnitina.

Em 2000, pesquisadores da Fundação Nacional do Rim (EUA) desenvolveram um guia clínico prático para o tratamento de pacientes urêmicos crônicos. No que se refere à suplementação de carnitina, os autores sugerem que poderia ser recomendada em situações em que os pacientes em diálise não respondem às terapias convencionais; ou seja, quando existem cãibras musculares persistentes, hipotensão durante a diálise, falta de energia que afeta a qualidade de vida, miopatias, cardiomiopatia e anemia, mesmo com altas doses de eritropoetina. O perfil plasmático de carnitina poderia ser utilizado como um guia, sendo que níveis subnormais de carnitina livre e uma razão elevada de acilcarnitina/carnitina livre (>0,6) poderiam indicar a necessidade de suplementação. Nesses casos, doses de carnitina (aproximadamente 20mg/kg de peso corporal) são recomendadas após cada sessão de diálise.

  1. A maioria dos estudos com pacientes submetidos à hemodiálise utilizam doses entre 5 e 100mg/kg administradas por via intravenosa, oral ou diálise 7,
  2. Em função da baixa disponibilidade da carnitina oral (5%-18%) e da falta de adesão ao tratamento pelos pacientes, há preferência pela administração intravenosa 2,
  3. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)
  4. O uso da terapia anti-retroviral, mais comumente dos inibidores de protease, está relacionado à síndrome da lipodistrofia, dislipidemias, adiposidade central e resistência insulínica em pacientes com AIDS 6,8,29, tornando-os sujeitos a complicações cardiovasculares prematuras 8,29,
  5. Para controle dos distúrbios lipídicos, tem sido proposto o uso das vastatinas 8 (hipolipemiantes), embora sua aplicação esteja relacionada à toxidade hepática.
  6. A L-carnitina facilita o transporte de ácidos graxos através da membrana mitocondrial para oxidação e pode melhorar as irregularidades no metabolismo lipídico de pacientes com AIDS, em substituição ao uso de vastatinas 8,

Concentrações séricas e musculares de carnitina são freqüentemente baixas nos indivíduos com HIV, devido à maior excreção renal, sepse, hipermetabolismo, efeito de citocinas, enteropatias, má absorção, dieta deficiente, ação de antibióticos e medicamentos anti-retrovirais.

  • Nesse sentido, a depleção de carnitina no sangue, nos tecidos periféricos e nas células mononucleares poderia ser um fator agravante dos distúrbios no metabolismo lipídico e das irregularidades na produção de citocinas (principal fator na progressão dos prejuízos das funções imunológicas), freqüentemente observados nos pacientes em uso de terapia anti-retroviral 6,8,
  • Irregularidades na produção de citocinas também estão associadas ao distúrbio lipídico, sendo a principal citocina envolvida o fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) que se encontra elevado na AIDS e provoca aumento de triglicérides pela inibição da lipase lipoprotéica, diminuindo a depuração dos quilomícrons e VLDL plasmáticos 6,
  • O tratamento com L-carnitina pode resultar em redução dos níveis de triglicerídeos plasmáticos por meio da modulação da ação do fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) 6,

Algumas vezes, pacientes infectados apresentam níveis séricos normais de carnitina. No entanto, esses níveis são significativamente menores nas células mononucleares quando comparados aos indivíduos saudáveis. Esse fato pode estar relacionado ao grau de apoptose nas células CD4 e CD8 31,

  1. Como os lipídeos são necessários para a proliferação de linfócitos e produção de citocinas, o aumento da função imune e a correção dos níveis de linfócitos pela suplementação de L-carnitina podem ser observados em indivíduos imunodeprimidos portadores de HIV 6,
  2. No entanto, embora a carnitina possa ser benéfica em indíviduos infectados pelo HIV-1 ou AIDS, seu uso ainda não é preconizado pela Sociedade Internacional de AIDS 29,
  3. Neuropatia diabética

Provavelmente, o principal mecanismo envolvido na patogênese da neuropatia periférica seria o aumento anormal da atividade da aldose redutase (enzima que converte glicose em sorbitol e frutose). Existe também a relação com anormalidades microvasculares que provocam diminuição do fluxo sangüíneo e hipóxia neural, alteração do metabolismo de ácidos graxos, estresse oxidativo e diminuição de fatores de crescimento para os neurônios e células Schwann 32,33,

A redução da disponibilidade de grupos acetil, necessários para síntese de estruturas fosfolipídicas, também está relacionada ao desenvolvimento da neuropatia diabética. Assim, pacientes com deficiência de acetil-L-carnitina podem apresentar danos na bainha de mielina 33, Avaliando a eficácia entre placebo, acetil-L-carnitina (ALC) e propionil-L-carnitina (PC) (500mg/kg/dia) durante dois meses, Cotter et al.4 verificaram que a suplementação em ratos proporcionou efeitos significativos sobre a prevenção da disfunção neural em relação ao grupo placebo, sem diferenças significativas entre os derivados da carnitina (ALC e PC).

Os efeitos benéficos da carnitina observados neste estudo foram relacionados ao aumento do fluxo sangüíneo provocado pela inibição da aldose redutase, ação antioxidante, transporte de ácidos graxos essenciais – w6 e da aminoguanidina. No entanto, os resultados devem ser analisados com cautela, pois os testes foram realizados com animais, o que dificulta a extrapolação para seres humanos.

  • O diagnóstico da polineuropatia diabética é feito principalmente por meio de exames clínicos e estudos de condução nervosa.
  • De Grandis & Minardi 33 realizaram um estudo com 294 pacientes portadores de neuropatia diabética.
  • A utilização de acetil-L-carnitina (2g/dia) durante um ano nesses pacientes promoveu aumento significativo nos parâmetros eletrofisiológicos (velocidade de condução neural) e importante diminuição dos sintomas de dor decorrentes da neuropatia.

De acordo com os autores, a L-carnitina poderia ser um fator protetor importante na neuropatia desenvolvida em indivíduos diabéticos, aumentando a perfusão endoneural, e estimulando a regeneração das fibras nervosas. Nesse estudo, os efeitos da suplementação de acetil-L-carnitina foram observados apenas nos indivíduos com algum sintoma clínico, como a dor.

  • DOSES E EFEITOS ADVERSOS
  • Embora ainda não exista recomendação de ingestão diária, a maior parte dos estudos em humanos utilizam doses entre 2 e 6g/dia de carnitina por períodos de dez dias a dez semanas, além de administrações agudas, sendo que as doses orais usualmente suplementadas variam entre 500 e 2000mg/dia.
  • Em uma ampla revisão acerca da suplementação com carnitina, Carretelli & Marconi 1 observaram que doses entre 1 a 6g/dia por até seis meses melhoraram consideravelmente as concentrações plasmáticas de carnitina, sem nenhum efeito adverso ou intoxicação nesses indivíduos.
  • Achados semelhantes foram observados nos estudos clínicos apresentados na presente revisão, com períodos similares ou maiores de suplementação, embora alguns casos isolados de cefaléia, náuseas e desconforto gástrico tenham sido relatados.
  • Em outro estudo 34, avaliando a segurança na administração de L-carnitina por 21 dias, não foram observadas modificações nos indicadores de função hepática (fosfatase alcalina, bilirrubina, alanina aminotranferase, aspartato aminotranferase e lactato desidrogenase) e renal (creatinina, uréia, ácido úrico) nem nas variáveis hematológicas (hematócrito, hemoglobina, neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos, basófilos, glicose, albumina, proteínas totais e minerais).
  • Considerando o fato de a carnitina estar sendo usada como medicamento, a possibilidade de efeitos colaterais e a falta de consenso científico sobre sua segurança e eficácia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 2003 concluiu que ela deve ter seu uso condicionado à supervisão médica e não se enquadra na área de alimentos.
  • PERSPECTIVAS FUTURAS

A carnitina é um composto endógeno com funções bem estabelecidas no metabolismo celular. No entanto, a escassez de dados conclusivos quanto aos efeitos benéficos da suplementação pode ser atribuída a algumas limitações metodológicas dos estudos.

  1. As pesquisas futuras deveriam diferenciar sexo, idade, grupo placebo e suplementado, graus de inabilidade física e identificar cuidadosamente pacientes com e sem deficiência de carnitina.
  2. Além disso, para a melhor interpretação dos resultados, os estudos deveriam coletar e integrar dados referentes à farmacologia da carnitina (dose, duração do tratamento, relação dose-resposta), efeitos bioquímicos e respostas fisiológicas.
  3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
  4. Inúmeras pesquisas ainda são direcionadas ao tratamento farmacológico de diversas doenças e pouca atenção tem sido dada às condutas nutricionais ou não farmacológicas que poderiam apresentar resultados similares ou superiores, além de outras vantagens como baixo custo e facilidade de obtenção e administração.
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A suplementação de carnitina é promissora, uma vez que não é onerosa e se mostra segura. A melhora das condições clínicas citadas nos estudos clínicos e experimentais, o aumento da tolerância ao exercício físico e a melhor qualidade e maior expectativa de vida dos portadores de enfermidades crônicas são observados, especialmente nos pacientes com baixos níveis sangüíneos e/ou teciduais de carnitina () e naqueles com prejuízos funcionais mais pronunciados.

  1. Ainda há controvérsias em relação ao uso de carnitina devido à falta de consistência nos resultados dos estudos em relação às respostas metabólicas.
  2. Além disso, existe uma variabilidade de soluções e dosagens utilizadas, protocolos e técnicas de análise.
  3. Assim sendo, mais pesquisas são necessárias no sentido de confirmar seus reais efeitos como agente ergogênico em situações clínicas específicas.

Recebido para publicação em 4 de dezembro de 2003 e aceito em 27 de setembro de 2004. : Aplicações clínicas da suplementação de L-carnitina

Qual o papel da carnitina no metabolismo?

A função primária da L-carnitina no organismo é facilitar a utilização de ácidos graxos para a produção de energia. A L-carnitina é responsável pelo transporte de ácidos graxos de cadeia longa para o interior da mitocôndria, onde sofrem a β-oxidação.

Porque não é eficaz a suplementação com L-carnitina?

ARTIGO ORIGINAL A suplementação de L-carnitina não promove alterações na taxa metabólica de repouso e na utilização dos substratos energéticos em indivíduos ativos The supplementation of L-carnitine does not promote alterations in the resting metabolic rate and in the use of energetic substrates in physically active individuals Christianne de Faria Coelho I ; João Felipe Mota II ; Fabrício César de Paula Ravagnani III ; Roberto Carlos Burini IV I Programa de Pós-graduação em Nutrição Humana Aplicada (Pronut), Universidade de São Paulo (USP). Universidade parao Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp), Campo Grande, MS, Brasil II Departamento de Fisiologia da Nutrição, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM). Departamento de Nutrição, Universidade São Francisco, Bragança Paulista, SP, Brasil III Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, MS, Brasil IV Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri), Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (Unesp) Correspondência Correspondência para: Christianne de Faria Coelho Rua Garcia Neto, 395 78065-050 – Cuiabá, MT, Brasil [email protected] RESUMO OBJETIVO: Avaliar o efeito da suplementação de L-carnitina, por 30 dias, sobre a taxa metabólica de repouso (TMR) e oxidação de ácidos graxos livres (AGL), em repouso e exercício. SUJEITOS E MÉTODOS: Vinte e um voluntários ativos (40 a 58 anos) com sobrepeso foram randomizados em dois grupos: suplementado (GS; N = 11; 1,8 g/dia de L-carnitina) e placebo (GP; N = 10; maltodextrina). Foi feita avaliação da ingestão calórica, antropometria, determinação da TMR, VO 2máx, quociente respiratório e AGL plasmáticos. RESULTADOS: Não houve diferença significativa na ingestão (-244,66 vs. -126,00 kcal/dia), composição corporal (-0,07 vs. -0,17 kg/m 2 ), TMR (0,06 vs. -0,02 kcal/ dia), quociente respiratório em repouso (3,69 vs. -1,01) e exercício (0,01 vs. -0,01) e VO 2máx (0,50 vs.1,25 mL/kg/min) para o grupo GS em relação ao GP. Houve aumento dos AGL em repouso no GP (0,27), porém sem diferenças no exercício para os grupos. CONCLUSÃO: Não houve efeito da L-carnitina em nenhuma das variáveis analisadas no estudo. Descritores: Exercício físico; suplementação; L-carnitina; composição corporal; ácidos graxos livres ABSTRACT PURPOSE: To investigate the effects of L-carnitine supplementation, over thirty days, on the resting metabolic rate (RMR) and oxidation of free fatty acids (FFA) under rested or exercised conditions. SUBJECTS AND METHODS: Twenty-one overweight active volunteers (40 to 58 years old) were randomized into two groups: supplemented (GS; N = 11; 1,8 g/day of L-carnitine) or placebo (GP; N = 10; maltodextrin). Caloric intake, anthropometry, RMR, VO 2max, respiratory exchange ratio and plasma FFA were measured. RESULTS: No significant changes were found in the caloric intake (-244,66 vs. -126,00 kcal/day), body composition (-0.07 vs. -0.17 kg/m 2 ), RMR (0.06 vs. -0.02 kcal/day), respiratory exchange ratio at rest (3.69 vs. -1.01) and exercise (0.01 vs. -0.01) or VO 2max (0.50 vs.1.25 mL/kg/min) between GS and GP. Plasma FFA levels were increased under resting conditions only in the GP group (0.27), but no significant changes were observed before or after physical activity in any of the groups. CONCLUSION: Supplementation with L-carnitine caused no changes in the variables analyzed in this study. Keywords: Exercise; supplementation; L-carnitine; body composition; free fatty acids INTRODUÇÃO O uso de suplementos nutricionais tem crescido ao longo das últimas décadas. Atletas e indivíduos fisicamente ativos acreditam no potencial ergogênico de diversas substâncias, sobretudo para a melhoria do desempenho físico e/ou estética corporal (1). Entre as substâncias que têm recebido grande atenção de pesquisadores, técnicos, atletas e demais indivíduos, destaca-se a carnitina. Por volta de 1955, a L-carnitina foi relacionada à oxidação de ácidos graxos (2) e, a partir da década de 1980, sua suplementação passou a ser recomendada para o tratamento de doenças associadas às concentrações diminuídas desta amina quartenária (3). Atualmente, a carnitina tem sido frequentemente utilizada por indivíduos ativos como coadjuvante na redução de gordura corporal, sendo usada comercialmente nos suplementos denominados termogênicos (1). Os possíveis efeitos termogênico e emagrecedor da substância baseiam-se no fato de que a L-carnitina atua nas reações de transferência dos ácidos graxos cadeia longa do citosol para a mitocôndria, facilitando a oxidação desses e a consequente geração de ATP (4-5). Assim, a hipótese proposta é de que a administração de carnitina poderia ter efeito, tanto no repouso quanto no exercício, sobre a utilização dos ácidos graxos livres pelo músculo, mudando dessa maneira a oxidação de substratos de carboidratos para lipídios, reduzindo o valor do quociente respiratório (QR) (2). Especificamente em relação ao exercício físico, a suplementação de L-carnitina poderia elevar os seus níveis musculares, aumentando assim a liberação de CoA livre e reduzindo a razão acetil-CoA/CoA livre nas mitocôndrias. A menor relação acetil-CoA/CoA estimularia a atividade da piruvato desidrogenase e aumentaria, dessa forma, o fluxo de substratos através do ciclo de Krebs e, como consequência, o VO 2máx (6). No entanto, todos os efeitos citados acima ainda são controversos, particularmente nos indivíduos ativos de idades mais avançadas. Logo, este trabalho tem como objetivo avaliar o efeito da suplementação de L-carnitina por quatro semanas sobre a taxa metabólica de repouso e a oxidação de ácidos graxos livres no estado de repouso e durante a prática de exercício físico aeróbico em indivíduos ativos com excesso de peso e obesidade. SUJEITOS E MÉTODOS Foram selecionados 30 indivíduos, acima de 40 anos (46 ± 5 anos), com diagnóstico de excesso de peso e obesidade (7), participantes há 12 semanas do programa de extensão universitária com exercícios físicos supervisionados e aconselhamento alimentar conduzidos pelo Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri) da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu. Os critérios de exclusão foram: indivíduos vegetarianos, mulheres com ciclos menstruais irregulares, portadores de doenças renais, digestivas e metabólicas, que faziam uso de hormônios ou similares e drogas que interferissem no metabolismo normal, além de corticoides, hipolipemiantes como estatinas e fibratos, diuréticos e suplementos vitamínicos e/ou minerálicos. O estudo cego e randomizado foi conduzido dentro dos padrões exigidos pela Declaração de Helsinki (1975), modificada em 1983 e aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu, Brasil (nº112/protocolo 209/2003). Todos os indivíduos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido informando sobre a proposta e os procedimentos do programa. O protocolo de exercícios físicos do projeto de extensão universitária foi constituído por exercícios aeróbicos, de resistência muscular localizada e flexibilidade, aplicados em cinco sessões semanais, em que o programa A foi realizado às segundas, quartas e sextas-feiras e o programa B, às terças e quintas-feiras, como se segue: Programa A: 10 minutos de alongamento e aquecimento articular; 40 minutos de caminhada (70% a 80% da frequência cardíaca máxima); 20 minutos de flexibilidade e equilíbrio; 10 minutos de relaxamento. Programa B: 10 minutos de alongamento e aquecimento articular; 30 minutos de resistência muscular localizada; 30 minutos de caminhada (70% a 80% da frequência cardíaca máxima); 10 minutos de relaxamento. Após 12 semanas de participação no projeto, os indivíduos foram randomizados em dois grupos, contendo cada grupo 7 homens e 8 mulheres. Ambos os grupos permaneceram seguindo o protocolo de exercícios físicos por mais quatro semanas acrescido de suplementação por via oral. O grupo suplementado (GS) foi composto por indivíduos que receberam cápsulas de L-carnitina em doses diárias de 1,8 g, fracionadas nos períodos manhã e tarde ou noite, em intervalo médio de oito horas, sendo um deles uma hora antes da prática de exercícios físicos aeróbicos. O grupo placebo (GP) foi composto por indivíduos que receberam cápsulas de composto de amido com a mesma quantidade e características organolépticas. Os grupos desconheciam o suplemento que estavam recebendo e todos os indivíduos foram orientados a ingerir as cápsulas (6 cápsulas/dia) com água ou suco de frutas. A dosagem e o período de suplementação seguiram o protocolo utilizado em outros estudos, sendo considerado seguro (8). Ambos os grupos foram submetidos a avaliações no início (M0) e final do experimento (M1). Entre M0 e M1 os sujeitos foram pesados e consultados em relação à adesão ao protocolo de exercícios e suplementação, bem como à ocorrência de efeitos adversos durante o experimento. No primeiro dia de teste e ao final do período experimental (últimos testes), os indivíduos foram submetidos à anamnese nutricional. Os participantes foram orientados a preencher registro dietético de três dias (dois dias na semana e um no domingo), com a finalidade de se conhecer a ingestão calórica (Virtual Nutri, versão 1.0) e verificar possíveis alterações alimentares no decorrer do experimento. A dieta deveria permanecer sem alterações nas quatro semanas de suplementação. Durante todo o experimento, a ingestão de água foi estimulada para adequada hidratação, pois foi constatado baixo consumo entre os indivíduos. O estímulo ocorreu por meio de orientações específicas sobre a importância e apresentação de estratégias de mensuração da ingestão, como a utilização de garrafas com registro de volume. Foram tomadas medidas de peso corporal e estatura para o cálculo do índice de massa corpórea (IMC) e posterior classificação dos indivíduos (7). A circunferência abdominal foi medida com fita métrica inextensível e inelástica e analisada de acordo com o sexo (9). Para estimar os valores de gordura percentual, foi utilizado o teste de impedância bioelétrica e a fórmula proposta por Gray e cols. (10). As concentrações de ácidos graxos livres (AGL) foram dosadas no M0 e M1, pela manhã, em repouso e após jejum de 12 horas e antes e após a realização do exercício físico em esteira rolante, durante 30 minutos, a 60% do consumo máximo de oxigênio (VO 2máx ). No período anterior ao exercício, a coleta sanguínea foi realizada após 1 hora da ingestão de uma refeição padrão, contendo aproximadamente 330 kcal (69% de carboidratos; 13% de proteínas e 17% de lipídios). Anteriormente a essa refeição, os indivíduos estavam em jejum de 4 horas. Para a determinação das concentrações de AGL, foi utilizado o método proposto por Novak (11). Para avaliação do consumo máximo de oxigênio (VO 2máx ), foi realizado teste ergoespirométrico em esteira rolante (modelo QMCTM 90), a partir de teste contínuo escalonado, com inclinação de 1%, velocidade inicial de 4,5 km/h e aumento de 0,5 km a cada minuto até a exaustão voluntária ou quando mais que um dos seguintes critérios fossem atingidos: aumento no VO 2 menor que 2 ml.kg -1,min -1 para o aumento na intensidade de exercício (platô); razão das trocas respiratórias maior que 1,1; frequência cardíaca máxima prevista para a idade fosse atingida (12). Para determinar a potência aeróbia máxima dos indivíduos, foi utilizada a classificação proposta pela American Heart Association (13). Para avaliação da TMR, os indivíduos estavam em jejum de 12 horas, sem exercícios físicos nas 24 horas prévias à avaliação, e permaneceram em decúbito dorsal durante 10 minutos pré-teste. Após esse período, a avaliação foi realizada durante 30 minutos. O volume de oxigênio consumido (VO 2 ) e o volume de gás carbônico produzido (VCO 2 ) foram analisados por calorimetria indireta. A partir desses valores foi calculada a taxa metabólica de repouso mediante a seguinte fórmula: TMR = (3,9 x VO 2 (L/min)) + (1,1 x VCO 2 (L/ min)) x 1440 (14). Para a quantificação do tipo de substrato oxidado em repouso e durante o exercício foi realizado o quociente respiratório (QR) expresso pela razão VCO 2 /VO 2 (15). Uma hora antes da realização do exercício, os indivíduos fizeram a refeição padrão descrita anteriormente. Todos os parâmetros respiratórios foram medidos continuamente em sistema de circuito aberto (modelo QMCTM 90 Metabolic Cart, Quinton ®, Bothell, USA) e a temperatura ambiente e a umidade relativa do ar foram mantidas entre 21ºC e 23ºC e 40% e 60%, respectivamente. Análise estatística Foi analisada a distribuição das variáveis por meio dos testes Shapiro-Wilk e Kolmogorov & Smirnov, e a análise de homocedasticidade das variâncias por meio do teste de Levene. Para a comparação dos dois grupos, nos dois momentos do estudo, foi realizado o teste t dependente para as variáveis paramétricas e Mann-Whitney U Test para as não paramétricas. Para o estudo das variações entre os momentos inicial e final (Δ), considerou-se o teste não paramétrico de Mann-Whitney. Para a comparação entre os grupos em diferentes momentos, foi realizada análise de variância por dois fatores (ANOVA two way ) e o teste post hoc de Scheffé para localizar o momento em que a diferença ocorreu. Os resultados foram processados em software STATISTICA for Windows (version 6.0, Statsoft, Tulsa, USA) e estão expressos sob a forma de média ± desvio-padrão (DP) ou mediana ± semiamplitude interquartílica. O nível de significância adotado para as análises foi o de 5%. RESULTADOS Dos 30 indivíduos que iniciaram o estudo, nove foram excluídos por não cumprirem satisfatoriamente o protocolo de exercício (frequência mínima de 3x/semana) e a suplementação de L-carnitina. Em relação à suplementação, uma mulher relatou efeitos indesejáveis como dores de cabeça e inchaço nas extremidades, sendo a suplementação interrompida. Duas mulheres desistiram do programa por problemas articulares. O grupo suplementado com L-carnitina foi composto por 5 homens e 6 mulheres, enquanto o grupo placebo foi composto por 4 homens e 6 mulheres. A tabela 1 mostra que ambos os grupos apresentaram excesso de peso, sendo GS classificado como excesso de peso e GP como obeso classe I, de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o IMC (7), porém sem diferença significativa entre os valores médios. Os grupos não se diferenciaram na circunferência de abdômen, na AGL em jejum, na TMR, na ingestão energética, no QR em repouso e durante a prática de exercício físico. Os valores de VO 2máx, em ambos os grupos, encontram-se abaixo do esperado para a idade, sendo estes classificados como baixa condição, segundo os critérios da American Heart Association (13). Assim, os grupos foram considerados homogêneos no momento inicial por não apresentarem diferenças significativas (p > 0,05) nos valores médios em nenhuma das variáveis estudadas ( Tabela 1 ). Após o período experimental, não houve variação significativa (p > 0,05) nos valores de IMC, e os dois grupos permaneceram na mesma classificação ( Tabela 2 ). O percentual de gordura corporal e a circunferência de abdômen também não apresentaram alterações significativas (p > 0,05) entre os grupos nos diferentes momentos. Em relação à ingestão energética, os grupos mantiveram o mesmo consumo de calorias do momento inicial. Além disso, a variação mediana (Δ) entre os momentos não diferiu entre os grupos para todas as variáveis citadas ( Tabela 2 ). As concentrações de AGL em jejum foram semelhantes (p > 0,05) em ambos os grupos nos diferentes momentos. Ao analisar as variações medianas dos grupos, foi observada diferença significativa ( Tabela 3 ). As concentrações de AGL, no pré e pós-exercício, não foram estatisticamente diferentes após a suplementação em GS e GP, e as respectivas variações também não diferiram (p < 0,05) entre os grupos ( Tabela 3 ). Apesar de a taxa metabólica de repouso (TMR) ter sofrido discreta redução em GS e aumento em GP, após o período experimental, esses resultados não foram significativos (p > 0,05) quando comparadas as variações entre os momentos e entre os grupos nos diferentes momentos (Tabela 3). Também não foram observadas variações significativas (p > 0,05) em relação ao quociente respiratório, tanto em repouso quanto em exercício, entre os momentos e grupos ( Tabela 3 ). Os valores de VO 2máx, expressos na tabela 3, apresentaram discreto aumento entre os momentos inicial e final, em ambos os grupos, porém sem variações significativas (p > 0,05). Em relação à variação percentual de VO 2máx dos grupos, não houve diferença significativa ( Tabela 3 ). DISCUSSÃO Na literatura, existem muitas divergências sobre os efeitos da suplementação de L-carnitina na oxidação de substratos energéticos. No presente estudo, não houve mudanças significativas na composição corporal, no quociente respiratório, na TMR e nas AGLs, sugerindo que a taxa metabólica e a oxidação de gorduras não tenham sido influenciadas pela suplementação de L-carnitina. No entanto, no GP foi observado aumento de 63,35% das concentrações de AGL, que poderia estar relacionado ao discreto aumento do VO 2máx (7,21%), apesar de não ser significante, mesmo quando comparado ao GS. Segundo Bassett e Howley (16), o treinamento aeróbico causa aumento nas atividades das enzimas mitocondriais, elevando a oxidação de lipídios. De acordo com Braun e Horton (17), em situações normais de repouso, não existem diferenças no turnover, oxidação de glicose e lipídios e quociente respiratório entre os sexos e nas diferentes fases do ciclo menstrual das mulheres, o que descarta possíveis influências dessas variáveis nos resultados obtidos. Os achados em relação à suplementação corroboram com os de Natali e cols. (18), que não encontraram diferenças significativas para os níveis circulantes de glicose, lactato, piruvato, ácidos graxos livres, triglicerídios, glicerol e β-hidroxibutirato no estado de repouso após infusão de L-carnitina ou salina em jovens de ambos os sexos. Enquanto no estudo de Gorostiaga e cols. (19), com o objetivo de avaliar o aumento da oxidação de ácidos graxos em repouso, tenha encontrado resultados positivos com doses semelhantes à do presente estudo (aproximadamente 2 gramas/dia), outros, utilizando infusão intravenosa de carnitina (3 g) (17), doses inferiores e semelhantes (20-22), ou doses superiores (4 a 6 g/dia), não confirmaram tais achados (23-24). Recentemente, Lee e cols. (25) verificaram por biópsia muscular que a suplementação de L-carnitina (4 g/dia) não alterou a expressão gênica da proteína ligadora de ácido graxo (FABPc), indicadora da capacidade de oxidação de ácidos graxos no músculo, nem a atividade da β-hidroxiacil CoA desidrogenase. Em repouso, aproximadamente 70% dos ácidos graxos liberados na circulação retornam aos triacilgliceróis em vez de serem oxidados. Nesse caso, o aumento da concentração de carnitina na circulação não teria efeitos adicionais sobre a oxidação de gorduras, uma vez que o fator limitante da oxidação não está ligado à disponibilidade de substratos para a oxidação (26). Além do repouso, a carnitina poderia ser útil como suplemento nas situações em que os lipídios sejam usados predominantemente como fonte energética e este-jam disponíveis, como ocorre nos exercícios de baixa a moderada intensidade (27). No entanto, após as sessões de exercício moderado (60% do VO 2máx ) no presente estudo, os níveis plasmáticos de AGLs aumentaram cerca de 66% e 25% acima dos níveis de repouso para GS e 39% e 77% para GP nos dois momentos, respectivamente. Embora os aumentos tenham sido maiores para GP, as diferenças não foram significativas entre os momentos para o mesmo grupo, nem entre os grupos suplementados. Após o período experimental, o delta foi menor para o GS, demonstrando que a suplementação de L-carnitina não aumentou a mobilização de gordura do tecido adiposo. Alterações na oxidação de gorduras e da taxa metabólica de repouso poderiam ser decorrentes de mudanças na composição corporal. Todavia, não houve alteração da composição corporal no presente estudo, corroborando com os achados de outros autores. Villani e cols. (24) observaram que, em mulheres na pré-menopausa com excesso de gordura corporal, a suplementação de L-carnitina (4 g/dia), acompanhada de exercícios físicos de moderada intensidade, durante oito semanas, não alterou significativamente o peso corporal, percentual de gordura e de massa corporal magra das participantes do estudo. Em contrapartida, Pistone e cols. (28) avaliaram o efeito da suplementação de L-carnitina (2 g/dia) associado à prática de atividade física durante 30 dias sobre a massa muscular e gordura corporal de idosos. Os autores observaram modificações significativas (p < 0,05) na massa gorda e na massa muscular respectivamente (-3,1 kg e + 2,1 kg) quando comparadas ao placebo (-0,5 kg e +0,2 kg). Já em 2005, Broad e cols. (29), em estudo randomizado, duplo-cego, placebo-controlado e crossover, verificaram que a suplementação com 3 gramas por dia de L-carnitina L-tartarato (~2 g de L-carnitina/dia), durante quatro semanas, não tem efeito sobre oxidação de substratos energéticos ou no desempenho durante o exercício. É descrito que os níveis teciduais e séricos de carnitina sofrem declínios com o envelhecimento em humanos e animais, em associação à perda de massa muscular. Logo, quanto maior for essa perda, menores serão as concentrações de L-carnitina. Constantin-Teodosiu e cols. (30) demonstraram que as concentrações plasmáticas de carnitina livre correlacionaram-se inversamente com a idade em mulheres. De maneira oposta e apesar de não estar claramente estabelecido, especula-se que indivíduos obesos apresentem maiores concentrações de carnitina em relação àqueles com IMC normal. Harper e cols. (31) observaram, em tecidos obtidos por biópsia de fígado e músculo esquelético, que a concentração de carnitina livre, em obesos mórbidos, era duas vezes maior quando comparada ao grupo controle (IMC < 25 kg/m 2 ). Os autores sugerem que esse aumento do conteúdo de carnitina ocorre predominantemente em situações de alto turnover de ácidos graxos, como, por exemplo, na obesidade. Uma das hipóteses para explicar a ausência de efeitos positivos sobre a composição corporal do presente estudo, à semelhança do estudo de Villani e cols. (24), seria a presença de concentrações normais musculares de carnitina nos indivíduos participantes. Em ambos os estudos, foram excluídos indivíduos vegetarianos, pois se sabe que a carnitina, além de seus precursores lisina e metionina, está presente em maiores quantidades nos alimentos de origem animal. Todavia, não foram realizadas dosagem sérica ou quantificação muscular de carnitina, o que pode ser uma limitação desse estudo. Outra questão importante é a relação entre a suplementação de L-carnitina e o tempo necessário para aumentar seus estoques musculares. De acordo com Vukovich e cols. (23), se a suplementação de L-carnitina for capaz de aumentar a concentração intramuscular desta, é possível que a oxidação de lipídios também seja maior. Dessa maneira, um período superior de suplementação poderia aumentar essa oxidação, podendo ser uma limitação desse estudo. Todavia, poucos estudos em humanos ou animais encontraram aumento significativo nas concentrações musculares de carnitina em períodos maiores que quatro semanas (6). Tornopolsky e cols. (32) submeteram seis homens e seis mulheres treinados à corrida em esteira rolante a 65% do VO 2máx com o objetivo de determinar a influência do gênero sobre a utilização de substratos. Após 30 minutos do teste, as concentrações de AGLs permaneceram constantes, sem diferenças significativas para os sexos, embora o QR das mulheres fosse significativamente menor do que o dos homens. Os autores sugerem que os valores de AGLs permaneceram inalterados em função da grande utilização de TGL intramusculares dos indivíduos treinados e principalmente do sexo feminino. Na intensidade de exercício, executada no presente estudo, a participação dos lipídios para o fornecimento de energia foi de 19,3%, observada a partir dos valores de QR (0,94) para G1 e G2 no M0. Após o período experimental, a participação dos lipídios para o fornecimento de energia foi de 12,8% para ambos os grupos, demonstrando ligeira redução da oxidação de gorduras, embora não significativa. Esses achados confirmam os encontrados por outros autores (23,33). Segundo Cerreteli e Marconi (34) e Stephens e cols. (5), a suplementação de L-carnitina poderia ter efeitos indiretos sobre o VO 2máx, por meio da redução da massa corporal gorda e diretamente pelo aumento da disponibilidade e fluxo de substratos energéticos ao ciclo de Krebs, aumento da atividade de enzimas do ciclo de Krebs como piruvato desidrogenase, carnitina palmitoiltransferase e de enzimas da cadeia transportadora de elétrons. O aumento da atividade dessas enzimas potencializaria o fluxo de substratos energéticos para manutenção do " pool " de CoA livre e produção máxima de ATP e possivelmente da potência aeróbia máxima (expressa pelo VO 2máx ). O estudo realizado por Galloway e Broad (35) mostrou, em 14 homens ativos, que a suplementação de carnitina (2 g/dia) aumentou a utilização de gordura e o VO 2máx após 6 semanas, retornando ao basal após quatro semanas de " wash-out ". Não houve modificação da composição corporal nesse período. De maneira semelhante, Wyss e cols. (27) avaliaram os efeitos da suplementação de L-carnitina (3 g/dia) durante sete dias sobre o VO 2máx em condições de hipóxia e normóxia em 7 homens saudáveis. O consumo máximo de oxigênio foi menor na hipóxia, mas sem diferenças significativas para os dois tratamentos (carnitina e placebo). Recentes estudos controlados sugerem que a suplementação de L-carnitina não produz efeitos sobre o VO 2máx (29,36). A eficácia da L-carnitina no aumento do VO 2máx, na maioria das vezes, foi demonstrada apenas por estudos com portadores de doenças cardiovasculares ou renais, os quais apresentavam baixa capacidade funcional (3). Em suma, verificou-se que a suplementação oral de L-carnitina, por quatro semanas, não promoveu alterações sobre a composição corporal e a oxidação de ácidos graxos livres no estado de repouso e durante a prática de exercício físico aeróbico em indivíduos com excesso de peso e obesidade. Desse modo, conclui-se que a suplementação de L-carnitina, nesse tipo de população, é ineficaz na perda de peso, no gasto energético, no uso diferenciado de substratos energéticos e na potência aeróbia. Declaração: os autores declaram não haver conflitos de interesse científico neste estudo. Recebido em 16/Abr/2009 Aceito em 30/Out/2009

Qual a diferença entre carnitina e creatina?

A creatina parece estar relacionada com aumento do desempenho em exercícios intermitentes de alta intensidade, a carnitina com a melhora da capacidade aeróbia estimulando a utilização da gordura como substrato energético durante os exercícios de longa duração e o bicarbonato com o aumento do pH sanguíneo prorrogando a